A implantação do sistema de estacionamento rotativo pago, conhecido como Zona Azul, em Juazeiro, foi adiada. O decreto municipal publicado em 14 de outubro regulamenta a lei nº 2.234, que criou o sistema, mas não autoriza a cobrança imediata nem o início das operações por qualquer empresa. A prefeitura explica que o objetivo é modernizar o marco regulatório, adequando-o às novas tecnologias e preparando o município para o processo de licitação que definirá a nova empresa gestora.
O diretor-presidente da Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTT), Mitonho Vargas, explicou à reportagem que a decisão foi tomada após um pedido da própria população e de comerciantes da cidade.
“Nós já estávamos fazendo um estudo. A própria sociedade começou a provocar o poder público para discutir a Zona Azul. É um reclame frequente dos comerciantes, dos empresários e da sociedade civil organizada. O prefeito determinou que iniciássemos esse debate, ouvindo primeiro a população e, depois, contratando uma empresa para levantar dados e avaliar a viabilidade”, afirmou Mitonho.
Segundo ele, a principal preocupação é garantir que o sistema não tenha caráter exploratório.
“Ficou claro para a sociedade que ela não quer uma Zona Azul explorativa do ponto de vista financeiro, que traga dificuldade para quem usa o serviço. A ideia é democratizar o uso dos espaços públicos, fortalecer o comércio local e não simplesmente arrecadar”, destacou.
O novo modelo da Zona Azul será totalmente digitalizado, permitindo que os motoristas paguem o estacionamento por aplicativo, com pontos de apoio e de venda em toda a cidade.
“Estamos adequando a legislação para que o sistema seja moderno e acessível. As pessoas poderão usar o aplicativo em qualquer celular, contar com pontos de apoio e pontos de venda físicos. A meta é facilitar a vida do contribuinte e dos visitantes de Juazeiro”, explicou o diretor.
O processo licitatório deve ser aberto em até 90 dias, e a previsão é que o sistema volte a funcionar até janeiro de 2026.
“Acredito que até janeiro do ano que vem a gente já esteja com a Zona Azul organizada e contribuindo para melhorar o trânsito e a mobilidade em Juazeiro”, disse Mitonho.
Transparência e fiscalização
O novo marco regulatório trará mecanismos de transparência e controle social, com prestação de contas mensal e destinação de parte da arrecadação para o município.
“A cobrança será transparente, e os recursos aplicados de forma objetiva, com prestação de contas mensal. Além disso, o município vai receber 20% de todo o valor arrecadado. Isso vai permitir investir em sinalização, fluidez e melhorias na mobilidade urbana”, detalhou.
Mitonho também garantiu que os direitos dos idosos, pessoas com deficiência e moradores serão preservados.
“Nós asseguramos os espaços destinados aos PCDs, aos idosos, aos mototáxis e aos moradores. O cidadão vai continuar tendo direito garantido à frente da sua garagem, dentro do período necessário”, afirmou.
Obras e riscos no trânsito da BR-407
Durante a entrevista, o diretor comentou ainda sobre os impactos das obras da travessia urbana e alertou para os riscos de conversões irregulares no trecho da BR-407, em frente à UPA.
“Aquilo ali é o calcanhar de Aquiles do trânsito de Juazeiro. O correto seria o motorista fazer a conversão na rotatória, mas muitos insistem em cortar caminho, o que é extremamente arriscado. Já sugerimos à empresa responsável pela obra que coloque um circuito até o Batalhão da PM para evitar esses cruzamentos”, explicou.
Após meses de campanhas educativas, Mitonho anunciou que a AMTT vai passar a aplicar multas.
“Infelizmente, teremos que começar a multar. Não é o que gostaríamos, mas já são nove meses de gestão tentando conscientizar. Agora é hora de agir com rigor. Vamos realizar blitz punitivas para organizar o trânsito e garantir segurança”, disse.
Mitonho reconheceu que Juazeiro ainda enfrenta falhas de sinalização e falta de estrutura técnica para organizar o tráfego de forma eficiente.
“Juazeiro cresceu sem um estudo técnico adequado. A sinalização muitas vezes era feita por pedido pessoal, sem base em engenharia de tráfego. Recebi cerca de 160 solicitações de redutores de velocidade, o que mostra que o motorista ainda é mal-educado no trânsito”, afirmou.
Ele também revelou que a prefeitura pretende abrir concurso público para ampliar o número de agentes e unificar as equipes de trânsito e transporte, a exemplo do modelo adotado em Petrolina.
“Hoje temos, em média, 16 homens trabalhando por dia, oito por turno. Estamos conversando com o prefeito para abrir concurso e melhorar as condições de trabalho. Queremos uma equipe única, mais forte e mais eficiente”, explicou o diretor.
Segurança dos pedestres
Mitonho encerrou reforçando a importância de preservar a vida dos pedestres, mesmo diante das pressões para alterar semáforos no centro da cidade.
“Algumas pessoas pedem para desligar o semáforo da Rua do Paraíso, mas não posso colocar a vida dos pedestres em risco. Ali tem bancos, clínicas e cartórios. Ajustamos o tempo para 99 segundos para veículos e 10 segundos para pedestres. É o suficiente para atravessar com segurança”, disse.
“O prefeito tem um sentimento muito claro: preservar vidas. Preferimos uma leve lentidão no trânsito do que um atropelamento. Não vamos abrir mão disso”, completou.



