Em mais uma cartada para tentar provar a inocência de Marcelo da Silva, réu confesso pelo assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, os advogados de defesa convidaram o famoso médico legista George Samuel Sanguinetti para atuar na produção de um parecer questionando provas técnicas que fazem parte do processo.
Sanguinetti ficou conhecido nacionalmente no final da década de 1990, após apontar supostas falhas nas investigações da morte empresário Paulo César Farias, o PC Farias, e da namorada, Suzana Marcolino.
PC Farias foi tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1989. O casal foi encontrado morto numa casa de praia em 1996. Na época, as provas apontaram que Suzana matou PC por ciúmes e depois cometeu suicídio. Porém, Sanguinetti, que não fazia parte das investigações oficiais, afirmou que houve um duplo assassinato – citando indícios de lesões no corpo de Suzana.
Anos mais tarde, Sanguinetti voltou à mídia para questionar o resultado das investigações do assassinato da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, em São Paulo. A polícia concluiu que a madrasta, Anna Jatobá tentou esganar a criança e o pai, Alexandre Nardoni, jogou a filha pela janela do apartamento do casal após uma discussão. Já o médico legista afirmou que discordava – levantando a tese de uma “terceira pessoa” na cena do crime.
Agora, o médico legista alagoano, mas com formação na Universidade Federal de Pernambuco, ressurge em mais um caso cercado de dúvidas da sociedade. Nesta segunda-feira (06), a Justiça deferiu um requerimento feito pela defesa do acusado de matar Beatriz autorizando a habilitação de Sanguinetti como assistente técnico.
A Justiça deu um prazo de 20 dias para que o médico legista apresente o parecer técnico sobre a perícia confeccionada pelos profissionais do Instituto de Criminalística de Pernambuco. A tendência é que Sanguinetti questione o resultado do exame de DNA, obtido a partir das amostras coletadas na faca usada no crime, que apontou Marcelo da Silva como o autor da morte de Beatriz.
Vale lembrar, no entanto, que, além da prova material, o acusado confessou o crime em depoimento gravado pela polícia. Ainda assim, a defesa dele – que só assumiu o caso após a confissão – tenta produzir teses contrárias às provas dos autos.
Após a conclusão do prazo dado ao médico legista, o Ministério Público e os advogados do réu terão que apresentar as alegações finais.
Com isso, a juíza Elane Brandão Ribeiro decidirá se Marcelo da Silva irá a júri popular pelo crime de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, com emprego de meio cruel e mediante dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima).
RÉU FICOU EM SILÊNCIO NA AUDIÊNCIA DO CASO BEATRIZ
Em 15 de dezembro de 2022, durante audiência de instrução e julgamento do Caso Beatriz, Marcelo da Silva optou pelo silêncio no interrogatório – por orientação do advogado dele. O réu está no Presídio de Igarassu, no Grande Recife.
Em depoimento à polícia, quando foi identificado, Marcelo relatou que havia entrado no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ocorria uma festa de formatura, na noite de 10 de dezembro de 2015, para conseguir dinheiro.
Beatriz, que havia saído da quadra esportiva para beber água, teria começado a gritar ao perceber a presença do acusado próximo a ela. Ele, então, teria levado a menina até uma sala isolada, onde praticou o crime. Ele contou que fez isso para que ela parasse de gritar.
A descoberta do assassino ocorreu duas semanas após os pais de Beatriz caminharem por 23 dias, de Petrolina até o Recife, para cobrar justiça. A caminhada, que encontrou apoiadores em todas as cidades, teve repercussão nacional e expôs a demora da polícia para solucionar o crime.
Além da ouvida do acusado, outras provas, como uma reprodução simulada na instituição de ensino, foram produzidas para a conclusão das investigações.
(JC)