O ano era 2008. O ex-prefeito de Santa Maria da Boa Vista, Noé Barros, completava 80 anos e a cidade estava em festa. No evento realizado por amigos e familiares, chegava Marco Maciel. Estava acompanhado do ex-deputado Guilherme Coelho e cumprimentava a todos com muita atenção. Olhava nos olhos, ouvia calmamente a conversa de cada admirador presente no local.
Atitudes como essa demonstram, de fato, o perfil de um grande líder. Exatamente como dizia o eterno deputado Osvaldo Coelho, também conhecido por sempre ouvir as demandas da população sem pressa, sem hora para acabar. Hoje (21), é Marco Maciel que completa 80 anos de vida. Muitos deles, sem descanso, dedicados à boa política.
Quase presidente
Com seu currículo impecável, MM protagonizou momentos cruciais para o sucesso da redemocratização do Brasil. Egresso do movimento estudantil no início dos anos 60, ele entrou na Arena, partido de sustentação da ditadura militar, sendo eleito deputado estadual e federal.
Porém, no declínio desse modelo de gestão, ele defendeu abertamente a volta da democracia e chegou a ser cogitado como alternativa civil à presidência do general João Figueiredo (1979-1985). Depois disso, Maciel rompeu com o PDS, sucessor da Arena, ajudando a criar o PFL, que se alinhou com Tancredo Neves contra Paulo Maluf na eleição indireta para suceder Figueiredo. Nessa época, era presidente da Câmara.
Marco Maciel foi ainda ministro da Educação e Cultura, ministro-chefe do Gabinete da Presidência da República, senador por três mandatos, governador de Pernambuco e por duas vezes vice-presidente do Brasil.
Nesse cargo inclusive, foi extremamente elogiado. Não apenas sobre seu perfil discreto, mas pela articulação nos bastidores e manutenção da base aliada ao governo Fernando Henrique Cardoso.
Biografia
Na biografia escrita pelo jornalista e comentarista do Nossa Voz, Ângelo Castelo Branco, o exercício da política como sacerdócio é facilmente percebido. A lição foi aprendida com o pai, José do Rego Maciel, ex-prefeito do Recife e ex-deputado federal. “Marco Maciel é um ser político, dedicado à República. Ainda jovem o pai lhe disse: ‘Política é sacerdócio. Quando abraçar a carreira política, esqueça outra atividade na sua vida’ e assim Marco Antônio o fez”, contou o autor do livro “Marco Maciel: um artífice do entendimento”, à Folha de Pernambuco. Castelo Branco, foi Secretário de Imprensa de Maciel.
Na publicação também está transcrito um importante capítulo da história do pensamento político brasileiro contemporâneo: o Compromisso com a Nação. “A construção desse documento ensejou o apoio pluripartidário à candidatura de Tancredo Neves e José Sarney. O Compromisso inspirou a transição do Regime Militar à redemocratização sem derramamento de sangue”, relatou.
Alzheimer
Infelizmente, toda essa genialidade se calou na luta contra a doença neurodegenerativa. Há alguns anos, Marco Mariel vive sob os cuidados de uma equipe de saúde coordenada por sua esposa, Ana Maria, com quem está casado desde 1967.
Ela inclusive veio a público em 21 de setembro do ano passado, dia mundial da conscientização sobre o Alzheimer, que acomete principalmente idosos, sem fazer distinção de classe social. “As pessoas têm preconceito com o Alzheimer. Acham que a pessoa começa a falar um monte de bobagem e se desliga do mundo. Com meu marido não foi assim. Ele continua sendo o mesmo homem educado com todos”, disse Ana Maria ao jornal Correio Braziliense.