Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) levantados e analisados pela Fiocruz Pernambuco estão ajudando pesquisadores a entender como a Covid-19 tem se espalhado e agido no estado. A partir do cruzamento de informações disponibilizadas em plataformas públicas dos órgãos de saúde, estudo constatou volume de notificações 13 vezes maior durante a pandemia do novo coronavírus, quando feito o mesmo recorte com relação aos anos de 2015 a 2019 .
As ocorrências de SRAG estão sendo notificadas desde 2009, por causa da pandemia da H1N1. Segundo levantamento da Fiocruz, de janeiro a junho deste ano, foram notificados 15.100 casos desta síndrome, associada à forma mais grave da Covid-19. No últimos cinco anos, no entanto, o número de casos chegava a 5.617. A média mensal, na época, era de 187 casos. Atualmente, é de 2.517.
Apesar de não ser acarretada apenas pelo coronavírus, pesquisadores perceberam que, desde o aparecimento do vírus em Pernambuco, a Covid passou a ter relação direta com o aumento dos casos de SRAG. No cenário pandêmico, 66% das ocorrências tinham a doença como causa. Antes, a maior parte das confirmações não estavam especificadas (88,2%) e o restante tinha relação com outros tipos de vírus respiratórios (11,5%). A SRAG, amplamente associada ao tipo grave da Covid, é caracterizada pelo quadro de tosse, febre ou dor na garganta aliados ao desconforto respiratório ou falta de ar.
Para além da relação direta com o aumento de casos, a sanitarista e doutora em Saúde Pública Amanda Cabral, que também é docente colaboradora da Fiocruz, pôde perceber, ao realizar o estudo, a mudança do comportamento da SRAG com relação ao perfil dos pacientes. “Foi possível perceber, por exemplo, que anteriormente mais de 70% dos casos eram em crianças, sobretudo menores de dois anos. Agora, houve um deslocamento dessa faixa para adultos e idosos. Essa mudança no perfil epidemiológico é, possivelmente, é um reflexo da circulação do corona”, explica.
Outro ponto levantado foi a localização. “Todo o estado de Pernambuco sofreu com o aumento dessas notificações, mas o excesso delas foi muito maior em regiões mais afastadas da capital. Não quer dizer que o número de casos lá foi maior que nas demais, mas que, com relação ao mesmo período dos outros anos, as regiões tiveram o crescimento foi maior com relação aos dados delas mesmas em anos anteriores”, explica. Ainda segundo ela, este aumento também estaria relacionado com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) destas áreas.
O material, desenvolvido com a colaboração da pós-doutoranda Lívia Maia e orientação do pesquisador da Fiocruz PE Wayner Vieira, foi publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva e tem como um dos intuitos ajudar no levantamento de dados para embasar a tomada de decisões quanto à condução da pandemia no estado. O estudo completo está disponível online.
Folha PE