Petrolina se tornou, nesta sexta-feira (21), o centro de um dos debates mais importantes do país sobre políticas públicas voltadas à prevenção da violência. A cidade recebeu três referências nessa área: Jorge Melguizo, responsável por parte da transformação de Medellín; Murilo Cavalcanti, idealizador da Rede Compaz do Recife; e o deputado federal Lucas Ramos, articulador da expansão do modelo no Congresso. A presença dos especialistas ocorre em um momento decisivo: as obras do Compaz Irmã Dourado avançam e a expectativa é que o equipamento seja inaugurado em março de 2026.
A construção do Centro Comunitário de Paz de Petrolina foi anunciada em 2022, quando o Governo de Pernambuco publicou o edital para implantação do Compaz Irmã Dourado. O Gabinete de Projetos destinou R$ 11,8 milhões para a contratação da empresa responsável pela obra, no antigo Centro da Juventude, no bairro Areia Branca. O deputado federal Lucas Ramos foi o responsável por pensar, articular e viabilizar o projeto que agora entra na reta final.
Durante entrevista ao programa Nossa Voz, Lucas Ramos ressaltou o impacto social esperado com a chegada do equipamento. Segundo ele, “estamos muito próximos da inauguração do primeiro Compaz fora do Recife. A requalificação do Centro da Juventude foi iniciada ainda quando eu era secretário de Ciência e Tecnologia, no governo Paulo Câmara. O projeto, inicialmente orçado em R$ 11 milhões, foi continuado pela governadora Raquel Lyra. A previsão é inaugurar em março e, no semestre seguinte, iniciar o plano de ocupação do espaço na Avenida Monsenhor Ângelo Sampaio, que vai atender toda Petrolina.”
O deputado destacou ainda que a intenção é interiorizar o modelo do Compaz, levando serviços e oportunidades sobretudo para a periferia. “Queremos garantir presença do poder público, serviços essenciais, prática esportiva, convivência e lazer. Estamos trazendo para Petrolina a maior fábrica de cidadania que o Brasil e o mundo já conheceram.”
O urbanista colombiano Jorge Melguizo, um dos arquitetos da transformação de Medellín, apresentou números que sintetizam o impacto do modelo de segurança cidadã: a cidade reduziu 98% das mortes violentas em três décadas. Ele explicou que a mudança veio de investimentos contínuos nos territórios mais vulneráveis. “Medellín tem hoje apenas 2% da violência de 30 anos atrás. Isso foi alcançado com segurança, claro, mas principalmente com grandes investimentos nos bairros mais pobres, como o que visitei ontem, o João de Deus. Em Medellín, esses bairros se tornaram prioridade absoluta do orçamento público.”
Melguizo ressaltou a diferença entre políticas estruturais e ações pontuais. “A solução não é entrar com 2.000 militares. A solução é entrar com 2.000 psicólogos, assistentes sociais, gestores culturais, artistas, comunicadores, médicos e enfermeiras. O trabalho precisa envolver toda a prefeitura nos bairros mais pobres e violentos.”
Ele comparou a desigualdade territorial de Medellín com a que encontrou em Petrolina. “A orla mostra riqueza e obras públicas de qualidade. Mas no João de Deus me disseram que não há esgoto, não há água potável. Há um Centro da Juventude belíssimo, mas abandonado. Em Medellín, aprendemos que é preciso abrir e ocupar esses espaços; essa foi a fórmula.”
Murilo Cavalcanti, criador do Compaz e gestor da política em Recife, reforçou que o modelo só funciona com participação social. “Quando pensamos o Compaz de Petrolina, o Recife tinha apenas duas unidades. Pedi ao governador Paulo Câmara que interiorizasse o projeto, começando por aqui. A licitação foi autorizada, e hoje a obra, antes orçada em R$ 11 milhões, já está em cerca de R$ 13 milhões. A expectativa é entregar o equipamento nos próximos quatro meses.”
Para ele, o Compaz não é apenas um prédio, mas um espaço de convivência, mediação de conflitos, atendimento psicológico e formação profissional. “É um refúgio para crianças vítimas de violência e um local de capacitação para idosos e adultos. O de Petrolina terá ainda uma característica única: será um centro forte de formação de atletas de alto rendimento em atletismo, graças à participação ativa da Associação Petrolinense de Atletismo.”
Murilo enfatizou que o pertencimento da população é o que faz o modelo dar certo. “O Compaz Eduardo Campos vai completar dez anos sem nunca ter tido um computador roubado ou uma parede riscada. Isso acontece porque ouvimos a comunidade e envolvemos moradores desde a construção até a gestão. Um prédio bonito sem conteúdo social não serve para nada. Por isso, faço um pedido: jovens de Petrolina, visitem e abracem esse equipamento.”
Com previsão de inauguração em março de 2026, o Compaz Irmã Dourado deve se tornar um novo polo de cidadania no Sertão, fortalecendo comunidades, oferecendo serviços integrados e ampliando oportunidades. A expectativa é que o equipamento ajude a transformar realidades e reduza vulnerabilidades, colocando Petrolina no mapa das experiências mais avançadas de segurança cidadã do Brasil.
