Aumento do consumo de drogas em Petrolina preocupa especialistas

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Nos últimos anos, Petrolina tem enfrentado desafios significativos relacionados ao consumo de drogas, refletindo uma tendência crescente observada em muitas outras regiões do Brasil. De acordo com estatísticas recentes, a cidade registrou um aumento preocupante no uso de substâncias como álcool, crack e outras drogas ilícitas. Este cenário tem gerado impactos profundos na saúde pública, na segurança e no bem-estar das famílias da comunidade.

Para discutir o problema e as medidas tomadas para combatê-lo, entrevistamos Roberto Júnior, psicólogo e coordenador do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) III de Petrolina, no programa Nossa Voz.

“De fato, houve um aumento expressivo no número de usuários de diversas drogas. O relatório da ONU demonstra que, entre 2021 e 2022, houve um aumento de 20% no consumo de substâncias ilícitas, o que representa cerca de 296 milhões de pessoas no mundo todo. Este aumento foi registrado também aqui em Petrolina. Uma simples caminhada pelo centro da cidade ou em alguns pontos de Juazeiro revela a presença crescente de menores e adolescentes consumindo drogas, especialmente o crack. Este problema não é apenas municipal ou regional, mas nacional”, afirmou Roberto Júnior.

Sobre o impacto das drogas, ele destacou a importância de focar não apenas nas drogas ilícitas, mas também no álcool. “O álcool é uma das substâncias mais problemáticas, causando grandes ônus à rede pública de saúde. Em termos de serviços públicos, não temos muitos dispositivos a nível federal. Em Petrolina, contamos com CAPS e Unidades Básicas de Saúde (UBS), que são de portas abertas. Pessoas que reconhecem ter problemas com drogas, ou são encaminhadas por familiares, justiça ou assistência social, são acolhidas. No CAPS, temos cerca de 40 profissionais, incluindo médicos, psicólogos e assistentes sociais, que trabalham em equipe para reinserir os usuários na sociedade, oferecendo alternativas para além do uso de substâncias.”

Roberto Júnior explicou as abordagens terapêuticas utilizadas no CAPS. “Nossas abordagens terapêuticas incluem atendimento individual e coletivo, inserções no território, visitas domiciliares, entre outras atividades. Desde o início do ano, já realizamos cerca de 18.000 procedimentos no CAPS AD III. A família também desempenha um papel crucial nesse processo, sendo muitas vezes cansada e sobrecarregada, mas essencial para o suporte ao usuário.”

Ele também comentou sobre o perfil demográfico dos pacientes atendidos. “A maioria dos nossos pacientes são homens negros que não tiveram acesso à educação e que fazem uso problemático de álcool. O álcool é a substância mais presente entre nossos usuários, embora o crack também seja comum. Este último tem um potencial de ação muito maior e afeta principalmente pessoas em situação de vulnerabilidade, tornando-se uma droga extremamente viciante.”

Roberto Júnior compartilhou casos de sucesso, como o de um usuário que, após anos de luta contra o vício, conseguiu reconstruir sua vida com o apoio do CAPS e de outras entidades. “Ele passou por várias etapas de acolhimento, voltou a estudar, conseguiu um emprego e reestabeleceu vínculos familiares, demonstrando que é possível superar a dependência com apoio adequado.”

Quanto à recente decisão do STF que permite o porte de até 40 gramas de maconha, ele afirmou que é necessário esperar para avaliar os efeitos. “Experiências em outros países, como Portugal e Uruguai, mostram que a descriminalização pode trazer resultados positivos, reduzindo a criminalização e incentivando a busca por tratamento. No entanto, é importante monitorar os impactos na saúde pública e na sociedade.”

Por fim, Roberto Júnior ressaltou a importância da sociedade em não estigmatizar os usuários e em oferecer apoio e oportunidades de reintegração. “A sociedade pode ajudar muito não estigmatizando os usuários, oferecendo apoio e oportunidades de reintegração. O CAPS está sempre de portas abertas para receber e ajudar aqueles que precisam. Atualmente, estamos localizados na Rua Presidente Dutra, 290, mas em breve nos mudaremos para a Rua Doutor José e Maria, onde teremos um espaço maior e melhor equipado para atender a todos.”