“A gente está fazendo a nossa própria segurança”, dizem motoristas de aplicativo ao relatar aumento da violência nas corridas

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Motoristas de aplicativo das cidades de Petrolina e Juazeiro têm expressado crescente preocupação com a segurança durante as corridas. Casos de violência, incluindo agressões físicas, ameaças e ataques com arma branca, são relatados com frequência pelos trabalhadores, que pedem ações mais eficazes das autoridades para garantir sua proteção e da população.

Na quinta-feira (31), o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos de Petrolina, Wellington Batista, o motorista Alex Rodrigues e Elisson de Souza falaram ao Nossa Voz sobre a situação alarmante que enfrentam no exercício de suas atividades, relatando episódios de insegurança e apelando por soluções que assegurem sua integridade.

A preocupação dos motoristas reflete um ambiente cada vez mais tenso, agravado pela falta de ferramentas de segurança e pelo crescimento dos crimes. Em um dos casos recentes, um motorista foi esfaqueado ao transportar um passageiro da rodoviária de Petrolina até o Projeto Mandacaru, em Juazeiro. Segundo Wellington Batista, esses episódios se tornaram frequentes. “Estamos sempre lutando com respeito e humildade por segurança. Em Petrolina, nossa categoria transporta cerca de 70% da população, então, se parássemos, o transtorno seria enorme. Isso não vai acontecer porque confiamos nas autoridades e contamos com oportunidades como essa de poder falar sobre a situação. A violência contra motoristas de aplicativo vem crescendo. Tivemos o caso de um motorista assassinado no lixão de Juazeiro, outro que foi atacado com uma facada no olho e mais um que sofreu uma agressão com uma pedra na cabeça. É desesperador.”

Wellington ainda mencionou que a falta de controle sobre quem são os passageiros é um dos principais problemas. “Nós, motoristas, quando aceitamos uma corrida, vemos a foto do passageiro e, muitas vezes, não há nenhuma imagem ou informações suficientes. E é importante que a polícia faça abordagens, especialmente à noite, quando veículos suspeitos, com duas ou três pessoas no banco de trás, deveriam ser parados. Isso nos ajuda, pois, muitas vezes, nem sabemos quem estamos transportando.”

O motorista Alex Rodrigues compartilhou como a insegurança impacta diretamente sua rotina e a de seus colegas. “A gente anda com medo, principalmente quem roda na madrugada, por conta da falta de segurança. Muitos motoristas dependem exclusivamente do aplicativo para viver, mas o medo de rodar atrapalha nossa vida e nosso sustento. Um amigo nosso sofreu um atentado recentemente, e ele depende desse trabalho para pagar aluguel da casa e do carro. Isso poderia acontecer com qualquer um de nós, o que torna a situação insustentável.”

Alex reforçou a dificuldade que enfrentam ao tentar contato com as plataformas para obter qualquer suporte. Ele critica o atendimento, que considera ineficaz diante dos riscos reais que os motoristas enfrentam. “A gente tenta falar com a Uber, com a 99, mas o respaldo é mínimo. Pagamos altas taxas e oferecemos nosso trabalho, mas eles não estão lá para nos apoiar quando precisamos. A plataforma, muitas vezes, não se importa quando relatamos problemas graves como passageiros que vomitam no carro, um evento que nos obriga a parar para limpar e ainda temos de comprovar com fotos e notas fiscais para reembolso, e, mesmo assim, muitas vezes é negado. Nós fazemos nosso trabalho, mas parece que estamos sozinhos.”

A situação de insegurança tem levado os motoristas a adotarem medidas por conta própria. Alex detalha as estratégias que utilizam para se proteger: “É nós mesmos que estamos fazendo a nossa própria segurança. Nos organizamos em grupos de WhatsApp, compartilhamos nossas localizações e pedimos apoio quando uma corrida parece suspeita. Se alguém entra em uma área perigosa, ele manda um alerta para o grupo, e ficamos atentos até que tudo se resolva. Quando finaliza, avisamos que deu tudo certo. É triste dizer, mas nos falta uma rede de proteção e é assim que conseguimos sobreviver, nos apoiando entre nós.”

Elisson de Souza destacou o perigo que enfrentam ao levar passageiros sem informações adequadas. Ele relatou um episódio recente em que um motorista foi atacado após se recusar a transportar mais passageiros do que o permitido. “O perigo maior é à noite, mas estamos expostos durante o dia também. Houve um caso em que um motorista foi atacado depois de recusar cinco pessoas no carro. Muitos passageiros não têm consciência de que só podemos levar até quatro no máximo, incluindo o motorista. Sem falar que, ao transportar passageiros no banco traseiro, ficamos totalmente vulneráveis, sem saber o que pode acontecer. Já teve motorista sendo enforcado por trás. Eu mesmo me sinto aliviado quando a polícia nos aborda, porque sei que estão fazendo seu trabalho e colaboro com isso.”

Wellington também mencionou a ineficiência das plataformas em oferecer suporte nas situações de crise e a frustração com o baixo retorno financeiro, que considera desproporcional ao serviço prestado. “Hoje, a corrida mínima da Uber está em R$ 5,78, mas, quando o pagamento é feito por Pix ou dinheiro, acaba saindo próximo de R$ 10 para o passageiro, o que significa que estamos dividindo quase meio a meio com a plataforma. Trabalhamos sem saber quem estamos transportando, sem suporte adequado, e, ainda assim, o que ganhamos não compensa o risco que corremos diariamente.”

As reivindicações dos motoristas também encontraram eco entre as autoridades. O Coronel Wildson, comandante da Polícia Militar na região norte, em Juazeiro, afirmou que a instituição está ciente dos problemas enfrentados pela categoria e disposta a colaborar. “Nós respeitamos muito os motoristas de aplicativo e mototáxis, pois desempenham um papel importante na sociedade, transportando os cidadãos com segurança. Entendemos a necessidade de estarmos juntos para garantir uma segurança pública efetiva. A polícia está disponível pelo 190, funcionando 24 horas, e também pelo Disque-Denúncia 181. Pedimos que, ao presenciarem qualquer delito, nos informem para que possamos agir imediatamente.”

Apesar das promessas, a realidade permanece desafiadora para os motoristas. Wellington expressa sua frustração com o atual sistema de segurança e a sensação de abandono, especialmente após o recente episódio em que um suspeito de atacar um motorista foi preso e liberado na audiência de custódia. “A polícia fez seu trabalho, localizou o carro e prendeu o responsável, mas, mesmo assim, ele já está solto. Precisamos de mudanças que realmente protejam quem está nas ruas todos os dias.”

O coronel também abordou as limitações legais, que muitas vezes dificultam a punição de criminosos. “Infelizmente, nossas leis ainda permitem que, mesmo após presos, alguns indivíduos voltem rapidamente às ruas”, comentou.