Donald Trump retorna à presidência: impactos para o Vale do São Francisco

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Na segunda-feira (20), Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos pela segunda vez, prometendo retomar sua política de “América primeiro”. Em seu discurso, ele reforçou compromissos com o fortalecimento econômico e energético, além de destacar medidas protecionistas e distanciamento de acordos globais, como o Acordo de Paris. A declaração reacendeu debates sobre os impactos dessas políticas em regiões exportadoras, como o Vale do São Francisco, que depende fortemente do comércio internacional.

Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), o Brasil experimentou um crescimento modesto na exportação de frutas para os EUA, com mangas e uvas da região ganhando destaque pela qualidade, mas enfrentando barreiras como exigências fitossanitárias e custos competitivos. As relações entre Trump e o então presidente Jair Bolsonaro ajudaram a fortalecer acordos bilaterais, mas o atual desalinhamento ideológico entre os governos de Trump e Lula pode criar novos desafios.

Para analisar o cenário, o programa Nossa Voz conversou com o economista e professor da Facape, João Ricardo Lima. Questionado sobre o impacto das políticas de Trump no comércio internacional e no Brasil, ele afirmou:

“Estamos monitorando dois aspectos principais: o impacto global e o impacto específico nas exportações de frutas brasileiras, especialmente manga e uva. O momento é de expectativas. Ainda precisamos de alguns dias para avaliar como as promessas de campanha se traduzirão em ações concretas. Algumas medidas já foram anunciadas, como a retirada dos EUA do Acordo de Paris, mas outras ainda dependem de implementação. Por exemplo, se houver aumento de tarifas de importação, isso poderá impactar diretamente o custo de produção nos Estados Unidos, refletindo na inflação e na taxa de juros.”

Lima detalhou como essa dinâmica pode afetar a economia brasileira:

“Quando os Estados Unidos ajustam suas taxas de juros, há um impacto global. Um aumento na taxa atrai investidores e valoriza o dólar, desvalorizando moedas como o real. Isso eleva os custos de importação para o Brasil, causando inflação interna e obrigando o Banco Central a aumentar suas próprias taxas de juros. Isso trava o crédito e os investimentos, freando o crescimento econômico do país. O Brasil depende significativamente das relações comerciais com os Estados Unidos, e qualquer movimento protecionista pode ter consequências amplas.”

Questionado sobre o alinhamento ideológico entre os governos Trump e Lula, ele ponderou:

“O desalinhamento ideológico pode criar tensões nas negociações bilaterais, especialmente em temas ambientais. O Brasil tem adotado uma postura firme nesse tema, que reforçou que o país não abrirá mão de suas políticas ambientais. Contudo, os representantes diplomáticos são profissionais altamente treinados e buscam priorizar o interesse nacional. Ainda assim, as diferenças ideológicas podem dificultar avanços em temas sensíveis.”

Lima também mencionou as tarifas de importação e o impacto direto nos produtores locais:

“Atualmente, as uvas do Vale do São Francisco não enfrentam tarifas significativas para entrar nos Estados Unidos, mas as mangas continuam pagando um imposto desde 2021, que gira em torno de 1.800 dólares por contêiner. Isso afeta a competitividade do produto. Ainda há tentativas de negociar a devolução desses valores, mas o cenário ideológico pode dificultar o avanço dessas tratativas, se vai aumentar a tarifa”

De acordo com João Ricardo, o aumento da rigidez nas políticas econômicas pode trazer desdobramentos significativos para o Brasil. “Há um fluxo de comércio muito relevante, e, se esse movimento continuar, podemos observar um aumento na taxa de câmbio, desvalorizando ainda mais o real frente ao dólar. Por um lado, isso favorece as exportações, mas, por outro, encarece insumos importados que são essenciais para diversos setores produtivos”, explicou.

Ele destacou que o movimento de valorização do dólar tem caráter global e afeta diretamente a região do Vale do São Francisco. “Na produção de frutas, por exemplo, os custos tendem a aumentar devido à dependência de insumos importados. Entretanto, como as exportações são realizadas em dólar, há uma compensação, já que a conversão para o real resulta em uma maior receita para os exportadores locais”, concluiu.