As negociações para a Convenção Coletiva de Trabalho dos trabalhadores rurais assalariados de Petrolina seguem sem avanço significativo. A classe trabalhadora reivindica melhores condições salariais, fornecimento de fardamento e cestas básicas, entre outros pontos. Em entrevista ao programa Nossa Voz, Maria Joelma, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Assalariados Rurais (STTAR) de Petrolina, detalhou as negociações e a insatisfação da categoria diante das propostas apresentadas pelos empregadores.
Negociações travadas
Segundo Joelma, as negociações começaram em dezembro com a entrega de uma pauta contendo 13 modificações, enquanto a classe patronal apresentou 12 pontos de mudança. Entre os pedidos da categoria está a distribuição de fardamento aos trabalhadores, uma demanda rejeitada pelos empregadores.
“Como é que você tem um funcionário e nega pelo menos uma farda para ele?” questionou Joelma. “As fazendas têm exigências: não pode vir de short, não pode ir de blusa curta, não pode ir de blusa de alça, mas esse custo quem paga é o trabalhador. Queremos que as fazendas arquem com esse custo para termos um ambiente organizado e padronizado.”
A presidente também criticou a proposta patronal de retirar a obrigatoriedade das homologações sindicais para trabalhadores com mais de um ano de serviço. Para ela, essa medida prejudica os trabalhadores, que muitas vezes não têm conhecimento detalhado sobre os valores que recebem na rescisão.
“Sabemos que tem alguns trabalhadores que não entendem os cálculos de férias, décimo terceiro, rescisão. O sindicato presta esse esclarecimento, coisa que nem todas as fazendas fazem. Não entendemos por que querem tanto que as homologações sejam fora do sindicato.”
Outro ponto criticado é a tentativa de implantação de contratos de trabalho com duração de até um ano, o que, segundo Joelma, prejudicaria o trabalhador ao impedir o recebimento de direitos como seguro-desemprego, aviso prévio e multa rescisória de 40% sobre o FGTS.
“Não existe safra de um ano! O contrato prejudica o trabalhador, porque ele perde direitos essenciais. Isso não é aceitável!” reforçou.
Reivindicações e impasses
Os trabalhadores também solicitaram reajustes salariais e um valor maior para a cesta básica, mas a resposta da classe patronal não atendeu às expectativas.
“Pedimos um reajuste salarial para R$ 1.600, mas os patrões ofereceram R$ 1.555. Solicitamos uma cesta básica de R$ 200, mas a proposta veio condicionada: se o trabalhador apresentasse mais de dois dias de atestado, perderia o benefício. Ou seja, o trabalhador além de estar doente, comprando remédio, ainda perde a cesta? Isso não faz sentido!”
A liderança sindical também destacou o descaso das fazendas com a saúde dos trabalhadores, especialmente em relação às condições de trabalho debaixo de lonas plásticas, que aumentam as temperaturas nos parreirais.
“Pedimos que os trabalhadores pudessem atuar sob essas lonas apenas até uma hora da tarde, porque é muito quente, tem gente passando mal, mas o pedido também foi negado.”
Desrespeito e represálias
Durante as negociações, o sindicato também enfrentou episódios de repressão por parte dos empregadores. Em uma das assembleias realizadas nas fazendas, os trabalhadores que participaram foram impedidos de retornar ao trabalho.
“Depois da assembleia, os trabalhadores foram proibidos de entrar na fazenda para fazer suas atividades. Eles foram humilhados! Ficaram do lado de fora, sem poder acessar água, sem poder ir ao banheiro. Isso é um absurdo!” denunciou Joelma.
O sindicato informou que já acionou o setor jurídico para tomar as providências necessárias.
Possível paralisação
Caso as negociações não avancem, a categoria não descarta a possibilidade de paralisação.
“Ainda estamos em fase de assembleias e consultas aos trabalhadores. Mas o sentimento é de revolta. Eles querem valorização! Não estamos pedindo nada que já não seja praticado por outras fazendas da região. Alguns patrões fornecem cestas de R$ 300, R$ 380, vale-gás ou alimentação no local de trabalho. Mas a maioria não quer dar nem uma cesta de R$ 70 sem condicionar isso ao atestado.”
A presidente reforçou a importância de respeitar os direitos da classe trabalhadora e pediu que os empregadores reconheçam o valor dos seus funcionários.
“O trabalhador é quem faz a riqueza dessas fazendas. Ele merece respeito, merece valorização! O sindicato está pronto para negociar, mas não vamos aceitar a retirada de direitos. Não aceitamos retrocesso!”