A comunidade de Petrolina se reuniu neste domingo à tarde para se despedir de Rafael Coelho, figura querida da cidade e administrador do Curtume Coelho, que faleceu no último sábado. O velório, realizado no próprio curtume, foi marcado por homenagens emocionantes de familiares e amigos, que destacaram a bondade, a generosidade, a força e a alegria de Rafael.
Davi Coelho, filho de Rafael, em um discurso comovente, relembrou a trajetória do pai e o legado que ele deixa.
“Meu pai em um dos seus mais memoráveis discursos, você começava com Maktub. Quem era me significava estava escrito hoje a minha vez de dizer Maktub Rafael Araújo de Souza Coelho, meu pai, você é minha maior inspiração, meu exemplo e meu guia. Sempre foi um trabalhador incansável e determinado, pai atencioso e amoroso, um homem humilde, espirituoso, um mestre que nunca me negou uma ajuda. A vida de ‘painho’ era como uma bicicleta que ele tanto amava, se parasse de pedalar caía, e assim ele tocou a vida dele. Um dia de cada vez e sempre de forma alegre, otimista e intensa. Meu pai era o rei do nosso xadrez e foi um grande jogador, ele era melhor máquina do Curtume. Ele dedicou que tinha de mais precioso o seu tempo para eu e meus irmãos. Fica a missão de seguir o seu legado, para mim ficar longe de carregar o seu nome perdemos um gigante. Muito obrigado.”
Paula, sobrinha de Rafael, também prestou sua homenagem, destacando a bondade e a alegria do tio.
“Em um mundo repleto de estrelas, uma brilhava mais forte que o Rafael, que com palavras sábias faziam pesado se tornar leve. Em cada canto, uma piada; em cada olhar, uma festa. Seu coração era uma casa com portas sempre abertas. Achava que pedir ajuda nunca deixava as descobertas. Um filho, um pai, um irmão, um tio, um dindo, um primo, um amigo, em todos os momentos presentes, seu abraço sempre um refúgio. Rafael Guerreiro, Valente lutou até a última batida. Mas mesmo heróis têm descanso na paz do infinito. A saudade é grande, mas a gratidão é ainda maior, o tecido parte de nossa vida por todos os dias vividos. Hoje o céu recebe mais um brilho, enquanto aqui fica o vazio, mas pela luz permanece em cada uma de nós um lugar. E celebramos o seu espírito, seu amor incondicional. No coração, carregamos tio Rafael, com amor tão sincero.“, falou Paula.
Daniel, outro filho de Rafael, falou sobre a importância do pai em sua vida pessoal e profissional.
“Agora sem minha bússola moral não sei o que fazer. Você me mostrou que a vida deve ser vivida intensa e alegremente. O senhor me norteou, o homem que me tornei, os valores que o senhor me passou hoje são impossíveis. Sempre me dediquei naquilo que faço, se for para fazer, fazer bem feito, uma vontade de cuidar bem daquilo que é meu. Mais que estejamos aqui no Curtume, a joia da coroa profissional de meu pai Rafael. Eu quero falar do lado de mais destaque dele, o lado pessoal, uma pessoa amorosa, inteligente, extrovertida, companheiro de viagem mais enérgico impossível, uma pessoa para se falar, conversar a qualquer hora do dia. Mesmo durante seus pretensiosos cochilos curtos, ele foi o marido dedicado, um pai atencioso e carinhoso, mas também o pai educador. Lembro-me de quando eu era criança, uma criança tímida ainda, e eu tinha vergonha em eventos e cerimônias de cumprimentar as pessoas, muitas vezes. Meu pai me deu um sermão, falando: ‘Meu filho, quem não é visto não é lembrado’. Eu, que nem assim também era pouco relevante, não fazia muita diferença. Hoje aqui adulto, eu entendo que ele quis me passar, vendo todos aqui reunidos, todos que tentaram e foram visitar meu pai no hospital, aqueles que mesmo longe queriam, mas não puderam comparecer. Eu vejo como meu pai impactou positivamente na vida de muitas pessoas, será carregada adiante, sua família vai ser bem cuidada. Amanhã o curtume vai seguir operando com mais respeito, mas o seu expediente acabou, descanse em paz“, expressou Daniel.
