2 de julho: 200 anos da Independência do Brasil na Bahia

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Foto: Elói Corrêa/GOVBA

Veja a história de mulheres que se destacaram na luta pela independência

É celebrado, neste domingo (2/7), os 200 anos da Independência do Brasil na Bahia. A data conta com manifestações populares em Salvador e celebra a participação do povo baiano na expulsão das tropas portuguesas do Brasil em 2 de julho de 1823, quando a então Província da Bahia aderiu ao movimento da independência brasileira. Segundo os historiadores Ricardo Carvalho e Lina Aras, é impossível detalhar a importância do Dois de Julho sem abordar o papel das mulheres no movimento. 

Carvalho detalha que a figura de Maria Quitéria, uma mulher que se vestiu de homem para compor o exército baiano na expulsão dos portugueses, é frequentemente comparada a história de Mulan, personagem da Disney — em que uma garota também finge ser homem para lutar em uma guerra.

“(É) a Mulan brasileira. Mesmo à revelia dos pais, ela consegue se disfarçar de homem, usar a farda de um cunhado e adotar o nome fictício de soldado Medeiros”, explica.

Nascida em 1792, Maria Quitéria cresceu em uma região conhecida como São José da Itapororoca (atual cidade “Maria Quitéria”, a 129 km de Salvador). Seu pai, Gonçalo, era um pecuarista. A mãe dela morreu quando Maria Quitéria ainda era adolescente.

“Quitéria desenvolveu habilidades necessárias a uma vida de combate”, conta o historiador. “Em 1822, ela ouviu notícias sobre a guerra de independência da Bahia e resolveu partir para o campo de batalha”, detalha o historiador.

Já em ação, a primeira missão de Maria Quitéria foi organizar a defesa da ilha de Maré, na Baía de Todos os Santos e, logo depois derrotar os portugueses na Batalha de Pirajá, em Salvador. Essas estratégias visaram impedir a entrada das tropas inimigas pelo mar e por terra.

Após oficialização da independência do Brasil na Bahia, em Dois de Julho de 1823, o historiador Ricardo Carvalho lembra que Maria Quitéria foi recebida pelo imperador D. Pedro I como heroína da guerra de independência. “Como reconhecimento, ela ganhou o título de Alferes dado por Dom Pedro e recebeu um soldo até o final da vida”, afirma Carvalho. 

Mas vale lembrar: Maria Quitéria não foi a única heroína da independência do Brasil.

Maria Felipa e Joana Angélica

Ao lado de Maria Quitéria, Maria Felipa também está no livro de heróis nacionais pela participação na luta de expulsão dos portugueses. Nascida na ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, ela era negra e escrava liberta. Maria Felipa liderou, em janeiro de 1823, um grupo de mulheres para derrotar soldados e queimar embarcações portuguesas.

Figura mártir da independência, a freira Joana Angélica, segundo o professor Carvalho, morreu em defesa dos brasileiros. Em 1822, ela reagiu à invasão das tropas portuguesas ao Convento da Lapa, em Salvador, em foi assassinada com um golpe de baioneta na cabeça.   

Mulheres na história

Para Lina Aras, historiadora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), relembrar a participação feminina na independência é importante para incluir mulheres na reprodução de fatos históricos.

“Muitas mulheres foram silenciadas, elas sequer aparecem (na história do Brasil). Quando falamos sobre o Dois de Julho, levantamos discussões sobre a necessidade de falar de mulheres em cada contexto histórico”, defende.

A historiadora também explicou que, além das heroínas citadas, a participação feminina no Dois de Julho deve considerar as mulheres anônimas. “As mulheres participaram da independência de várias formas, como em vigia da tropa inimiga e na alimentação dos soldados brasileiros”.       

Segundo Lina, relembrar o Dois de Julho sob o olhar feminino perpassa pela ideia de que as mulheres devem ser autônomas e responsáveis por suas próprias decisões. “A autonomia para defender seus direitos e seguir seus sonhos”, indica a historiadora. 

(Correio Braziliense)