Em tempos de alta nos preços de gêneros alimentícios, pesquisar os valores praticados em cada supermercado nunca foi tão importante. A dica foi repassada pelo doutor em economia e professor da Facape, João Ricardo Lima. Coordenador da pesquisa que avalia os preços da cesta básica em Petrolina e Juazeiro, ele aponta que no comparativo entre os meses de fevereiro e agosto de 2020, ou seja, antes e depois da chegada da Covid 19 ao Vale do São Francisco, alguns índices alcançaram uma alteração relevante.
ITEM | JUAZEIRO | PETROLINA |
Carne | 11,26% | 12,37% |
Leite integral | 27% | 13% |
Feijão carioca | 11,78% | 22,94% |
Arroz | 33% | 22,4% |
Óleo de soja | 23,4% | 19,9% |
“Aumentou muito o preço dos itens que são extremamente importantes no dia a dia do consumidor brasileiro durante esse período de pandemia”, reforçou João Ricardo em entrevista ao Nossa Voz desta terça-feira (08). O pesquisador ainda apontou o arroz como principal vilão na alta da cesta básica.
As dificuldades enfrentadas pelo consumidor foram representadas pela participação do morador no Núcleo 04 do Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho, João Bosco Neto. “A gente não sabe mais o que fazer da nossa vida. Quando vamos ao supermercado para comprar um pacote de leite, que aumentou [o preço], o óleo, o arroz, feijão e o nosso presidente deu um aumento de 20 e poucos reais em cima do salário-mínimo. A inflação corroeu o salário-mínimo, isso não é cabível. Fui comprar um pacotinho de leite, que custava R$ 6, e ontem descobri que já estava a R$ 6,50. Uma lata de óleo R$ 6,50, um quilo de arroz R$ 5,25. E aí, o brasileiro vai aguentar uma inflação dessas?”
Dólar em alta
Sendo assim, o professor João Ricardo explicou. ““Como a gente está com uma moeda muito desvalorizada e usamos insumos importados, por exemplo, para fazer pão francês que usa trigo, que é importado, eles estão mais caros por causa do câmbio. Por outro lado, essa taxa é importante para as exportações. Aqui no Vale do São Francisco onde a gente exporta muitas frutas, essa taxa de câmbio estimula as exportações. O problema é que quando a gente exporta, ficam menos produtos no mercado interno. Aí os preços acabam subindo porque essa diferença de preços é o comportamento da oferta e demanda”, reforçou apontando também a questão das entressafras do leite e do arroz. “Já tem relatos de 5 kg de arroz por mais de R$ 30”.
Além disso, a pandemia trouxe uma mudança de hábitos. Restaurantes fechados, as pessoas permanecem mais em casa e compram mais gêneros alimentícios. Somado a isso está o incremento no poder de compra da população de baixa renda através do auxílio emergencial também proporcionou o aumento dos preços.
Posicionamento do presidente
Questionado sobre o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, que na semana passada afirmou que o governo não vai interferir nessa situação, João Ricardo ponderou ser a decisão correta. “Eu concordo que essa é uma questão de oferta e demanda. Sendo assim, o governo efetivamente não tem que fazer intervenção. É uma questão, digamos assim, temporária e o governo tem outras alternativas para conter a inflação. O que normalmente ele faz é elevar a taxa de juros. Houve esse aumento de demanda por conta da injeção forte de recursos dentro da economia. E era necessário porque a nossa economia quase parou e para não parar, porque se não o país quebra, houve a necessidade de uma injeção forte de recursos”.
Por fim, João Ricardo aconselhou a população. “O que precisa ser feito é pelo próprio ponto de vista dos consumidores. Eles precisam entender que numa situação como essa existem muitas diferenças de preços entre os supermercados, entre os dias da semana e ele começar a pesquisar ainda mais. Para ter uma ideia, no açúcar conseguimos observar uma diferença de preços de 171% em Petrolina e 57% da banana em Juazeiro, de 75% de diferença da carne em Juazeiro, de 187% de diferença no leite em Petrolina. Então, tem muita diferença entre os supermercados entre os dias da semana”.