Victor Coelho, filho de Rafael, também se pronunciou, agradecendo o amor e o carinho que seu pai recebeu.
“Hoje é um dia de muita tristeza e dor, mas também um dia de agradecimento, e é para isso que eu vou usar esse espaço. Primeiramente, eu gostaria de agradecer a todo o amor, carinho, afeto, gestos de amizade e consideração que foram dirigidos ao meu pai nesses últimos dias. Nós, como filhos, ficamos extremamente sensibilizados e orgulhosos em saber que vocês enxergavam nos nosso pai a mesma qualidade que a gente vê nele. Em segundo lugar, eu gostaria de me dirigir ao curtume moderno, seus colaboradores, representantes, sócios, fornecedores e clientes, e dizer muito obrigado a vocês. Foram a maior missão do meu pai e deram razão à sua vida, foram motivo de maior orgulho dele. Agora, eu gostaria de agradecer a você, mainha. Quero agradecer por você ter ficado ao lado dele a sua vida toda, painho. Quero agradecer por você ter sido a esposa maravilhosa que você foi para ele, por ter cuidado dele, por ter amado painho, por ter trazido amor à vida dele. Ele dizia que tudo que deveríamos fazer deveria ser sempre feito com amor, e você era o amor que ele tanto se referia. Por último, eu gostaria de agradecer a você, painho. Eu gostaria de agradecer a você pelo homem que eu sou, por ter sido meu melhor amigo, por ter sido a pessoa que mais comemorou minhas conquistas, por ter me esperado quando eu falhei, por ter me dado direção quando me perdi e por ter apertado minha mão mais forte quando eu mais precisei. Você tocou a vida de muitas pessoas, meu pai, era de uma inteligência singular, extraordinário, era capaz de trazer leveza às situações pesadas como essa e foi um grande orador, você era o nosso gigante de ferro. Certa vez, você comparou o Osvaldo a Atlas, que carregava o fardo do mundo nas costas. Mas você estava na mesma condição. Você levou o nosso mundo nas costas, era o nosso maior defensor e era o grande líder da nossa casa. Eu nunca vou entender o que aconteceu nessas últimas semanas, eu nunca vou entender porque eu fui a última pessoa a conversar com você enquanto ainda estava consciente, mas eu prometo seguir seus passos adiante, os valores, os ensinamentos, e multiplicar o que você nos deixou. Muito obrigado por tudo, meu pai, eu vou te amar para o resto dos meus dias, me dirigir constantemente a você e sonharei com o dia em que eu possa voltar a apertar sua mão e te dar um abraço, meu pai”, desabafou Victor.
Livia Coelho, prima de Rafael, leu um texto que Rafael fez ao Osvaldo Coelho, que falava da casa da avó, local que ele frequentava desde criança e que se tornou um símbolo de acolhimento e generosidade.
“‘Na minha cidade, havia uma casa que, quando criança, eu frequentava bastante. Era uma casa grande, com suas portas sempre abertas. Nela, realizavam-se grandes almoços e jantares, e recebiam-se muitos visitantes. Às vezes, era difícil até entrar, com tantas pessoas movimentando-se entre seu piso preto e branco e suas salas cheias. Mais tarde, soube que muitas pessoas nasceram e algumas morreram naquela casa, que era o lar dos nossos protetores, a casa da vovó.
Quando fui estudar, a vovó faleceu enquanto eu estava fora, e fiquei afastado da casa por anos. Quando voltei, não conseguia mais entender como aquela casa tão importante e grande da minha infância parecia pequena e modesta. Como cabiam tantos hóspedes, comemorações e convidados naquele espaço físico? Agora, compreendo: a casa da vovó não é grande nem pequena, ela é imensa.
