“O preço do cuidado é bem menor do que o do reparo”, alerta cardiologista sobre prevenção de doenças do coração

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As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com medidas simples de prevenção, conforme ressaltou o cardiologista Dr. Cícero Macedo durante participação no programa Nossa Voz.

Segundo Dr. Cícero, um dos principais problemas no Brasil é a cultura de só buscar ajuda quando a doença já está em estágio avançado. “Como você bem começou a falar, uma das grandes importâncias da doença cardiovascular é que a gente tem o ato no Brasil da gente só cuidar quando a doença se instala. E aí a gente tem várias doenças, hipertensão, diabetes, tem várias comorbidades que vão ao longo dos anos danificando o sistema arterial, danificando o sistema nervoso das pessoas.”

O médico alerta que quando os sintomas se tornam aparentes, muitas vezes o quadro já é grave. “Depois começa a ter as doenças que quando a gente vai ver já é uma fase final, o infarto, que é quando tem um acometimento das artérias do coração, o AVC, quando tem um acometimento das artérias do sistema cerebral. E nesses casos a gente acaba tendo que tratar mais sequelas do que realmente tratar e prevenir que essas doenças acontecessem.”

Questionado sobre se apenas idosos deveriam se preocupar com o coração, Dr. Cícero foi direto: “Não, claro que não.” Ele destaca o crescimento de casos entre jovens, impulsionado por mudanças no estilo de vida, sedentarismo, uso de substâncias e alimentação inadequada. “O uso cada vez maior de substâncias, principalmente por alguns atletas ou pessoas que querem ganhos rápidos de benefícios físicos, acaba levando a doenças como a miocardite, o próprio infarto, que tem se tornado relativamente mais evidente”, alertou.

Entre os hábitos que ajudam a manter o coração saudável, o médico ressalta o básico: “Se alimentar bem, evitar produtos industrializados, evitar substâncias que são ricas em gorduras, ricas em açúcares.” Ele também aponta a atividade física como essencial: “A quantidade de músculo que a gente tem no nosso corpo é um dos maiores marcadores de como vai ser a nossa velhice.”

Dr. Cícero exemplificou: “Você vê um idoso que tinha uma vida mais saudável, ele chega aos seus 80, 90 anos e aquela história que a gente vê, aquela dona Maria na roça com 90 anos vai capinar. Enquanto a gente pega várias pessoas com 60 a 70 anos, extremamente obesas, com baixa mobilidade, trancadas dentro de casa.”

Para adultos, a recomendação mínima de atividade aeróbica é de 150 minutos por semana. “Isso equivale a três atividades de 50 minutos ou cinco atividades de 30 minutos”, explicou. E sim, crianças também devem ser incluídas nesse cuidado. O sedentarismo infantil é preocupante: “As crianças não pedalam mais, não brincam mais. Hoje em dia as crianças são em grande parte obesas.”

O infarto em jovens é outro tema alarmante. Segundo o especialista, isso ocorre muitas vezes sem tempo de o organismo criar uma “circulação colateral” como acontece nos idosos. “O infarto no jovem é mais grave do que no idoso”, afirmou.

Entre as causas estão desde doenças genéticas até o uso de substâncias que favorecem a formação de trombos.

Tecnologias como relógios inteligentes têm sido úteis. “Alguns relógios conseguem detectar arritmias e até ligar para emergências. Isso tem proporcionado diagnósticos precoces”, disse o médico.

Sobre o cigarro e o álcool, Dr. Cícero foi categórico: “Continua sim [sendo vilões], principalmente o cigarro. Aumenta muito a incidência da aterosclerose, de AVC, de infarto, de lesões renais.” E acrescenta: “A gente costuma dizer que não tem uma dose que é 100% segura de álcool.”

Outros fatores de risco incluem sedentarismo, colesterol elevado, estresse, e, principalmente, o descontrole de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. “O diabetes mal controlado aumenta muito o risco cardiovascular, de infarto, de AVC, de doenças periféricas. Ele acomete todo o sistema arterial”, afirmou.

Sobre a pressão arterial, Dr. Cícero destacou que os novos parâmetros já consideram valores acima de 13 por 9 como hipertensão, desde que essa pressão esteja presente de forma contínua e não apenas em momentos pontuais de estresse ou esforço.

No fim da entrevista, o médico falou ainda sobre a cardiomiopatia, condição que pode ser causada por vírus ou substâncias como o álcool: “O tratamento vai depender de dois pilares: encontrar a causa e determinar a extensão da inflamação do músculo.”

O alerta final do médico é direto: cuidar da saúde é mais barato e eficaz do que remediar. “A minha esposa gosta de brincar que a gente diz que o preço do cuidado é bem menor do que o do reparo. Pode ter certeza.”