Um terço das equipes da rede pública de saúde do país não tem acesso a prontuário eletrônico

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Foto: Reprodução

É importante considerar que todos os números são os oficiais. Ou seja: são os números que retratam os casos e as mortes registrados como Covid-19. Portanto, ficam de fora todos os brasileiros que adoeceram e se curaram sem saber que pegaram o coronavírus. E também não são computados os que perderam a vida na pandemia sem o diagnóstico fechado de Covid. E muitas dessas omissões se devem aos apagões de informação na estrutura pública de saúde.

Quando um paciente chega às unidades básicas de saúde de Betim, na grande BH, os médicos já conhecem todo o histórico de atendimentos dele.

“Os medicamentos que aquele paciente usa, todas as consultas que foram realizadas, se houve alguma visita domiciliar, se houve alguma intercorrência de algum tratamento”, explica Reginaldo Rodrigues dos Santos, coordenador da Atenção Básica de Betim.

“No prontuário eletrônico já tem tudo no sistema de uma maneira muito organizado e facilita a conduta médica todo dia”, afirma Inyene Udom, médica generalista.

Hoje, dois terços (67%) das equipes de atenção básica da rede pública de saúde do país, cerca de 30 mil, têm acesso ao prontuário eletrônico do cidadão, um banco de dados nacional com informações dos pacientes do SUS. Outras 15 mil equipes ainda estão desconectadas.

A implantação do prontuário eletrônico nos grandes centros e cidades maiores tem sido menos difícil, mas nos municípios pequenos e mais isolados, o problema enfrentado é na conexão com a internet. A Cristina é agente de saúde em Nova União. Ela poderia estar fazendo o atendimento com um tablet na mão, transmitindo todas as informações em tempo real ao Ministério da Saúde. Mas, por enquanto, ela ainda trabalha com papel e caneta na mão.

No município de 6 mil habitantes, faltam computadores nos consultórios. Os que foram doados pelo governo federal já não servem mais. “Essas máquinas aqui são as que vieram em 2015 pelo sistema do e-SUS e já estão com defeito”, conta Romerito Ribeiro, técnico de TI.

O governo federal anunciou a liberação de R$ 430 milhões para ajudar os municípios a implantar o sistema, que deveria estar pronto desde 2016.

Nova União vai receber verba para comprar computadores e tablets. Ainda assim, segundo o prefeito, Ailton Guimarães (Avante), falta o principal. “A grande dificuldade nossa é a conexão, então as cidades menores, as cidades do interior principalmente têm essa dificuldade de conexão e é uma situação que não é fácil de ser resolvida pela prefeitura. Isso depende de outras questões acima disso”, analisa.

Melhorar a qualidade da internet é o único jeito de ficar livre dos velhos arquivos de papel. “Dessa forma, a gente corre um grande risco. Eu creio que, se chegasse para a gente, o serviço ia ficar mais complexo, uma coisa mais bacana”, afirma Maria Cristina Silva de Paula, agente de saúde.

A Anatel informou que todos os municípios brasileiros possuem, pelo menos, um acesso de banda larga; que a obrigação das operadoras é oferecer no mínimo a tecnologia 3G; e que a oferta da tecnologia 4G só passa a ser obrigatória em municípios com mais de 30 mil habitantes.

O Ministério da Saúde declarou que repassou R$ 9 milhões para melhorar o acesso dos municípios à internet, mas que apenas R$ 3 milhões foram de fato usados; e que planeja repassar mais R$ 11 milhões em 2021.

O Jornal Nacional procurou o Ministério da Ciência e Tecnologia, por telefone e e-mail, mas não obteve contato. (Fonte: JN)