Campesinos protestam contra criação da Reserva Tatu-bola e cobram mudanças no modelo de proteção ambiental

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A criação da Reserva de Vida Silvestre Tatu-bola, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral que abrange áreas dos municípios de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, continua sendo alvo de críticas e protestos por parte das famílias que vivem e produzem há décadas na região. Nesta semana, o presidente da Associação Comunitária dos Campesinos Atingidos pela Reserva, José Aldenilson Campos, participou ao vivo do programa Nossa Voz, da Rádio Grande Rio FM, e fez duras críticas à forma como a reserva foi implantada, classificando o processo como “criminoso e desrespeitoso”.

“Foi uma reserva criada de forma criminosa, com desrespeito a nós agricultores, sem analisar, sem ver o tanto que ia abalar o psicológico dos agricultores. Pessoas estão com depressão, pessoas já chegaram a falecer”, desabafou José Aldenilson, em um apelo emocionado.

A reserva, que tem mais de 110 mil hectares, impede qualquer tipo de ocupação ou atividade produtiva no seu interior. Segundo Aldenilson, isso tem resultado em prejuízos financeiros incalculáveis para os agricultores que vivem na região há gerações. “Minha fazenda, que há pouco tempo valia 1 milhão e 200 mil reais, hoje não vale 100 mil. Isso é um crime com os agricultores”, afirmou.

O presidente da Associação também questionou a base técnica do estudo que resultou na criação da reserva. “Foi um levantamento feito pela Univasf. Colocaram dentro da reserva áreas do Exército, quilombolas, BR asfaltada. Isso é inadmissível em uma Reserva de Proteção Integral”, denunciou.

A Associação, segundo ele, já esteve duas vezes com a governadora Raquel Lyra, que determinou que a CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente) refizesse o levantamento da área. Desta vez, de forma presencial, com escuta das comunidades e reuniões com representantes locais. “A CPRH fez um trabalho sério, andou toda a área, fez oficinas, conversou com representantes estaduais e municipais. Hoje estamos na reta final para a mudança da categoria da reserva para uma APA (Área de Proteção Ambiental)”, disse.

A mudança de categoria é vista como uma solução intermediária para o impasse, já que as APAs permitem o uso sustentável da terra, com algumas restrições. No entanto, segundo Aldenilson, há preocupação com promessas que ainda não foram cumpridas. “Foi prometido que, com a APA, a gente voltaria a viver normalmente, que poderíamos desmatar os 80% previstos pela legislação, mas até agora isso não está claro. A gente já doa 20% da terra para preservar, e mesmo assim estamos sendo perseguidos”, criticou.

Durante a entrevista, o líder comunitário também cobrou mais representatividade política para o Sertão do São Francisco. “Hoje a gente só conseguiu algum apoio graças ao deputado Luciano Duque, de Serra Talhada. Nenhum deputado de Petrolina apareceu para nos defender. A vereadora Edineusa, de Lagoa Grande, foi quem trouxe o apoio de Duque. E o ex-vereador Elismar tem estado conosco em todas as reuniões”, disse.

Além de cobrar a mudança de categoria da reserva, os moradores pedem que os recursos públicos destinados à preservação ambiental cheguem diretamente às comunidades atingidas. “Não é justo que as prefeituras ou o governo estadual recebam esse dinheiro e não invistam nada nas áreas preservadas. Se há recursos para preservação, que sejam destinados a quem está lá, vivendo e cuidando da terra”, finalizou Aldenilson.

Próximos passos

A expectativa da Associação dos Campesinos é que, com a nova avaliação da CPRH e a crescente mobilização política, a categoria da unidade seja de fato alterada para uma APA, o que permitiria a permanência das famílias em suas terras, com atividades produtivas sustentáveis. A mudança depende agora de decisão do governo estadual e do reconhecimento legal da nova configuração da unidade de conservação.