No mês de maio, período em que se intensificam as campanhas de conscientização sobre saúde cardiovascular, o programa Nossa Voz conversou com o cardiologista Dr. José Roberto sobre a hipertensão arterial — doença crônica popularmente conhecida como “pressão alta” —, considerada uma das mais comuns e silenciosas entre os brasileiros.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 30% da população adulta no Brasil convive com a condição, que é um dos principais fatores de risco para infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e doenças renais.
“A hipertensão arterial nada mais é do que os níveis tensionais que ficam nas artérias do coração, em que ele ultrapassa 140 mm na pressão sistólica e 90 na diastólica, ou seja, o popularmente conhecido como 14 por 9. Mas antes disso, o 130, o 13 por 8 já pode ser considerado um fator de risco. A gente até coloca nas diretrizes como pré-hipertensão, mas não necessariamente o paciente já é hipertenso”, explicou o médico.
Entre os fatores que contribuem para o surgimento da doença, o especialista destaca o envelhecimento, maus hábitos alimentares e o sedentarismo.
“Os principais fatores que vão levar o paciente a ter hipertensão arterial, o primeiro é o avançar da idade. A hipertensão arterial é uma doença progressiva. Então, não significa que o paciente, agora, é hipertenso, está tomando a medicação e está tudo certo. Ele tem que estar o tempo inteiro tentando eliminar os fatores de risco. Consumo de açúcar, consumo de sal, diabetes, obesidade, sedentarismo, tudo isso colabora para o aumento e o aparecimento da hipertensão”, afirmou.
Dr. José Roberto também comentou o aumento de diagnósticos entre os jovens.
“Existe uma característica que a gente pode falar que a hipertensão arterial pode ser primária ou secundária. Primária é do próprio paciente, secundária é quando aparece algum outro problema que vem a aumentar a pressão arterial. Hoje é muito comum, entre os jovens, o uso de substâncias lícitas e ilícitas para performance, o uso de sprays nasais, por exemplo. Tudo isso pode favorecer o aumento da pressão arterial”, disse.
Apesar de grave, a hipertensão é uma condição que pode passar despercebida por anos.
“Na maioria das vezes, a pressão arterial não vai se apresentar com uma característica específica. É muito comum as pessoas dizerem que, quando sentem dor de cabeça, é porque a pressão está alta. Mas muitas vezes é o contrário: a dor, o calor, o estresse é que fazem a pressão subir. Eu costumo correlacionar com o funcionamento de um carro: quanto mais se acelera o motor, maior a temperatura. O mesmo acontece com nosso corpo em situações de estresse”, explicou.
O médico reforçou os riscos de não manter o tratamento adequado e o acompanhamento regular.
“É muito comum ouvir que alguém teve pressão alta, tomou o remédio, e agora que a pressão está controlada, quer parar de tomar. Isso é perigoso. A hipertensão é progressiva e pode aumentar o risco de doenças como insuficiência cardíaca, AVC e problemas renais. A principal causa de doença renal crônica no Brasil é a hipertensão arterial”, alertou.
Sobre as formas de prevenção, o cardiologista reforça a importância da mudança no estilo de vida.
“A primeira coisa é mudar o estilo de vida. Eu sou um amante do esporte, então, para mim, a atividade física é primordial. Não precisa ser atleta. Uma caminhada já é suficiente. Mas antes de tudo, passe no cardiologista. Outro ponto é cessar o uso de bebidas alcoólicas. Falam que uma taça de vinho, uma dose de uísque, não tem problema. Tem sim. Não existe dose segura para o consumo do álcool. Se não quiser deixar de beber, que se dê preferência ao vinho”, orientou.
“Além disso, cessar o tabagismo, reduzir o sal da alimentação. Essas mudanças reduzem a mortalidade e melhoram o controle da pressão”, completou.
Questionado sobre o consumo de energéticos, especialmente entre os jovens, ele foi direto:
“É um vilão. O energético estimula demais o coração. É como se eu desse uma dose enorme de cafeína para o coração. Isso pode provocar arritmias malignas que colocam a vida em risco. E o pior é que muitas vezes ainda se mistura com álcool em festas”, alertou.
Outro ponto destacado foi o consumo de sódio presente nos alimentos industrializados.
“Não é só o sal que você coloca na comida. Temperos prontos, caldos industrializados, embutidos, enlatados — como salsicha, linguiça, presunto, milho em conserva, ervilha — todos têm muito sódio. Às vezes o paciente diz que não consome sal, mas come milho enlatado todo dia. Se a pressão está descontrolada, mudanças drásticas precisam ser feitas”, recomendou.
Sobre a água de coco, o cardiologista afirmou que não há contraindicação, mas fez um alerta.
“A água de coco é um isotônico natural. Não é proibida, mas não pode substituir a água. Água é essencial, ainda mais aqui no Sertão, onde o calor é intenso. A água de coco é ótima após exercícios, mas não pode ser a bebida principal do dia a dia”, afirmou.
Respondendo a uma pergunta de ouvinte sobre possíveis relações entre vacinas contra a covid-19 e infartos, ele esclareceu:
“Até o momento, não há nenhuma evidência científica de que a vacina tenha relação direta com aumento de infartos ou AVCs. Podem existir casos isolados, como em qualquer outra vacina ou medicação, mas isso não anula os benefícios. A vacina reduz a mortalidade nos pacientes mais graves”, concluiu.
Por fim, Dr. José Roberto explicou que nem sempre o uso de medicamentos é obrigatório, mas depende do caso.
“Todo paciente com diagnóstico de hipertensão deve receber orientação médica. Em alguns casos, a mudança de hábitos pode ser suficiente no início. Mas a maioria vai precisar de medicação. A cardiologia entende que é melhor começar com tratamento completo e, conforme os hábitos mudam e o paciente melhora, reavaliar a necessidade de continuar com os remédios”, finalizou.