Os produtores de frutas do Vale do São Francisco, maior polo exportador do Brasil, estão enfrentando graves dificuldades devido a atrasos e à imprevisibilidade no transporte marítimo. Os problemas, que se intensificaram desde o início da pandemia da Covid-19, em 2019, foram discutidos nesta segunda-feira (18), em reunião no Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina (SPR), com representantes do Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos.
Segundo Jailson Lira, presidente do SPR, os entraves estão relacionados a conflitos internacionais, problemas climáticos e ao congestionamento em portos estratégicos para o escoamento das frutas da região, como os portos de Salvador (BA), Natal (RN) e Pecém (CE).
Em entrevista concedida nesta quarta-feira (20), no programa Nossa Voz, Jailson Lira detalhou as dificuldades enfrentadas pelos produtores.
“Os atrasos no transporte marítimo estão gerando uma série de problemas para os produtores. Exportamos para os EUA, Canadá, Inglaterra e toda a Europa, com previsão de expandir para a China. Nossa rota de exportação é essencialmente marítima. As cargas aéreas estão inviáveis porque falta equipamento no aeroporto local para estufar os aviões, então, 100% da nossa carga depende do transporte marítimo. Porém, enfrentamos entraves na agilidade dos portos brasileiros. Desde a pandemia, as cargas ficaram sobrecarregadas, os fretes aumentaram, e houve redução de navios disponíveis. Além disso, há escassez de mão de obra e congestionamento nos portos.”
Jailson também relatou situações recorrentes de omissões de escalas em Salvador, com navios desviando diretamente para Fortaleza. “Tivemos navios que, ao passarem por Salvador, seguiram direto para Fortaleza, deixando nossas cargas sem transporte. Isso prejudica a qualidade das frutas. Trabalhamos com prazos apertados — do campo até o destino final, são 16 dias. No entanto, os atrasos ultrapassam duas semanas, comprometendo a qualidade do produto.”
Os prejuízos ainda não foram completamente estimados, mas, segundo Lira, os clientes no exterior já enfrentam problemas com frutas danificadas, exigindo reprocessamento das cargas:
“Ainda estamos em conversas sérias com a administração portuária e com o Ministério da Agricultura. O problema não atinge apenas a fruticultura, mas também outros setores, como o algodão. No entanto, as soluções parecem ser de médio ou longo prazo. Precisamos urgentemente de investimentos nos portos.”
Jailson destacou a necessidade de iniciativas como a contratação de navios específicos pelos produtores para garantir o escoamento das cargas, além de maior transparência nas comunicações portuárias. “Empresas como a de melão já fretam navios quinzenais para transportar seus contêineres. Estamos discutindo a possibilidade de os produtores se unirem e adotarem medidas semelhantes. Também pedimos que os anúncios de atrasos ou omissões de escalas em Salvador sejam feitos com antecedência. Isso nos permitiria redirecionar as cargas para outros portos, como o de Fortaleza, para preservar a qualidade das frutas”, concluir Jailson.