Saúde do coração feminino: doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte entre as mulheres no Brasil

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As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte entre as mulheres no Brasil, mas ainda são amplamente subestimadas, tanto pelos pacientes quanto por muitos profissionais de saúde. Sintomas diferentes dos homens, influências hormonais, gravidez e menopausa tornam a saúde do coração feminino um tema que exige atenção especial.

Hoje, o Nossa Voz recebeu a médica cardiologista Dra. Elisandra de Souza Alves para falar sobre doenças do coração, hipertensão, colesterol e os cuidados específicos que as mulheres precisam ter em cada fase da vida. Durante a entrevista, a especialista explicou como identificar sinais de alerta, prevenir complicações e fortalecer o coração com hábitos saudáveis e acompanhamento médico adequado.

De acordo com a Dra. Elisandra, existe uma percepção equivocada de que doenças do coração afetam mais os homens, o que faz com que muitas mulheres negligenciem o cuidado preventivo.

“A doença cardiovascular incide mais cedo nos homens, geralmente a partir dos 55 anos. Já nas mulheres, ela aparece mais tardiamente, por volta dos 65 anos, porque os hormônios têm um papel protetor. Mas o que a gente tem observado é que, com o aumento do estresse, da obesidade e do sedentarismo, essa idade vem diminuindo”, explicou.

A especialista ressalta que os sintomas também são diferentes.

“Enquanto os homens sentem aquela dor forte no peito, tipo aperto, as mulheres podem apresentar sintomas atípicos, como desconforto na boca do estômago, falta de ar, náusea e sudorese. Por isso, muitas vezes, elas demoram a buscar atendimento médico.”

A hipertensão arterial é considerada o principal fator de risco para doenças cardiovasculares e, segundo a cardiologista, muitas mulheres só descobrem o problema em estágios já avançados.

“O diagnóstico da hipertensão depende da aferição da pressão arterial. É fundamental que toda mulher tenha o hábito de medir a pressão, seja em consultas de rotina, seja no ginecologista. Assim, é possível detectar e tratar precocemente”, destacou a médica.

O colesterol alto também exige atenção.

“O colesterol elevado não dá sintomas. A única forma de saber é por meio de exames laboratoriais. Por isso, toda mulher acima dos 40 anos deve fazer um check-up anual, com dosagem de colesterol, triglicerídeos e glicose.”

Além dos fatores biológicos, aspectos emocionais também influenciam diretamente a saúde do coração feminino.

“A sobrecarga emocional, o estresse, a insônia e a dupla ou tripla jornada são grandes desafios. Muitas mulheres cuidam de todos, menos delas mesmas. E isso adoece. O autocuidado é essencial, e em muitos casos a terapia pode ser uma aliada importante”, pontuou a cardiologista.

Gravidez e menopausa: fases que exigem atenção especial

Durante a gravidez, condições como a pré-eclâmpsia e a hipertensão gestacional podem ser sinais de alerta para problemas cardíacos no futuro.

“Estudos mostram que gestantes ativas, que mantêm exercícios leves e acompanhamento adequado, reduzem o risco dessas complicações. Já quem desenvolve pré-eclâmpsia deve seguir com acompanhamento cardiológico após o parto, pois o risco cardiovascular aumenta”, destacou.

Na menopausa, a queda hormonal altera o metabolismo feminino e pode favorecer o surgimento de doenças cardiovasculares.

“Com a redução dos hormônios, a mulher começa a acumular mais gordura abdominal, o colesterol tende a subir e há resistência à insulina. É o momento em que a proteção natural do corpo se perde, e por isso o risco aumenta”, explicou.

A médica lembra ainda que mulheres que entram em menopausa precoce devem ter atenção redobrada.

“Elas perdem essa proteção hormonal antes do tempo e, consequentemente, o risco cardiovascular cresce. É importante que o acompanhamento médico seja contínuo e que se avalie, quando indicado, a possibilidade de terapia hormonal.”

A prevenção das doenças cardiovasculares passa por uma rotina equilibrada, com alimentação saudável e prática regular de exercícios.

“As dietas mais recomendadas são a Dieta Mediterrânea e a Dieta DASH, que priorizam alimentos naturais, frutas, verduras, legumes, grãos integrais e gorduras boas, como o azeite de oliva extravirgem. O grande vilão ainda é o excesso de sal e de produtos ultraprocessados”, reforçou a Dra. Elisandra.

Sobre a prática de exercícios, a especialista é enfática:

“Qualquer atividade é melhor do que nenhuma. O ideal é praticar pelo menos 150 minutos por semana de atividade aeróbica, como caminhada, corrida, natação, dança ou ciclismo e incluir duas sessões de musculação para fortalecimento muscular.”

A cardiologista lembra que as mulheres precisam de um acompanhamento regular com profissionais de saúde.

“Não precisa ser apenas o cardiologista. O médico da família, o clínico geral ou o ginecologista podem fazer a aferição de pressão, pedir exames e encaminhar quando houver alterações. O importante é não deixar de fazer o acompanhamento anual, especialmente a partir dos 40 anos. Cuidar do coração é cuidar da vida. E nós, mulheres, precisamos lembrar que não existe saúde da família sem saúde da mulher”, concluiu.