Na disputa para se cacifar como candidato da terceira via ao Palácio do Planalto, o ex-ministro Sergio Moro, que se filiou ao Podemos, tenta atrair bolsonaristas arrependidos e até apoiadores mais ferrenhos do presidente da República. Entre os governadores, um dos nomes no radar é Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, estado natal da Operação Lava-Jato e do ex-magistrado.
Aliado de primeira hora, desde a eleição de 2018, Ratinho dá sinais, às vésperas do ano eleitoral, de que pode romper com o bolsonarismo e apoiar Moro, a depender das alianças nacionais do PSD. O paranaense mantém conversas com o Podemos, dentro da estratégia de lançar a candidatura de Álvaro Dias (Podemos) ao Senado com o seu apoio.
Há cerca de um mês, a insatisfação da base bolsonarista com Ratinho ficou evidente durante um evento ao lado do presidente. Ao discursar, foi vaiado ininterruptamente, o que a equipe do governador interpretou como um alerta sobre a relação com Bolsonaro.
O PSD ainda estuda se lança o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ao Planalto ou se fecha apoio a outro candidato. Enquanto o PSD não define a estratégia nacional, Ratinho se aproxima do Podemos, mas não descarta uma chapa puro-sangue no estado.
O governador do Paraná é apenas um dos aliados do presidente que Moro tenta atrair. Durante a cerimônia de filiação do ex-juiz ao Podemos, ex-ministros, ex-bolsonaristas e atuais defensores do governo federal ocuparam as primeiras fileiras do evento.
Estavam na plateia os deputados federais Julian Lemos (PSL-PB), Luis Miranda (DEM-DF), Júnior Bozella (PSL-SP), Professora Dayane Pimentel (PSL-BA) e Joice Hasselmann (PSDB-SP) — considerados traidores pela base do presidente — e os deputados do Novo Marcel van Hattem, Adriana Ventura e Alexis Fonteyne, apoiadores de ações e declarações de Bolsonaro.
Ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, o general Carlos Alberto Santos Cruz já aderiu a Moro e atua para aproximar outros militares do ex-juiz. Outro ex-ministro do presidente, Luiz Henrique Mandetta (Saúde) também é apontado como possíveis apoiador de Moro.
Eleita na onda bolsonarista pelo PSL, Dayane Pimentel rompeu com Bolsonaro por não concordar com a articulação do presidente de indicar o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para assumir a liderança do PSL na Câmara. Ela diz que não se arrepende de ter apoiado o mandatário, mas que são notórias as diferenças entre os dois.
— Eu não me arrependo de minhas intenções porque sei que foram, e ainda são, as melhores. Quando acreditei em Bolsonaro, acreditei que ele fosse a personificação de um projeto estadista. Mas esse projeto foi inviabilizado justamente por ele, é irônico, mas é a realidade — conta.
Moro também foi citado publicamente de modo positivo por dois senadores, Eduardo Girão (CE) e Marcos do Val (ES). Ambos foram defensores do governo na CPI da Covid e, agora, se aproximam do ex-juiz.
“(Moro) ressaltou a necessidade de diálogo para unir o país, a importância de enfrentar a corrupção, o retorno da prisão em 2ª instância, o fim da reeleição e do foro privilegiado”, postou Girão sobre o discurso de Moro na cerimônia de filiação ao Podemos.