A greve dos motoristas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) continua, conforme anunciado pelo Sindicato da categoria. O movimento, que começou ontem, tem como principal motivo o atraso no pagamento dos salários e o descumprimento do acordo coletivo. A equipe de reportagem ouviu o pró-reitor de assistência estudantil da Univasf, Clébio Ferreira, e o presidente do Sindicato dos Motoristas, Manuel Machado, que detalharam o cenário e os esforços para resolver a situação.
Segundo Clébio Ferreira, o diálogo com os motoristas e representantes do sindicato foi extenso e produtivo. Ele destacou o compromisso da instituição em priorizar o pagamento da fatura pendente, mesmo antes do repasse de recursos do Ministério da Educação (MEC). “Nos comprometemos com realizar o pagamento deles o mais breve possível, sem que o dinheiro do MEC entrasse na conta da universidade. Essa seria a primeira fatura a ser paga”, afirmou.
O pró-reitor explicou que a universidade não realiza os pagamentos diretamente aos motoristas, uma vez que o vínculo trabalhista se dá através de empresas terceirizadas. “Os pagamentos são feitos pelas empresas contratadas. As empresas contratadas emitem notas fiscais, nós pagamos a essas empresas e elas repassam os valores devidos a cada um dos seus colaboradores”, explicou.
Um dos principais entraves está no contato com a empresa contratante dos motoristas, a Decisiva. Clébio Ferreira relatou a dificuldade em estabelecer comunicação direta com a administração da empresa desde que ela enviou um e-mail, no dia 7 de fevereiro, informando o encerramento de suas atividades. “De lá para cá, eles têm evitado o contato conosco, não atendendo nossas ligações, não respondendo nossos e-mails. O único contato que nós estamos tendo é com o RH da empresa”, pontuou.
Na última quarta-feira, a universidade recebeu os dados necessários dos motoristas para viabilizar o pagamento. “Já fizemos a solicitação do recurso. O dinheiro só caiu na conta da universidade ontem por volta das 7 horas da noite. Então estamos esperando agora o sistema abrir para poder autorizar o bancário dos salários dos motoristas que estão atrasados aí já em 15 dias”, informou o pró-reitor.
Outro ponto de tensão são as exigências do sindicato relacionadas à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria. De acordo com Clébio Ferreira, o reconhecimento das questões trabalhistas dos motoristas cabe à empresa contratante e não diretamente à Univasf. “A Univasf não define o valor do salário do motorista. Quem define seu salário é a empresa contratada pela instituição. Deixamos bem claro isso para o sindicato”, afirmou.
Manuel Machado, presidente do Sindicato dos Motoristas de ônibus da Univasf, reforçou a continuidade da paralisação e criticou a falta de cumprimento das promessas feitas aos trabalhadores. “Infelizmente, sem solução até agora. Promessa não cumprida houve ontem. Um dos prefeitos esteve aqui, fez uma promessa e não cumpriu. Hoje a promessa já tá mudando para amanhã e assim por diante”, desabafou.
Ele destacou a importância da confiança entre trabalhador, empresa e prestador de serviço para evitar o descrédito na relação. “Eu acho que entre trabalhador, empresa e prestador de serviço tem que ter uma confiança, tem que ter palavras cumpridas para não cair no descrédito como estamos aqui hoje. Trabalhador e seus representantes, todos sem dar credibilidade ao que a gente ouve de quem a gente tinha que ouvir e confiar”, completou Machado.
A adesão à paralisação segue em 100%, segundo o sindicato. “Eu quero comparar mesmo uma máquina que usa o combustível. Sem o combustível ela para. O trabalhador é a mesma coisa, o combustível nosso é o salário. Aqui todo mundo parado esperando a boa vontade dos responsáveis por tudo isso que tá acontecendo”, disse.
Além do atraso salarial, o sindicato pontua que a greve também ocorre devido ao descumprimento do acordo coletivo, a redução de salários sem negociação prévia e a falência da empresa contratante. “Se a empresa fala que a universidade tem culpa, eles falam que não têm culpa e aí, resumindo, quem não tem culpa de nada do que tá acontecendo são os trabalhadores. Estão sofrendo e a gente buscando a solução”, finalizou o presidente do sindicato.