Moradores de agrovilas protestam em frente à Codevasf por solução urgente para falta de água

0

Famílias que residem nas agrovilas de Petrolina (PE) se reuniram em frente à sede da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) na manhã desta sexta-feira (20) para protestar contra a crise hídrica que há anos atinge a região. Com baldes e cartazes em mãos, os moradores reivindicam medidas imediatas das autoridades para solucionar o problema de abastecimento que obriga crianças e adultos a carregar água para suas residências diariamente.

“A situação é grave, absurda. As crianças deixam de estudar para ajudar a levar água para casa. Estamos a menos de mil metros do canal de irrigação, mas não temos água nas torneiras. Isso em pleno século 21”, declarou Edilson Ribeiro, morador da Vila Nova do N8, um dos líderes do movimento. Segundo ele, a rotina de carregar baldes e latas de água já dura mais de 16 anos e afeta diretamente a vida das famílias locais.

Os relatos dos manifestantes apontam que a falta de infraestrutura adequada tem prejudicado especialmente crianças e idosos, que precisam lidar com a escassez em todas as atividades do dia a dia, como lavar roupas e preparar alimentos. Adão Ribeiro, também morador do N8, contou que as dificuldades afetam diretamente a qualidade de vida na comunidade. “É comum ver crianças indo para a escola sem o uniforme limpo, ou até deixando de ir porque não conseguimos lavar a roupa. A situação é de calamidade”, afirmou.

Outro participante do protesto, Reinaldo dos Santos, morador do N7, relatou que a Vila Velha, assim como outras agrovilas, também enfrenta o mesmo problema. Ele destacou que, mesmo com a doação de materiais para instalação de um sistema de água, a obra nunca foi realizada. “Os canos estão abandonados, expostos ao sol, enquanto as crianças e os moradores carregam baldes de água sob o sol quente para conseguirem fazer as tarefas diárias,” declarou.

Os manifestantes também criticaram a demora das autoridades para oferecer uma solução definitiva, mesmo com o constante crescimento das agrovilas ao longo dos anos. “Essas agrovilas foram projetadas para poucas casas, mas a realidade mudou. Temos mais de mil residências e continuamos com a mesma estrutura precária,” afirmou Mário Guimarães, morador do N8 há mais de uma década. “É uma vergonha para a cidade de Petrolina, que exporta frutas para o país inteiro, mas deixa seus moradores sem água nas torneiras,” concluiu.

A Codevasf foi acionada pela reportagem para comentar o caso, mas, até o momento, não respondeu ao pedido de posicionamento.

Diante do silêncio das autoridades, os moradores prometem levar o caso ao Ministério Público, exigindo que a Codevasf e a gestão municipal tomem providências. Segundo os manifestantes, o abastecimento das agrovilas precisa ser tratado como prioridade, uma vez que as condições atuais têm comprometido a saúde, o bem-estar e a dignidade dos moradores, que produzem grande parte das frutas e verduras que abastecem o mercado nacional.

Em nota a Codevasf disse, A respeito dos protestos realizados pela Associação de Moradores do N-8 e da Vila Boa Vista, referentes à captação de água do canal PISNC, a Codevasf informa que, em 30/03/2022, emitiu parecer favorável ao fornecimento de água bruta para a Associação, desde que fossem cumpridos os seguintes requisitos:

  • Formalização de um contrato entre as associações e o Distrito Irrigado Nilo Coelho (DINC). Esse documento deve conter uma cláusula especificando que a água fornecida será do tipo bruta – ou seja, imprópria para consumo humano – e que os custos com o tratamento serão de inteira responsabilidade do usuário.
  • Instalação, por parte da Associação de Moradores do N-8 e da Vila Boa Vista, de um hidrômetro para medição da água captada, no início da tubulação, com acesso livre para o DINC e para a Codevasf.
  • Pagamento da tarifa de água pela Associação, calculada com base no volume captado, conforme medido pelo hidrômetro.
  • Instalação de uma estação de tratamento de água, custeada pela Associação de Moradores, de acordo com um projeto técnico previamente submetido à análise e aprovação da Codevasf.

Foi estipulado o prazo de 180 dias para que esses requisitos fossem atendidos pela Associação, a fim de viabilizar a captação de água bruta do canal PISNC. No entanto, até a presente data, nenhum dos requisitos foi cumprido, o que impossibilita o abastecimento de água nessas localidades.

É importante salientar que a Codevasf doou, em fevereiro de 2020, as áreas dos núcleos habitacionais dos Projetos de Irrigação Nilo Coelho e Bebedouro à Prefeitura de Petrolina. Ou seja, com o acordo firmado, cabe à municipalidade a implantação, administração e manutenção dos sistema de saneamento e abastecimento das áreas do município.