Nesta quarta-feira (27), o Sertão do São Francisco registrou um marco histórico na luta pela reforma agrária com a criação do Projeto de Assentamento Soberania Popular. Publicada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a decisão destina 600 hectares do imóvel rural Barra do Bebedouro para assentar 100 famílias que há anos reivindicam o direito à terra.
A área foi doada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) ao Incra em agosto de 2025 e será utilizada exclusivamente para fins de reforma agrária. Localizada em região estratégica, terá como vizinhos os municípios pernambucanos de Lagoa Grande, Afrânio e Dormentes, além das cidades baianas de Casa Nova e Juazeiro.
O processo de criação do assentamento é resultado direto da mobilização social. O Acampamento Embrapa, ocupado nos últimos anos, tornou-se símbolo da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no semiárido. Em 2024, o Incra realizou um levantamento detalhado no acampamento, considerado um marco para dar visibilidade à realidade local e preparar as bases para futuros assentamentos.
Durante o lançamento do assentamento, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, ressaltou a importância política e social do projeto. Segundo ele, “estamos criando um assentamento aqui no perímetro irrigado do São Francisco, numa área que pertence à Codevasf e vai ter a pesquisa da Embrapa e, ao mesmo tempo, a irrigação da Codevasf. É um assentamento exemplar que vai estar já no polo dinâmico da produção de frutas para o mercado interno e para exportação. Aqui também teremos parcerias para produção de vinho. Enfim, aqui é o exemplo de que o pequeno terá acesso a toda e moderna oportunidade que o Brasil favorece. É a luta do governo Lula para inclusão das pessoas pela via econômica, pela oportunidade de transformação da vida das pessoas, pelo fim dos privilégios.”
O ministro detalhou ainda os próximos passos do governo federal para garantir infraestrutura e assistência técnica às famílias assentadas. “A terra chega hoje junto com assistência técnica, pesquisa da Embrapa, crédito para as famílias construírem suas moradias, enfim, toda essa infraestrutura, a irrigação. Toda essa estrutura chega junto para que o agricultor seja bem-sucedido”, afirmou.
Paulo Teixeira também destacou a relevância da reabertura da superintendência do Incra no Médio São Francisco. Segundo ele, “sempre tivemos aqui um escritório do Incra, mas os governos anteriores o fecharam. Aqui é um lugar com muitos assentamentos de reforma agrária. A reabertura do escritório garante prioridade para a reforma agrária, o apoio às famílias assentadas pelo Governo Federal.”
Sobre o acesso à água, o ministro garantiu que a irrigação será promovida pela Codevasf. “Teremos terra irrigada, assistência técnica, crédito, pesquisa e parcerias com grandes produtores para comercialização. A Embrapa é hoje o polo tecnológico da agricultura mais avançada. Ela desenvolveu tecnologias para o semiárido e queremos essa aproximação porque o agricultor familiar, o assentado da reforma agrária, tem que ter acesso às tecnologias mais avançadas de ponta para desenvolver sua produção.”
O superintendente da Codevasf, Edilazio Wanderley, reforçou a importância da parceria entre órgãos federais, Embrapa e Incra. Segundo ele, “hoje damos um passo muito importante no fortalecimento da reforma agrária e no desenvolvimento e integração da nossa região. Aqui, junto com o ministro Paulo Teixeira, o presidente da Codevasf, Lucas Oliveira, e outros superintendentes regionais, damos um passo importante de parceria entre Embrapa, Incra e Codevasf para criar um assentamento modelo de produção.”
Ele explicou que a área era da Codevasf e foi cedida ao Incra para o lançamento do assentamento da reforma agrária. “Em parceria com a Embrapa e outros parceiros, garantiremos infraestrutura hídrica, tecnológica e apoio para que as famílias tenham um modelo de produção diferenciado, gerando segurança alimentar, renda e desenvolvimento integrado. Hoje temos 600 hectares; o Incra fará estudo de viabilidade para lotear os terrenos e assentar as famílias. Estima-se que sejam cerca de 100 famílias atualmente acampadas aqui. O objetivo é que cada lote seja uma unidade produtiva, capaz de gerar emprego, renda e riqueza.”
Wanderley acrescentou que, atualmente, a área conta com abastecimento precário por poços, mas que a proximidade com projetos públicos de irrigação, como os de Bebedouro e Pontal, permitirá levar toda a infraestrutura mínima necessária para garantir água e produção. “Essa parceria Codevasf-Incra é muito positiva. A Codevasf, com capilaridade e expertise técnica, se soma a outros órgãos e à Embrapa para oferecer desenvolvimento, melhoria da qualidade de vida e dignidade às famílias. É um Brasil grande novamente, soberano e ao lado do povo que precisa”, concluiu.