A maior crise hídrica dos últimos 91 anos deve pesar no bolso do consumidor e no caixa das empresas ao menos até 2025, de acordo com especialistas do setor e consultorias da área de energia. A previsão é que a conta de luz fique, em média, cerca de 10% mais cara este ano, patamar semelhante ao projetado para 2022, apesar dos programas de redução voluntária no consumo de eletricidade de forma a evitar o risco de apagões no horário de maior consumo (pico).
Mas não é apenas a falta de chuvas a única responsável pela pressão nos preços, dizem os analistas. Além da geração de energia mais cara gerada pelas termelétricas, os avanços do dólar, do petróleo e dos próprios índices de inflação tendem a pressionar os reajustes anuais das distribuidoras a partir de 2022.
Clarice Ferraz, diretora do Instituto Ilumina, critica a gestão da crise pelo governo. Ela lembra que o problema começou no ano passado, quando a pandemia derrubou o consumo e gerou perdas para as distribuidoras avaliadas em R$ 16,1 bilhões. Esse volume será parcelado em 60 meses e será pago pelos consumidores.
Depois, o problema se agravou quando a economia começou a se recuperar, com o maior consumo de energia e chuvas abaixo da média. Demoramos para ligar as termelétricas e gastamos a água dos reservatórios. Agora, a situação se agravou a tal ponto que nem as termelétricas podem trazer uma situação confortável. Vamos pagar pela energia a prazo, tanto a que consumimos como a que não consumimos — disse Clarice.
Já com o nível baixo dos reservatórios, o governo decidiu acionar o regime de bandeiras tarifárias a partir de maio. O valor dessa sobretaxa, que incide a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos, aumentou 241% em quatro meses, patamar que vai se manter até abril de 2022, quando acaba o período de chuvas. Especialistas avaliam que o valor da bandeira ainda tem espaço para subir mais.
Vamos terminar 2021 com déficit de R$ 5 bilhões na conta das bandeiras tarifárias e isso será transformado em aumento de tarifa no próximo ano. Somente para cobrir os custos específicos devemos levar mais dois anos. Quanto mais tempo se demora para mitigar a crise, mais ela se aprofunda e mais radicais deverão ser as medidas em caso de necessidade de racionamento — afirmou Clarice. (Fonte: O Globo)