Petrolina intensifica ações para conter alta de síndromes respiratórias em crianças: “Faltam leitos de UTI no Estado”, alerta secretário

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Com o avanço expressivo das síndromes respiratórias, especialmente entre o público infantil, a cidade de Petrolina entra em uma nova etapa do plano de contingência para enfrentar a crise sanitária. Segundo dados do Governo de Pernambuco, mais de 92% dos atendimentos no Hospital Dom Malan são de crianças do próprio município. Para explicar as medidas adotadas e fazer um balanço da saúde no primeiro quadrimestre, a reportagem ouviu o secretário municipal de Saúde, João Luiz Nogueira; o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Acácio Andrade; e a secretária executiva de Regulação, Fabíola Salvador.

“Não adianta abrir porta de hospital se não há UTI”, diz secretário João Luiz

Durante a entrevista, o secretário João Luiz foi enfático ao destacar a gravidade do momento e as ações que já vêm sendo executadas desde o início do ano:

“Isso não é novidade, a gente já sabe que essa síndrome em algum momento no ano, sobretudo nesse período de março a junho, a gente tem os picos e tem o aumento dos casos. Então Petrolina, desde o dia 2 de janeiro, quando a equipe foi nomeada, está preparada. Elaborou um plano de contingenciamento, que esse nome parece difícil, mas em bom português, é um plano de barreira. É um plano para que a gente dê a efetividade que a gente já tem dentro das nossas unidades básicas de saúde. A gente incrementa, a gente aumenta, a gente se prepara. E, ao meu ver, com muito respeito, eu acho que não foi feito a nível central, a nível estadual.”

João Luiz também apontou a falta de suporte do Governo Estadual, criticando diretamente a ausência de leitos pediátricos de UTI:

“O Brasil enfrenta essa crise. O ponto central é a ausência de leitos de UTI no estado de Pernambuco. Não adianta abrir hospital de porta aberta, não adianta abrir UPA 24 horas, porque se esse paciente agravar, ele não vai ter para onde ir. São 60 crianças no estado de Pernambuco que esperam por um leito de UTI.”

Resposta a críticas: “É uma narrativa infeliz”, rebate secretário

João Luiz também comentou declarações do secretário estadual Anderson Oliveira, que apontou uma fragilidade da rede municipal. Ele classificou a fala como mal informada:

“A gente lamenta porque ele deve estar sendo muito mal assessorado, ele não conhece a realidade de Petrolina. Petrolina tem 57 unidades básicas de saúde, com mais de 90% de cobertura na atenção básica. Eu fico muito triste porque se trata de um colega. Trabalhei na Secretaria Estadual de Saúde, e nunca vi uma colocação tão infeliz. A própria diretora do HDM, na terça-feira, na frente da promotora, diz que não recebe pacientes verdes no Dom Malan. Então é uma narrativa infeliz. Se eu tenho 57 unidades básicas de saúde, atendi na Policlínica mais de 100 crianças, onde 85% tiveram resolutividade, e apenas 15 foram enviadas ao Dom Malan.”

Redução de 80% nos casos graves, afirma Acácio Andrade

Já o secretário executivo de Vigilância em Saúde, Acácio Andrade, destacou os resultados do plano de contingência, que inclui capacitação de profissionais, aquisição de insumos e a criação de um comitê de monitoramento:

“Desde o início do ano a gente vem se preparando com esse plano de contingenciamento. Esse plano segue fases. Desde janeiro estamos capacitando médicos, enfermeiros, agentes de saúde para identificar sintomas leves e evitar que essas crianças cheguem na gravidade. E os dados mostram que tivemos uma redução de 80% nos casos de SIRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em comparação com o ano passado. Isso mostra a efetividade do nosso plano. Nossa equipe da atenção básica está atendendo os pacientes leves e evitando que eles se tornem graves.”

Acácio também explicou um dos grandes entraves atuais no Dom Malan: os leitos ocupados por pacientes crônicos, sem previsão de alta.

“Hoje nós temos grande número de pacientes crônicos dentro desses leitos. Além de termos um número insuficiente de leitos, ainda temos pacientes que moram lá, esperando home care. Isso reduz drasticamente o giro de leitos.”

A evolução rápida da doença exige vigilância familiar, alerta Fabíola Salvador

A secretária executiva de Regulação, Fabíola Salvador, ressaltou o papel crucial da atenção básica e a importância do olhar atento das famílias:

“A atenção básica atendeu essa criança, foi uma enfermeira, então estamos servindo de barreira sim. Agora, a evolução da doença é diferente nessa sazonalidade. A característica do vírus sincicial respiratório, do rinovírus, é de evolução muito rápida. Então a gente orienta as famílias para que tenham esse cuidado que dona Luciane teve: avaliar e levar a criança para o médico ou postinho logo que perceber algo. Porque de manhã a criança pode estar bem, e à noite já pode estar com pneumonia avançada.”

Sobre a abertura recente da Policlínica para urgência pediátrica, Fabíola reforçou que não foi uma medida improvisada:

“A Policlínica foi aberta agora porque entendemos que o pico da sazonalidade se deu nesta semana. Mas esse plano não foi feito de última hora. Ele faz parte do nosso planejamento desde o início do ano.”

Situação ainda exige apoio do Estado

Apesar dos avanços locais, o município reforça que é preciso suporte da esfera estadual. Segundo João Luiz, 52 cidades da região utilizam o Dom Malan, e o hospital atende uma população estimada em 2 milhões de pessoas. Ele reforçou que a prefeitura está fazendo a sua parte, mas que é preciso uma ação integrada:

“Se for para dar números, a gente mostra. O número de pacientes de Petrolina é natural, porque o hospital está no nosso território. São 400 mil habitantes em Petrolina e 1,6 milhão de fora. Vamos ter calma, vamos nos solidarizar. Eu passei 10 minutos com a secretária estadual de Saúde ao telefone e disse: ‘Vamos abrir a Policlínica já’. E conseguimos.”