A curva de crescimento dos casos de Covid-19 está apenas no início, mas estados brasileiros já enfrentam problemas para suprir a demanda por leitos, fazendo malabarismo para poder atender a casos graves da doença. A situação mais crítica se concentra no Norte e Nordeste, onde Amazonas, Ceará, Pernambuco e Pará atingiram 90% da capacidade de ocupação. Rio de Janeiro e São Paulo, unidades federativas com número recorde de mortes, também preocupam.
“Com taxa já elevada de ocupação dos leitos, atrelada ao crescimento da curva de casos e ao período geralmente mais longo de internação que a doença está demandando, a tendência nas próximas semanas é que essa necessidade de rejeitar (pacientes) se confirme”, prevê Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoGripe.
Segundo Gomes, os esforços de contenção fazem efeito. No entanto, afrouxar as práticas sem critérios pode colocar tudo a perder. “A população precisa fazer mais esse sacrifício para que os gestores tenham tempo de preparar o sistema de saúde. Essa é a maneira de contribuir com os profissionais de saúde, não jogando a eles a carga de ter que escolher entre vida”.
Sem conseguir atender mais internações pela Covid-19, a prefeitura de Fortaleza (CE) decidiu abrir o hospital de campanha do Estádio Presidente Vargas (PV) antes mesmo de ficar pronto. “A maioria da nossa população não tem planos de saúde e depende do SUS”, justificou o prefeito Roberto Cláudio. Com a antecipação, mais 10 leitos de UTI e 204 enfermarias estão disponíveis para tratar acometidos pela doença. “Atualmente, o sistema de saúde está com 38 pessoas precisando de UTI e 34 aguardando internação em leito comum”, disse a secretária de Saúde Joana Maciel.
Em todo o Ceará, já são 3.252 casos confirmados e 186 óbitos. O estado é o primeiro do Nordeste e terceiro do país com mais pessoas infectadas. No entanto, é em Pernambuco onde se concentra o maior número de mortos no Nordeste: 216. A ocupação dos leitos no estado gira em torno dos 95% nas UTIs e 83% das enfermarias. Para atender a pacientes suspeitos e confirmados para o coronavírus, o estado tinha 646 leitos até ontem. Diariamente, o governo local trabalha na abertura de novos leitos. Um hospital privado, localizado na zona sul do Recife, que se encontrava desativado desde 2018, iniciou as atividades. “Ao todo, a estrutura contará com 230 leitos, sendo 100 de UTI”, disse, em nota oficial, a Secretaria de Saúde do estado.
O Pará ultrapassou os 90% de leitos ocupados. Devido ao aumento de casos graves, o governador Helder Barbalho (MDB) anunciou, ontem, a instalação de mais 37 UTIs completas até o fim desta semana, sendo 17 no Hospital de Campanha de Belém. O estado aguarda a chegada de 400 respiradores para transformar leitos de enfermaria em unidades intensivas. Os respiradores e mais 1,6 mil bombas de infusão foram comprados da China e devem ser enviados ao Brasil no sábado (25).
Em Manaus, são quase 700 pessoas internadas para tratar os sintomas da doença. A capacidade do sistema chegou ao limite e, para tentar suprir mais demandas, o Hospital Nilton Lins abriu 16 leitos de UTI e 66 leitos clínicos para atendimento exclusivo a pacientes com Covid-19. Propriedade de uma universidade privada na zona centro-sul de Manaus, o local tem capacidade para 450 leitos, que devem ser abertos ao longo das próximas semanas. “Temos uma necessidade de mais de 800 leitos. Podemos aumentar o número de UTI e diminuir o de internação clínica, à medida que tenhamos condição humana e de equipamentos”, disse a secretária estadual de Saúde, Simone Papaiz.
Estado que, sozinho, acumula mais de mil mortes, São Paulo é o epicentro da epidemia no Brasil e possui hospitais que já não conseguem receber doentes graves. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, unidade de referência, tem todos os leitos de UTI ocupados. Na enfermaria, 36% das camas estão liberadas. Os outros hospitais que tratam pessoas com Covid-19 estão com taxa de ocupação das UTIs variando entre 78 e 89%. São 5,6 mil pessoas em hospitais em virtude da doença, entre confirmados e suspeitos, sendo 3.279 em leitos de enfermaria e 2.345 em leitos de UTI. (DP)