Vovó e vovô construíram um celeiro que abrigou gigantes. Um novo mundo foi gerado a partir desse lar. Naquela casa, está o Marco Zero da estrada que liga Petrolina a Recife. Nascem ali os projetos de irrigação, as tomadas de água, a pedra fundamental da Universidade e de todas as escolas técnicas. Nela, as turbinas de Sobradinho começaram a girar, e o sertão bebeu as águas do São Francisco. Ali, muitos sertanejos transformaram seu destino pela educação. Era um lugar de prosperidade, onde todos encontravam apoio e oportunidades para prosperar. Eu fui tolo em algum momento, pois pensava que a importância da casa residia em receber poderosos. Mas Osvaldo entendeu algo diferente: a verdadeira força e energia da casa não estava em receber poderosos, mas em acolher os necessitados. Ele cuidou para que as portas da casa sempre estivessem abertas para todos que precisavam. E foram muitos, milhares ao longo do último século.
Osvaldo foi um engenheiro e guardião da casa e de seus ideais. Ele carregava nos ombros o novo que ali foi gerado, como Atlas que carrega o mundo nas costas. Suas mãos estavam sempre ocupadas, sobrando pouco tempo para cuidar de suas próprias coisas pessoais, às vezes até para segurar a mão de seus próprios filhos. No domingo, todos nós que nos sentimos filhos daquela casa ficamos órfãos, perdendo um gigante.’ Rafael escreveu este texto na despedida de tio Osvaldo, destacando a dimensão deste homem gigante, que deu continuidade à obra do titio Osvaldo, mantendo aquela casa sempre aberta“, destacou a prima Lívia.
Ana Amélia Lemos Coelho, prima do empresário e diretora das rádios do Sistema Grande Rio de Comunicação, também falou sobre a importância da casa da avó e sobre a bondade e generosidade de Rafael.
“Ontem, estávamos todos reunidos na casa da vovó, os primos que estavam chegando para acolher esse momento de despedida. Entendemos que a carta não devia ficar sem uma resposta, Rafa. Unidos na fé e com o coração partido, nos despedimos do autor dessa carta. Nosso querido Rafael, nosso anjo. Rafael foi o encontro de todos os nossos familiares na casa do pai. Rafael se tornou Guardião da casa da vovó, Zefinha e vovô, que liam como papai. Assim a casa permanece aberta, como era o desejo de todos, com as memórias de infância preservadas, o mesmo piso preto e branco da sala principal, a cerâmica do terraço vermelho, onde brincávamos quando éramos pequenos e agora um brincão. Os três netos e como pipa festejam a vida. Rafael foi um anjo, igualmente um gigante, que enfrentou com coragem, força e muita fé o seu diagnóstico, tornando-se um vencedor, como ele próprio dizia: a doença o havia tornado um homem melhor. Agora, na hora da despedida, estamos mais certos que sua coragem e determinação permanecem em quebrantos, sempre alegre e com um discreto sorriso largo, não era de reclamar. Rafael dizia que o mundo era dos mansos, sem truculência, sem ódio, com o objetivo claro e boa-fé. Um homem de família, sempre ao lado de Érika, seu porto seguro. Dos seus filhos amados Victor, Daniel e Davi.
No Curtume, era admirado e respeitado, uma pessoa de gestos largos, sempre com olhar voltado para o êxito do negócio. Mas, acima de tudo, para as necessidades de seus colaboradores e o bem-estar de seus familiares. Rafael tinha vários predicados, mas quero aqui destacar a sua simplicidade, humildade e senso de justiça. Rafael era dedicado aos seus pais, tia Mariza e tio Augusto, suas irmãs Genoveva e Gabriela, e à sua esposa Érica, o amor da sua vida. Seus filhos Victor, Daniel e Davi eram o seu maior tesouro. Tinha habilidade e ainda dava conta. Uma legião de tios primos Araújo e Coelho que buscavam nele um conselho, uma palavra, uma orientação. Rafael festeiro, gostava de estar com os amigos sem barulho e sem aglomeração. Eram as condições dele, mas mesmo assim se distraía com todos. Com os primos Araújo, era sempre casa cheia. Rafael amava a prática de esportes e o voluntariado. Em Rafael, o bom senso, a generosidade, era sua marca registrada“, finalizou Ana Amélia.