A Câmara Municipal de Petrolina sediou, nesta terça-feira (18), a Sessão Solene em alusão ao Novembro Negro, proposta pelo vereador Professor Gilmar Santos (PT). O evento reuniu movimentos sociais, povos de terreiro, artistas, educadores, lideranças de ocupações urbanas e representantes do movimento negro da região. A cerimônia homenageou a resistência do povo preto e reforçou o compromisso pela igualdade racial, pela liberdade religiosa e pela garantia de direitos.
Logo na abertura, Gilmar Santos vinculou as lutas históricas do povo negro aos desafios atuais da cidade — especialmente o direito à moradia digna. O vereador destacou que a memória de Palmares segue viva nas ocupações urbanas, onde a maioria das famílias é negra.
“Não faz sentido lembrar a luta do quilombo dos Palmares e não lembrar que Palmares continua vivo nas ocupações de luta por moradia”, afirmou. O vereador ressaltou que Petrolina possui cerca de dez ocupações, com milhares de famílias à espera de políticas públicas de habitação. “Hoje nós temos mais de 40 mil inscritos para apenas 500 unidades ofertadas. Até quando ficaremos sem uma política municipal que complemente o Minha Casa, Minha Vida?”.
O vereador também denunciou a operação da Prefeitura na ocupação Palmares, ocorrida no dia 17 de novembro, quando barracos foram derrubados. “Uma mãe que acabou de fazer uma cesariana recebeu a notícia de que seu barraco seria destruído. Se isso não for racismo, a gente não sabe o que é”, declarou.
Representando a comunidade, Keyla Albuquerque relatou que a ação ocorreu sem aviso prévio e com destruição de barracos de famílias que estavam fora trabalhando. “Chegaram derrubando tudo na maior violência. Passaram por cima de barraco com cachorro parido dentro, mataram os filhotes, agrediram um moço alcoolizado e não deixaram ninguém se defender”, disse. Segundo ela, multas foram entregues apenas após a demolição. “Deram 48 horas para tirar o que restou. Quem estava trabalhando perdeu tudo”.
Lideranças religiosas e Frente Negra reforçam resistência do povo preto
A liderança religiosa, Yá Onirá Odô, do Ilê Axé Ijexá Oká Sultão das Matas, ressaltou a importância da união e da resistência da população negra e dos povos de terreiro. “Nós não devemos apenas sobreviver, temos direito de viver. De usar nossos fios de conta em qualquer lugar, inclusive aqui, na casa do povo”, disse. Para ela, o Novembro Negro deve fortalecer a luta cotidiana: “Dia de preto é todo dia. Resistimos para não sermos esquecidos”.
O professor Juscelino Ribeiro, da Frente Negra do Velho Chico, trouxe uma reflexão histórica sobre como o racismo se estrutura no país. “O Brasil teve mais de 350 anos de escravização e mais de 4 milhões de negros sequestrados da África. Mesmo após a abolição, fomos empurrados para a marginalidade sem qualquer reparação”, afirmou.
Ele provocou o público a refletir sobre a desigualdade: “Já se perguntaram qual é a cor predominante nos espaços de poder? Ou por que religiões de matriz africana são perseguidas em um país de maioria cristã?”.
Compromisso político
A sessão reforçou a necessidade de consolidação de uma agenda permanente de combate ao racismo e garantia de direitos em Petrolina. Movimentos cobraram a criação de políticas municipais de habitação, enfrentamento à intolerância religiosa e ações efetivas voltadas à população negra.
O vereador Gilmar Santos concluiu destacando que os desafios enfrentados hoje são continuidade da luta histórica do povo negro. “Celebrar o Novembro Negro é reconhecer nossa ancestralidade, mas também denunciar cada violência e exigir políticas que garantam vida digna ao nosso povo”.



