O Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco (NEMA/Univasf) esteve presente no “Workshop de Especialistas do Bioma Caatinga: Desafios e Estratégias de Conservação frente às Mudanças Climáticas”, evento que reuniu pesquisadores, gestores ambientais e representantes de comunidades locais para discutir os impactos das mudanças climáticas sobre o bioma e propor estratégias de conservação e uso sustentável. O evento ocorreu dentro da 3ª Conferência Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID III).
O diretor de Pesquisa e Planejamento do NEMA, Luís Francisco Mello Coelho, destacou que o encontro foi um espaço essencial para pensar políticas públicas e tecnologias sociais a partir de dados científicos e do conhecimento tradicional das populações do semiárido. “A Caatinga já perdeu cerca de 11% da sua vegetação nativa nas últimas décadas, o que representa milhões de hectares em processo de degradação. Essa perda compromete não apenas a biodiversidade, mas também a sobrevivência de comunidades que dependem da floresta para ter água, solo fértil e sombra. É urgente integrar informações de campo, imagens de satélite e saberes locais para orientar ações de restauração e adaptação climática”, afirmou.
Ele ressaltou que plataformas como o MapBiomas e o SAD Caatinga, que monitoram o uso da terra e a cobertura vegetal, são ferramentas estratégicas para identificar áreas prioritárias de recuperação e avaliar o impacto das políticas ambientais. Segundo Coelho, é preciso aprimorar esses instrumentos para que o monitoramento ajude a evitar perdas irreversíveis e sirva como base para decisões que envolvem desde gestores até agricultores familiares.
O coordenador do NEMA/Univasf, professor Renato Garcia, reforçou a relevância do documento síntese que será produzido a partir do workshop. “Este material vai subsidiar recomendações para a COP 30 e, principalmente, fortalecer políticas públicas no âmbito local. Precisamos de estratégias que considerem a restauração do solo, a recuperação da vegetação nativa e o uso sustentável dos recursos, sempre com participação ativa das comunidades. Só assim vamos garantir segurança hídrica, segurança alimentar e preservação da biodiversidade da Caatinga”, explicou. Garcia também alertou para os baixos índices de proteção legal do bioma. Apenas 1,3% da Caatinga está coberta por unidades de conservação de proteção integral e, mesmo somando as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), a proteção não chega a 10% do território. Para ele, esse cenário exige esforços urgentes diante da intensificação de eventos extremos, como secas prolongadas e aumento da aridez.
A participação do NEMA/Univasf também se estendeu à mesa “Do CAR à Regularização Ambiental: restaurando a Caatinga, enfrentando a desertificação e apoiando as NDCs”, realizada em 17 de setembro, às 15h, durante a COP Nordeste, evento preparatório para a COP30. A discussão tratou do Cadastro Ambiental Rural e da regularização ambiental como instrumentos estratégicos de ordenamento territorial privado no Nordeste, com destaque para a Caatinga. A mesa reuniu representantes do Serviço Florestal Brasileiro, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, da SEMACE do Ceará, do governo do Rio Grande do Norte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, além da Presidência da COP30 e da própria Univasf, que apresentou os desafios da recuperação da Caatinga em Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais. O debate mostrou avanços, desafios e oportunidades da política em diferentes escalas e reforçou a importância da ciência e da extensão universitária na restauração, no combate à desertificação e no fortalecimento da agricultura sustentável.
O evento, realizado em paralelo à Terceira Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID III), contou com rodas de conversa, apresentações técnicas e debates sobre restauração ecológica, conservação da biodiversidade e integração entre ciência e saberes tradicionais. A participação do NEMA/Univasf mostra como a instituição tem se dedicado à pesquisa aplicada à busca de soluções que unam ciência, sociedade e políticas públicas para garantir o futuro da Caatinga frente às mudanças climáticas.
Texto: Jaquelyne Costa
Assessora de Comunicação do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna/Univasf)