O Sertão de Pernambuco vem sendo destaque no maior evento de ciência e tecnologia da América Latina. Estudantes e professores de escolas da região marcaram presença na SBPC Jovem 2025, que integra a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no Recife. Durante os dias 16 e 17 de julho, os participantes apresentaram projetos voltados à temática ambiental, com soluções criativas, consciência ecológica e forte vínculo com a realidade local.
Entre os destaques está o trabalho desenvolvido por Ygo Yuri e Evellyn Ribeiro, estudantes do 3º ano da Escola Técnica Estadual (ETE) Professora Maria Wilza Barbosa de Miranda, no município de Petrolina, que propôs a incorporação da farinha do rejeito da uva na fabricação de barras de cereais utilizando resíduos provenientes de indústrias de sucos e vinhos da região. A iniciativa une sustentabilidade e alimentação saudável ao transformar um material que seria descartado em um produto nutritivo e viável para o consumo humano.
“Esse projeto surgiu através de uma problemática que foi encontrada no Vale São Francisco, onde são produzidas mais de 50 mil toneladas de uvas vitiviníferas. Após a extração para retirada de sucos e vinhos, 25 mil toneladas são de rejeitos que não são utilizados na produção dos vinhos. Então, a partir disso, a gente reaproveita esse material para produzir barras de cereais nutritivas utilizando as sementes, a casca e o caule da uva descartada”, explicou Ygo.
Outra iniciativa que chamou atenção foi o projeto “Filtropinha”, realizado pelas estudantes Angela Rafaela, Beatriz Vitória, Eduardo da Silva e Luana Noêmia do 3º ano da ETE Professor Paulo Freire, em Carnaíba. A proposta consiste na construção de um filtro artesanal utilizando resíduos de pinha, fruta típica da região, e materiais de baixo custo, capaz de purificar água de forma simples e acessível. Os resultados apontam uma eficiência significativa na redução de impurezas e no aumento da taxa de germinação em testes com sementes, evidenciando o potencial da solução como alternativa para regiões com escassez hídrica.
“O Filtropinha surgiu da necessidade de transformar um problema em uma solução para a nossa comunidade quilombola. Nessa comunidade existem três casas para produção da farinha de mandioca. No processo de produção da farinha é gerado um resíduo chamado manipueira que é tóxico. Pensando em toda essa problemática, a gente desenvolveu um filtro feito a partir das cascas de pinha. Nosso objetivo principal é reduzir a toxicidade da manipueira e utilizar o líquido tratado como um substituto, reduzindo os impactos ambientais e a quantidade de água gasta”, disse Beatriz.
Para a estudante Luana Noêmia a participação no maior evento de ciência e tecnologia é motivo de muito orgulho. “É muito gratificante poder vir para um evento gigante como o SBPC, principalmente representando uma comunidade quilombola que muitas vezes é negligenciada. A gente mostra que todo mundo tem o potencial, independente da região, de conseguir fazer algo grande e impactar positivamente a sociedade. É muito bom poder ver trabalhos de outras pessoas, de outras escolas fazendo uma verdadeira troca de aprendizagem. Então, estar aqui, tendo essa oportunidade incrível, é maravilhoso”, completou.
Entre os trabalhos do Sertão que participaram da Mostra de Professores na SBPC Jovem, a docente Cristiane Soares, da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) de Itaparica, do município de Jatobá, apresentou o trabalho “Educação Ambiental no Ensino de Biologia: microecossistemas como estratégias didáticas”. A proposta utiliza a construção de canteiros ecológicos como ferramenta pedagógica, unindo o ensino de conceitos científicos à promoção do autocuidado, da convivência e do pertencimento ambiental.
“Os estudantes foram incentivados a nomear, cuidar e personalizar os espaços, relacionando-os aos conteúdos de ecologia, biomas e cadeias alimentares, além de produzir materiais avaliativos criativos, como cards ilustrados.
“Nós utilizamos canteiros que podiam ser usados como uma forma de plantar algumas mudas de plantas, em sua maior parte medicinais, fazendo essa ligação dos estudantes com a natureza. Foram desenvolvidos vários canteiros por equipes dentro da escola, onde cada canteiro foi trabalhado questões conceituais como ecossistemas, cadeia alimentar, meio ambiente e preservação. A gente conseguiu perceber dentro desse contexto todo, o que é o objetivo da educação ambiental que sensibiliza os nossos estudantes a ter um olhar diferenciado do meio ambiente”, frisou Cristiane.
SBPC
Promovida desde 1949, a reunião organizada pela SBPC, uma entidade civil sem fins lucrativos fundada em 1948, tem atuação destacada na promoção da ciência, educação e desenvolvimento tecnológico no Brasil. Reconhecida nacional e internacionalmente, a SBPC realiza anualmente o maior evento científico da América Latina, reunindo pesquisadores, professores, estudantes e representantes de instituições de todo o país. Para a edição de 2025 do encontro foi escolhida a temática “Progresso é Ciência em todos os Territórios” e contará com uma programação gratuita e aberta ao público.
Crédito: Demison Costa