O persistente problema da falta d’água em Petrolina voltou a acender os ânimos na Câmara de Vereadores. Na sessão desta terça-feira (4), o tema foi o principal assunto discutido no plenário da Casa Plínio Amorim, com discursos acalorados, trocas de farpas e até defesa de privatização do sistema de abastecimento — uma ideia que dividiu opiniões entre os parlamentares.
O primeiro a subir à tribuna foi Ronaldo Cancão, que abriu os debates com duras críticas à Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e ao Governo do Estado. Ele fez um resgate histórico de investimentos e apontou o crescimento populacional como agravante do problema.
“O armazenamento de água seria levado para 3 milhões de metros cúbicos e não foi feito nada. A população cresceu cem mil pessoas de 2014 pra cá e não houve investimento algum na oferta d’água. É inconcebível”, afirmou. Cancão ainda cobrou que a governadora Raquel Lyra inclua no planejamento estadual novas obras de adução. “É preciso colocar metas de investimento também na adutora de Dormentes a Rajada”, completou.
Na sequência, o vereador Ronaldo Silva, aliado da governadora, respondeu dizendo que os investimentos já estão em curso. “Esses 100 milhões de reais já estão sendo aplicados em Petrolina. As obras começaram, e convido os colegas vereadores a visitar os canteiros e ver o que está sendo feito”, rebateu.
A intervenção de Silva foi o estopim para a reação de Capitão Alencar, que negou qualquer tentativa de aproximação política com o governo estadual e elevou o tom. “Querem me calar com cinco, dez empregos? Fiquem com seus empregos. Eu não recebi nada da governadora. A Compesa é líder de audiência nas rádios — mas de reclamação”, ironizou. O vereador ainda relatou a gravidade da situação. “Tem bairro com 60 dias sem água. Até o uniforme do meu time, o Real Petrolina, está sujo, sem lavar, porque não tem água. É uma vergonha.”
Em seu discurso, Dhiego Serra fez um apelo direto ao prefeito Simão Durando. “Com todo respeito, Simão, o senhor é o prefeito dessa cidade. Vá ao governo do estado, bata na porta da governadora, peça uma audiência, e se for preciso, decrete estado de calamidade. A maior humilhação é a do povo sem água pra beber”, disse. Serra, que defende a privatização da Compesa, argumentou que o modelo poderia atrair investimentos e melhorar o sistema. “Eu sei da importância que é privatizar um sistema como esse. O quanto de dinheiro pode chegar pra nossa região e melhorar o abastecimento”, afirmou.
O líder do governo, Diogo Hoffmann, confirmou que o prefeito já tentou quatro vezes audiência com a governadora Raquel Lyra para tratar da crise. “Até agora não houve retorno. É preciso agir com urgência. O povo do João de Deus, do Pedra Linda, do Beberudo, da Área Branca, todos estão com sede”, destacou. Hoffmann disse ainda que vai reiterar o pedido de audiência pública e propôs a formação de uma comissão de vereadores para ir até o Palácio do Campo das Princesas cobrar providências.
Encerrando o debate, o líder da oposição, Gilmar Santos, criticou tanto o Governo do Estado quanto o grupo político que comanda Petrolina há quase 20 anos. “Parece que o problema da água começou agora. Esse grupo político que hoje acusa a governadora apoiou todos os governos que deixaram a Compesa nesse caos. Não tem moral pra falar em descaso”, atacou.
Gilmar também rebateu com veemência a proposta de privatização levantada por alguns vereadores. “Querem vender a Compesa? Olhem o exemplo de São Paulo. A privatização da Sabesp aumentou as tarifas, piorou o serviço e multiplicou os lucros dos diretores. O povo pobre é quem paga a conta”, afirmou.
Para ele, o caminho é fortalecer a gestão pública e cobrar transparência. “Precisamos de auditoria, planejamento urbano e responsabilidade. Privatização não é solução, é transferência de lucro pra empresa privada e prejuízo pra população”, concluiu.
O debate terminou sem consenso, mas com uma certeza: a crise hídrica de Petrolina se tornou também uma disputa política — entre Prefeitura e Governo do Estado, entre discursos de gestão e promessas de modernização, e agora, entre quem quer privatizar e quem defende o controle público da água.



