Festival de Teatro Virtual apresenta espetáculos do Nordeste para diferentes públicos

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(Foto: Divulgação)

A Fundação Nacional de Artes – Funarte dá prosseguimento à agenda do Festival de Teatro Virtual, com mais dois projetos da região Nordeste. O grupo Bote de Teatro, com produção executiva da Janela Gestão de Projetos, de Recife (PE), apresenta na quinta-feira, dia 26 de agosto, a montagem Salto. Livremente inspirada na peça Os Saltimbancos, de Chico Buarque, ela aborda o processo de agrupamento de quatro “sujeito-usuários” em busca de uma utopia coletiva. Já o Grupo Pavilhão da Magnólia, de Fortaleza (CE), exibe Suelen, Nara, Ian,na sexta-feira (27). A peça conta a saga de três crianças que, convivendo na mesma casa, vão precisar reconsiderar posições.

A agenda do festival tem 25 apresentações teatrais, de grupos e companhias das cinco regiões do País, voltadas ao público adulto e infantil. Um novo projeto será divulgado on-line todas as quintas e sextas, até o final de outubro, sempre a partir das 18h30, no canal da Funarte no YouTube. Os vídeos ficam disponíveis para acesso posterior em: bit.ly/FestivaldeTeatroVirtual.

Salto

Nesta quinta-feira, dia 26, o festival disponibiliza o filme-espetáculo Salto, do agrupamento Bote de Teatro com a Janela Gestão de Projetos. Indicada a maiores de 16 anos, com legenda e Libras, a obra é livremente inspirada em Os Saltimbancos, tradução de Chico Buarque do musical italiano I Musicanti, baseado, por sua vez, no conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm. Na adaptação “cyberfuturista”, os atores recifenses Pedro Toscano, Inês Maia, Daniel Barros e Cardo Ferraz, com a atriz convidada Una Martins, procuram abordar questões atuais como a “constante necessidade de descolar-se da realidade” e “os ciclos capitalistas de esgotamento”.

“A releitura de Os Saltimbancos vem do desejo de dar uma nova interpretação a esse espetáculo tão popular e, em especial, por acreditarmos que ele trata de questões acerca de estruturas sociais que precisam, assim como nos anos 1970, ser pontuadas nos dias de hoje. A ideia é levar esse texto para uma perspectiva não infantil, mas buscando ser delirante, levantando questionamentos sobre esse formato ocidental de saciedade e seus ciclos”, explica o coletivo.

O trabalho mistura cinema, música, dança e teatro para mostrar o processo de agrupamento de quatro “sujeito-usuários” que buscam, “inconscientes e inconsequentes”, uma nova forma, mais justa, de viver em sociedade. “A gente queria incrementar todas as linguagens e todas as estruturas cinematográficas dentro da peça. Além do teatro gravado, a gente pensou realmente sobre o que seria um teatro audiovisual”, aponta a atriz e cineasta Inês Maia.

Criado em março de 2019, o Bote de Teatro já teve projetos aprovados em diferentes editais, como o Prêmio Funarte Festival de Teatro Virtual 2020. Desde então, o grupo tem pesquisado sobre criação em coletivo, teatro, hibridação das artes e relação entre artista e público. “A nossa participação no Festival foi algo que salvou a gente no ano de 2020. Foi o primeiro festival que a gente conseguiu aprovar. Foi realmente um respiro”, destaca Inês Maia, frisando que o edital da Fundação foi o pontapé inicial para desenvolver Salto de forma virtual.

Suelen, Nara, Ian

Na sexta-feira, dia 27, será exibido Suelen, Nara, Ian, do Grupo Pavilhão da Magnólia, com direção de Miguel Vellinho e produção de Silvianne Lima. Na montagem, com interpretação em Libras, duas crianças irmãs, Suelen e Nara, vão morar na casa da mãe do menino Ian, pois os pais deles agora são namorados. Ian tem seu “reino” de filho único invadido pelas duas meninas e os três precisam reconsiderar o espaço, rever posições e conhecer outras perspectivas.

