Covid-19: 86% dos doentes são assintomáticos ou têm falsos sinais de gripe

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Leandro Santana/ DP

Começaram assintomáticos os dois primeiros casos de coronavírus de Pernambuco, de um casal que veio de viagem do exterior e foi submetido a isolamento hospitalar. Sem sinal claro, a mãe de um deles, uma senhora de 97 anos, acabou infectada pelo coronavírus. Esta semana, uma jovem advogada do bairro de Boa Viagem, no Recife, anunciou, em conta pessoal privada no Instagram, que havia recebido o teste positivo para a Codiv-19. No relato sobre o contágio, explicou: “Venho esclarecer que adquiri a doença com uma pessoa que estava assintomática, ele não sabia que estava com coronavírus, muito menos eu”. “Desconfiamos depois do aparecimento de sintomas fortes e desde então estamos em isolamento absoluto (…)”.

Aí está o perigo maior das transmissões e a sustentação para as cobranças das autoridades recomendando que as pessoas se isolem socialmente para evitar um quadro mais caótico. Muitas podem estar com coronavírus, indo à praia ou mantendo suas rotinas de trabalho e sequer sabem do risco que oferecem porque apresentam sintomas leves da infecção – falseando uma gripe, ou sem ter nenhum indicativo do novo coronavírus. O vírus demora em média 6,6 dias para se mostrar – quando o faz.

Divulgado esta semana, o primeiro estudo sobre a linha endêmica da China mostra que 86% das infecções por coronavírus não foram diagnosticadas por ausência de sintomas ou pela semelhança dos sintomas do coronavírus com quadros de síndromes gripais simples. A transmissão desses pacientes assintomáticos chegou a 55%. Os achados científicos finalizam mostrando o caminho traçado até o estrago atual visto na saúde pública mundial provocado pela pandemia: 79% dos pacientes registrados, catalogados, foram contaminados pelos assintomáticos. O estudo foi coordenado pela Faculdade de Medicina do Imperial College de Londres e contou com instituições parceiras. Tomou como base dados de mobilidade, em especial os de viajantes que transitaram até o dia 23 de janeiro de 2020. “A estimativa da prevalência e contagiosidade de novas infecções por coronavírus não documentadas é crítica para a compreensão da prevalência geral e do potencial pandêmico dessa doença”, diz o documento. A revista Science publicou segunda-feira passada artigo tratando da pesquisa.

Nesta sexta-feira, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgaram a estimativa do risco de disseminação da epidemia da Covid-19 no Brasil. Recife aparece entre os locais mais ameaçados, ao lado de Salvador, na Bahia, e dos centros metropolitanos do Sul e Sudeste. Os resultados integram o relatório Estimativa de risco de espalhamento da Covid-19 no Brasil e o impacto no sistema de saúde e população por microrregião. Toma como partida a exportação de casos dos dois maiores centros urbanos do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Com uma diferença da China – a análise brasileira lida com o futuro.

“O que mais me preocupa é a taxa de transmissão deste vírus, que só perde hoje para o sarampo. E é difícil falar em taxa de transmissão precisa porque a grande dificuldade está nos casos assintomáticos. Cientistas no mundo inteiro estão debruçados nisso para entender o que explica a ausência de sintomas”, diz o virologista Ernesto Marques Jr, em entrevista ao Diario dos Estados Unidos, por telefone. Professor associado da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, Estados Unidos, lotado no departamento de doenças infecciosas, pesquisador do departamento de virologia da Fiocruz, ele prevê que cerca de 60% ou 70% da população vai se contaminar. O que se faz agora é “como uma troca de pneu com carro andando”. É a contenção para que a população mundial não se contamine “todos de uma vez”.

O virologista reforça o alerta para se evitar contato social, perder o medo e ser racional mudando o hábito de higiene e conclui: “É lastimável, mas não é o fim do mundo. As pessoas precisam ter consciência e ir tentando tocar a vida da melhor forma possível.” (Com informações DP)