O mundo mudou e afetou os jornais 

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Por Ângelo Castelo Branco 

 O advento do mundo digital e também das tecnologias de informação instantânea disponibilizadas pelas redes sociais afetaram drasticamente o modelo secular do jornalismo. 

A fuga da propaganda para o mundo digital causou danos econômicos irreparáveis às empresas jornalísticas com repercussão no segmento das agências de publicidade. 

A tecnologia digital substituiu o papel e mudou o conceito no processo de oferta da informação. A adaptação à nova realidade global de produção e entrega de notícias tornou-se um enorme desafio para a maioria dos jornais impressos. Sobretudo para os periódicos de regiões economicamente vulneráveis onde sumiram as verbas de propaganda que mantinham o equilíbrio da despesa operacional. 

Parte do dinheiro de propaganda migrou para a mídia digital e essa fuga empobreceu e quebrou a grande maioria dos jornais regionais. Isso explica porque muitas empresas foram obrigadas a dispensar profissionais de peso. As adaptações ao novo ciclo das tecnologias da informação estão em curso. 

Os grandes jornais investiram em assinaturas de versões digitais e muitos cancelaram suas edições impressas eliminando assim os gastos com o processo industrial. O sumiço de jornais impressos traz vantagens ambientais na medida em que dispensa o papel fabricado a partir do sacrifício de árvores ( as grandes empresas fabricantes de papel mantêm áreas de replantio ). 

O jornal digital elimina também os custos de logística na distribuição aos pontos de venda e na entrega de assinaturas. A edição digital flexibiliza o número de páginas que pode ser alterado a cada dia sem problemas econômicos. 

Esse cenário, que há poucos anos mais se ajustaria a uma ficção científica, causou alguns desconfortos a leitores. Muitos reagem à leitura de jornais em telinhas de celulares ou notebooks. Não se adaptam. Preferem o velho e bom jornal no papel que depois de lido pode ser usado para embrulhar sapatos velhos como dizia um pensador espanhol. 

Em maior ou menor escala a mídia eletrônica igualmente se depara com novos desafios. A TV viu escoar pelo ralo o seu poderoso trunfo de ofertar imagens em edições eletivas de telejornalismo ou em inserções extraordinárias. Atualmente qualquer imagem de fato relevante de qualquer parte do mundo chega na palma da mão das pessoas em menos de 45 segundos após a primeira postagem. Sem repórter e sem diretor de edição. 

Essa Instantaneidade ao alcance de todos subtraiu as chances do “furo”, antigo sonho de consumo de jornais e repórteres que vendiam milhares de exemplares a mais nas bancas quando estampavam uma informação com exclusividade na frente dos concorrentes. Hoje em dia, salvo as colunas e artigos de opinião, cem por cento das notícias veiculadas em jornais já foram consumidas muito antes pelas telinhas de celulares. 

O mundo mudou. De novo. Felizmente a minha geração está acostumada com essas mudanças.

Ângelo Castelo Branco é jornalista, advogado, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.

(Foto: Pixabay)