O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, trouxe um alerta para a Bahia: o estado lidera, mais uma vez, o ranking nacional de homicídios e mortes decorrentes de ações policiais em números absolutos. Entre os dados que mais chamaram atenção, a cidade de Juazeiro aparece como a terceira mais violenta do país em número de Mortes Violentas Intencionais (MVIs), com uma taxa de 76,2 mortes para cada 100 mil habitantes em 2024.
Para falar sobre o assunto, o blog Nossa Voz recebeu nos estúdios o coronel Wildon Teixeira dos Reis, comandante de policiamento da Região Norte da Bahia. Durante a entrevista, o oficial contestou os dados do anuário e defendeu o trabalho da Polícia Militar na cidade e em toda a região.
“Foi estranho receber essa notícia. Especialmente porque estamos em queda nos índices. Só no mês de julho deste ano tivemos uma redução de 40% nos homicídios em Juazeiro. E no primeiro semestre, conquistamos o PDP 1, o Prêmio de Desempenho Policial. Apenas dois comandos em todo o estado conseguiram. Isso mostra que nossa tropa está atuando de forma eficaz”, afirmou o comandante.
A região Norte da Bahia, segundo o coronel, abrange 19 municípios sob sua responsabilidade direta, com destaque para Juazeiro, que teria apresentado, segundo ele, a maior redução proporcional de homicídios do estado: cerca de 26%.
Estatística proporcional: Juazeiro x Petrolina
Apesar de Juazeiro aparecer em destaque negativo no anuário, dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) revelam números que colocam a cidade em um contexto comparável à vizinha Petrolina.
Juazeiro (BA) registrou 58 homicídios no primeiro semestre de 2025, com uma população estimada em 235.816 habitantes. Já Petrolina (PE) contabilizou 95 vítimas, em uma cidade com 386.786 moradores.
Ao calcular a taxa proporcional de homicídios por 100 mil habitantes:
- Juazeiro: 24,6 por 100 mil
- Petrolina: 24,5 por 100 mil
Ou seja, a taxa de violência letal nas duas cidades é praticamente idêntica, com uma diferença mínima a favor de Petrolina, contrariando a imagem de que Juazeiro estaria em situação crítica isolada.
Críticas à metodologia e à percepção da cidade
O coronel Wildon contestou duramente a metodologia utilizada pelo anuário nacional.
“É surreal. Não corresponde à realidade de Juazeiro. Nós temos policiais que circulam fardados em motocicletas, sem sofrerem ameaças. Não temos histórico de ônibus queimados, barricadas ou toque de recolher. Não faz sentido colocar nossa cidade nesse ranking”, disse ele.
O comandante também destacou o crescimento populacional da cidade como possível fator de distorção dos dados e a inclusão, no anuário, de mortes em confrontos com a polícia — os chamados “autos de resistência” — como se fossem homicídios comuns.
“Em 2024, tivemos 42 casos de confronto armado, onde marginais foram neutralizados. Isso não pode ser classificado como homicídio. São situações de legítima defesa por parte das nossas guarnições, muitas vezes diante de criminosos fortemente armados”, explicou.
Investimentos e sensação de segurança
Wildon reforçou que a sensação de segurança em Juazeiro é real e crescente, e citou como exemplo visitantes de outros estados que andam tranquilamente na orla da cidade, com celulares e relógios à mostra.
“Durante o São João, recebi casais do Espírito Santo que ficaram impressionados com a tranquilidade daqui. Comentaram como é possível andar nas ruas com celular na mão, coisa impensável em muitas capitais”, relatou.
O comandante também fez questão de mencionar os investimentos recentes do governo estadual:
“Recebemos armamento de ponta como 50 fuzis israelenses ARES, pistolas Glock, quase 40 novas viaturas e há mais oito Dusters chegando. Sem falar nas ações em educação e formação de novos policiais. O governador Jerônimo Rodrigues esteve aqui por cinco dias e entregou pessoalmente a nova sede do CPR Norte”, lembrou.
Responsabilidade coletiva e crítica ao sensacionalismo
Para o coronel, a violência não pode ser enfrentada apenas com ação policial. Ele destacou a importância da escola em tempo integral e da responsabilidade das famílias, citando o caso de um policial baleado por um adolescente durante tentativa de assalto em janeiro deste ano.
“Dois menores tentaram roubar a moto de um policial. Um deles, de 15 anos, atirou na perna dele. O policial só não morreu porque Deus botou a mão. Depois, os dois foram localizados e vieram a óbito em confronto. Criança tem que estar na escola ou praticando esporte, não no tráfico”, alertou.
Por fim, o comandante reforçou que dados mal interpretados podem prejudicar o turismo e os investimentos na cidade.
“Dizer que Juazeiro é mais violenta que o Rio ou São Paulo é irresponsável. Não temos casos de repercussão nacional. Não temos milícia comandando comunidades. É preciso mais seriedade ao divulgar esse tipo de informação”, concluiu.