Suelen, Nara, Ian surgiu como desejo no começo de 2020, como projeto de montagem, em mais uma parceria com Miguel Vellinho. Começamos a mobilizar forças e articulações para realizá-lo. Com a pandemia, os projetos tiveram que ser adaptados e assim surgiu a ideia de transformar nossa sede Casa Absurda no grande imaginário dessas três crianças, para trazer questões familiares contemporâneas enfrentadas pela infância hoje”, explica Silvianne Lima, atriz e produtora do grupo Pavilhão da Magnólia.

Para além do teatro on-line ser uma alternativa durante a pandemia, para a atriz, a ferramenta é uma ponte, a possibilidade de chegar a mais espectadores, em diferentes localidades. Silvianne Lima também comenta sobre a importância de festivais como o da Funarte: “Foi muito importante para nós sermos contemplados neste Festival, pois a situação de coletivos teatrais que vivem disso se agravou com a pandemia e o cancelamento de agendas. Mesmo com o prazo curto para a criação do experimento, foi importante e rica a experiência de criar mesmo em tempos difíceis”.

Sobre o Festival de Teatro Virtual da Funarte

A programação é resultado do edital Prêmio Funarte Festival de Teatro Virtual 2020, lançado em agosto daquele ano. O objetivo era incentivar montagens para apresentação virtual e contribuir para a manutenção de coletivos, grupos e companhias. “Ele foi elaborado em meio a pandemia como uma saída, uma alternativa de fomento à classe artística, contemplando não apenas os artistas, mas também os técnicos”, declara Renata Januzzi, coordenadora de Teatro e Ópera da Funarte. Com o festival, a Fundação busca ainda estimular a democratização e acessibilidade à linguagem artística.

O Teatro Virtual faz referência e homenagem a outro projeto da Funarte, a Série Seis e Meia, que promovia shows de música sempre às 18h30. A ideia é manter o compromisso de levar arte ao público com assiduidade, em um horário acessível, mesmo que à distância. Os vídeos, previamente gravados, ficam disponíveis gratuitamente para o público após a exibição.

Renata Januzzi ressalta a força histórica do teatro, que hoje enfrenta mais um desafio para se manter presente. “O teatro é uma arte milenar e vem sobrevivendo a diversas ameaças de extinção. Dentre elas, a tecnologia, que já foi uma dessas ameaças, surge agora como uma solução de fomento a uma linguagem tão artesanal.”

Programação do Teatro Virtual

festival teve início em 5 de agosto com O Homem e a Mancha (SP), texto de Caio Fernando Abreu encenado pelo ator, professor, produtor e diretor Marcos Breda, com direção de Aimar Labaki e fotografia de Jacob Solitrenick. No dia seguinte, foi a vez de Zapato busca Sapato, da Trupe de Truões (MG), história para todas as idades sobre um “sapato recém-nascido” à procura de seu par. Na semana seguinte, foram exibidos A Casa de Farinha do Gonzagão e A Cripta de Poe, os dois de São Paulo, inspirados, respectivamente, no instrumentista, compositor e cantor Luiz Gonzaga e no escritor estadunidense Edgar Allan Poe.

Logo após, foram disponibilizados Museu dos Meninos – Arqueologias do Futuro (RJ), de Maurício Lima, uma “arqueologia afetiva” de “artefatos” recolhidos no Complexo do Alemão; e Ombela (PE), da companhia O Poste Soluções Luminosas, com base no texto/poema épico do escritor africano Manuel Rui, inspirado no mito de mesmo nome.

Os vídeos ficam disponíveis em: bit.ly/FestivaldeTeatroVirtual. Na semana que vem, o festival continua com a agenda da região Nordeste, seguida por grupos do Norte, Sul e Centro-Oeste do País.