Após inúmeras omissões do governo brasileiro em responder à proposta da Pfizer para venda de vacinas, a Comirnaty, aprovada pela Anvisa em fevereiro de 2021, menos de um mês após a autorização da CoronaVac e da vacina de Oxford, é hoje o segundo imunizante mais utilizado no país.
Ao GLOBO, a presidente da empresa no Brasil, Marta Díez, afirma que os movimentos antivacina preocupam, mas elogia a adesão brasileira aos imunizantes. Para ela, é importante garantir o acesso às vacinas a países de baixa e média renda para que haja uma saída global da pandemia.
A executiva diz ainda que a empresa deve pedir nas próximas semanas o registro na Anvisa para seu medicamento Paxlovid, pílula antiviral com quase 90% de eficácia contra a Covid-19. Para ela, ” vamos aprender a viver” com a Covid-19.
Em março de 2020, todo mundo dizia que a pandemia ia durar dois meses, que seria muito curta. É difícil dar uma data. Acho que não será uma data, será uma fase.
A pandemia vai ser cada vez mais leve, a doença vai estar lá e vamos aprender a viver com ela. Há um ano atrás, em fevereiro e março do ano passado, foi um momento muito difícil da pandemia, quando não tínhamos vacina. A grande diferença é a vacinação sem dúvida alguma. A vacinação contra doenças infecciosas é uma ferramenta importantíssima de saúde pública, em particular, no caso da pandemia de Covid-19.
É a primeira vez que temos uma pandemia dessas dimensões. Então, podemos observar hoje versus um ano atrás, as taxas de mortalidade e casos graves são muito menores em todos os países, inclusive no Brasil, que tem uma vacinação elevada. Esse declínio (de casos graves e mortes) é resultado de uma vacinação muito bem sucedida aqui no Brasil.
Temos um acordo de 20 milhões de doses no primeiro trimestre. Estamos tentando trazer mais. vamos ver se conseguimos, mas ainda estamos tentando internamente. Muitos países começaram agora a vacinação de crianças e vamos ver se teremos a capacidade (de antecipar) ou não mais doses. Temos uma reserva de pelo menos 20 milhões adicionais para o segundo semestre, mas o governo tem que confirmar se quer essas doses ou não.
Os estudos estão em andamento nesse momento. Esperamos ter notícia nas próximas semanas ou meses e depois seguir o mesmo caminho que seguiram as outras aprovações, assumindo que esses dados sejam positivos. Os dados são iniciais. A vacina para crianças é a mesma, mas em uma dose muito menor.
A dose para crianças acima de seis meses a quatro anos é 10 vezes inferior que para o adulto. Temos que provar se essa dose é suficiente para essas crianças desenvolverem uma resposta imunitária e se essa resposta é segura.
A vacinação é um ato voluntário. As pessoas se vacinam se quiserem. E para as crianças são os pais que aprovam a vacinação. É uma decisão pessoal . Para as pessoas que não têm educação médica, ou querem mais informação, podem perguntar ao pediatra de suas crianças para tomar uma decisão informada.
Impacta e preocupa, não só como empresa, mas como sociedade. As pessoas que trabalham na saúde pública e na infectologia claramente estão preocupadas com esse fenômeno, que é mundial, não é brasileiro. No Brasil ele é limitado em comparação com outros países. É mais próprio de países desenvolvidos, um paradoxo.
Talvez porque os países desenvolvidos perderam o medo das doenças infecciosas, porque justamente em consequência das vacinas anteriores já não há tanta exposição a essas enfermidades. Para mim, é difícil entender esse fenômeno, sou uma grande crente das vacinas, da ciência e dos dados.
É uma resposta multifatorial. As vacinas claramente foram parte da melhora da pandemia, mas também tem outros fatores como se é inverno ou verão em cada país, diferentes medidas contra pandemia, como lockdown. A sociedade deve tirar suas próprias conclusões, mas temos que olhar a situação que temos hoje.
Mesmo com a Ômicron a situação é muito melhor do que ano passado. Sou mais otimista do que no ano passado mesmo com um número grande de casos.
(Folha PE)