Petrolina reforça ações de combate ao abuso e à exploração sexual infantil durante campanha “Faça Bonito”

0

Durante o mês de maio, Petrolina intensifica sua mobilização contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes, integrando a campanha nacional “Faça Bonito”, que há 25 anos mobiliza a sociedade brasileira em torno da proteção da infância. A iniciativa local é coordenada pela Associação Civil de Articulação pela Cidadania (ACARI), em parceria com o Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente.

A coordenadora da ACARI e psicóloga Ilze Braga explica que os dados locais sobre o tema ainda são escassos, mas os casos em Petrolina seguem o padrão nacional.

“A gente tem uma dificuldade de acessar dados locais, mas Petrolina não está fora do que a gente vê no Brasil. A questão da violência sexual é uma violência que acomete muitas crianças e adolescentes, principalmente dentro de casa. Mais de 65% das vítimas têm o agressor como alguém do próprio convívio, alguém conhecido. E a maioria dos casos acontece com meninas, especialmente meninas negras.”

A campanha 18 de Maio atua em diferentes frentes, com ações voltadas tanto para a mobilização institucional quanto para a conscientização familiar e comunitária.

“Nós estamos atuando na incidência política, falando dentro dos conselhos e com formadores de opinião sobre a importância da prevenção e da educação sexual para crianças e adolescentes. Também atuamos na base, junto às famílias, fortalecendo o conhecimento sobre sinais de abuso e na formação de educadores, de maneira geral, que lidam com o público infantojuvenil.”

Ilze destaca que, apesar do avanço em algumas discussões, a abordagem sobre educação sexual com pais e responsáveis ainda enfrenta resistência.

“É bem difícil, porque as pessoas acham que quando a gente fala de prevenção, estamos ensinando algo impróprio. E é justamente o contrário. Pesquisas mostram que crianças e adolescentes que têm acesso à educação sexual estão mais fortalecidos e conseguem se prevenir da violência. Os pais podem fazer isso no dia a dia: ao dar banho, por exemplo, nomeando as partes do corpo e explicando que partes íntimas não devem ser tocadas por outras pessoas. A criança precisa saber que seu corpo é dela e deve ser respeitado.”

“Muitos pais ficam com medo. Dizem: ‘Meu filho perguntou de onde vêm os bebês, e eu não soube o que dizer’. Mas é necessário falar. Se os adultos não explicam, a criança vai buscar essa informação em fontes inadequadas, como vídeos na internet, muitas vezes com conteúdos distorcidos e nocivos.”

Além da campanha pontual de maio, a ACARI desenvolve ações permanentes voltadas ao enfrentamento à violência. Um dos projetos é o Benique, que atua em Petrolina e Juazeiro.

“Nesse projeto, trabalhamos com crianças explicando seus direitos, o que é violência e como se proteger. Também dialogamos com os pais, fortalecendo vínculos familiares, e com educadores de instituições parceiras, como a Fundação Lar Feliz, em Juazeiro, e o Projeto Vida Nova, no bairro José e Maria, em Petrolina. Já temos uma longa caminhada com essas instituições e temos visto muitos frutos desse trabalho.”

Sobre o funcionamento da rede de proteção, que inclui escolas, conselhos, CREAS, CRAS e sistema de saúde, Ilse avalia que ainda há lacunas, apesar dos avanços.

“Estamos caminhando para o fortalecimento da rede. O ECA já tem mais de 30 anos, mas, na prática, ainda estamos aquém do ideal. Quando uma criança relata abuso a um professor, por exemplo, esse profissional ainda se sente inseguro sobre como proceder, como acolher sem revitimizar. Por isso, temos insistido para que o poder público, especialmente o governo municipal, se organize de fato para proteger essas crianças.”

Ilze finalizou convidando outras instituições a se somarem à campanha e reforça a importância das denúncias.

“A ACARI tem lutado, junto ao Conselho da Criança, para que essa pauta seja permanente e a prevenção aconteça de verdade. Se alguém souber de uma criança ou adolescente vítima de violência sexual, deve procurar o Conselho Tutelar, a delegacia ou ligar para o Disque 100. A denúncia pode ser feita de forma anônima e é gratuita.”