Julho Verde: campanha alerta para prevenção do câncer de cabeça e pescoço; especialista destaca sinais e cuidados

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Com a chegada de julho, começa também a mobilização em torno do Julho Verde, campanha que tem como objetivo conscientizar a população sobre os riscos, sinais e formas de prevenção do câncer de cabeça e pescoço. A ação é fundamental para estimular o diagnóstico precoce e garantir mais chances de cura.

De acordo com o cirurgião de cabeça e pescoço Dr. Fábio Oliveira, esses tumores estão entre os mais incidentes no Brasil. “Quando somamos os casos de câncer de laringe e de boca em homens, essa neoplasia ocupa o terceiro lugar em incidência. No caso das mulheres, o câncer de tireoide é o quinto mais comum”, afirma.

Apesar do nome, os cânceres de cabeça e pescoço não incluem o cérebro nem estruturas neurológicas. “Estamos falando de tudo que está fora do encéfalo. São os tumores que atingem boca, laringe, faringe, tireoide e partes moles do pescoço”, explica o especialista.

O tabagismo ainda lidera a lista de fatores de risco para a doença. “Tumores de boca, laringe e faringe estão diretamente relacionados ao uso do cigarro. Parar de fumar é a atitude mais eficaz para prevenir esses tipos de câncer”, destaca o médico. O consumo de álcool, associado ao cigarro, aumenta ainda mais o risco. “Essa combinação pode multiplicar em até cinco vezes a chance de desenvolvimento de tumores.”

Além dos fatores clássicos, o HPV (papilomavírus humano) tem surgido como um agente preocupante, especialmente em casos de câncer de garganta. “O mesmo vírus que provoca lesões no colo do útero também pode afetar a base da língua, as amígdalas e o palato mole”, explica o cirurgião. A transmissão ocorre principalmente por via sexual, mas também pode acontecer por meio de beijos, compartilhamento de talheres e copos.

Segundo Dr. Fábio, a vacinação precoce continua sendo a melhor forma de prevenção. “A vacina contra o HPV é indicada para meninas e meninos, geralmente entre 9 e 14 anos. É uma medida de saúde pública que pode evitar doenças graves na vida adulta.”

Entre os sintomas mais comuns, feridas na boca que não cicatrizam devem chamar atenção. “Se você tem uma afta ou lesão que permanece por mais de 15 dias sem sinais de melhora, é hora de procurar um especialista”, orienta.

Outro sinal de risco é o aparecimento de nódulos no pescoço. “Durante gripes e viroses, é normal o surgimento de ínguas. Mas elas precisam desaparecer em até 30 dias. Se persistirem, especialmente se forem duras, aderidas e com crescimento progressivo, exigem investigação”, alerta.

A rouquidão persistente também deve ser observada com cautela. “Muitos profissionais da voz confundem com cansaço vocal. Mas se a rouquidão durar mais de duas semanas, é fundamental examinar a laringe por meio de uma videolaringoscopia.”

O câncer de tireoide é o mais frequente entre as mulheres e costuma evoluir de forma discreta. “Diferente do que muitos pensam, exames de sangue costumam vir normais. O alerta vem quando a pessoa nota um caroço na parte baixa do pescoço, acima da fúrcula esternal”, explica o cirurgião. Nesses casos, a ultrassonografia é o exame mais indicado para investigar a presença de nódulos.

“Esse é um tumor de comportamento mais indolente, que cresce devagar e tem mortalidade muito baixa. Mesmo assim, merece atenção. Quando o paciente pode custear exames periódicos, como a ultrassonografia, isso ajuda no acompanhamento.”

A principal barreira para o diagnóstico precoce, segundo o especialista, ainda é a falta de informação. “As pessoas normalizam sinais de alerta. Acham que é só um cravinho, uma afta ou que foi algo que comeu. Deixam passar, esperam demais. Isso pode custar caro”, reforça.

O impacto do tempo entre o surgimento dos sintomas e o início do tratamento é enorme. “Nos tumores iniciais, como T1 ou T2, temos até 95% de chance de cura. Já nos mais avançados, como T4, essa taxa cai para 50%, com sequelas graves, como traqueostomia permanente ou uso de sonda alimentar.”

Dr. Fábio destaca que Petrolina tem conseguido oferecer tratamento de qualidade para pacientes da região. “Temos tecnologia, equipe treinada e estrutura para tratar cânceres de tireoide, boca e faringe. O que fazemos aqui é o que se faz nos maiores centros oncológicos do Brasil.”

Segundo ele, a cirurgia de cabeça e pescoço exige precisão e suporte multidisciplinar. “É uma região delicada, com estruturas vitais. Por isso, o hospital precisa ter suporte completo: fonoaudiólogo, fisioterapia, tecnologia para monitorar nervos e garantir qualidade de vida no pós-operatório.”

O médico finaliza com um alerta direto:

“O maior erro ainda é o hábito de deixar tudo para depois. Vivemos tão ocupados que nos colocamos por último. Mas se a gente não estiver bem, não cuida de ninguém. Apareceu uma ferida que não cicatriza, mudou a voz, surgiu um caroço? Não normaliza. Procure ajuda.”