Alta nos acidentes de trânsito, especialmente com motos, é apontada como uma das causas para a superlotação do Hospital Universitário de Petrolina

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O Hospital Universitário (HU) de Petrolina está operando acima da capacidade máxima. Nesta semana, a unidade chegou a registrar 170% de ocupação hospitalar e, atualmente, mesmo com leve redução, o índice segue preocupante: 150%. De acordo com a direção do hospital, 235 pacientes estão internados, sendo que 107 deles estão em corredores ou áreas improvisadas.

O cenário, que acende o alerta no sistema de saúde da região, tem entre os principais fatores a crescente demanda por atendimentos de vítimas de acidentes de trânsito. Só em 2024, o hospital já registra uma média de 32 casos por dia.

“Entre os anos de 2023 e 2024, tivemos um crescimento de 19% no número total de atendimentos relacionados a acidentes de transporte terrestre. Quando olhamos apenas para acidentes de moto, esse aumento foi ainda maior: 24%”, afirma Aristóteles Cardona, gerente de atenção à saúde do HU.

Segundo Cardona, o impacto é direto nos números do hospital. Em 2023, foram cerca de 37.500 atendimentos na emergência. Este ano, a projeção é que esse número ultrapasse 42.400, caso a tendência de crescimento se mantenha.

“Só nos seis primeiros meses de 2024, já tivemos mais de 15 mil atendimentos. E como normalmente o segundo semestre tem um acréscimo natural na demanda, esperamos mais 5 mil atendimentos até dezembro. Isso se reflete nos internamentos também. A média, que era de 27,9 por dia, já ultrapassa 30”, completa o gestor.

Com a estrutura física no limite, os corredores viraram solução temporária. Metade dos pacientes internados pertence à área da ortopedia – grande parte vítima de acidentes com motocicletas. Desde o retorno dos serviços de neurocirurgia, em 2023, houve também aumento no número de casos mais graves.

“Antes, muitos pacientes precisavam ser transferidos para Salvador, Recife e outras capitais. A retomada da neurocirurgia aqui foi uma conquista enorme, mas também exigiu da nossa equipe mais esforço e infraestrutura. Ainda assim, conseguimos reduzir significativamente o número de regulações para fora da região”, destaca Aristóteles.

Além da ortopedia e da neurocirurgia, o hospital enfrenta o desafio de manter em dia os atendimentos de doenças crônicas e cirurgias eletivas.

“Nosso desafio é equilibrar tudo isso. Quando há aumento de acidentes, a gente reorganiza o foco da equipe. Estamos realizando mutirões, ampliando plantões aos fins de semana, contratando anestesistas – o que, aliás, é um problema nacional – e reforçando investimentos em estrutura. Recentemente, instalamos o equipamento de radiografia mais moderno do Nordeste e um novo tomógrafo de última geração, de R$ 5,5 milhões”, explica.

Outra ação adotada foi a reabertura de leitos de UTI que estavam fechados desde 2017. Ao todo, foram reativados 19 leitos e, na última semana, inaugurado o 20º.

“Parece pouco, mas cada leito reaberto é uma vida que pode ser salva. É um paciente que consegue passar por uma cirurgia de fêmur com segurança, ou um idoso que precisa de monitoramento intensivo. Esses leitos fazem diferença todos os dias”, reforça o gerente.

Diante do crescimento da demanda, o hospital, que é gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), já discute com o Governo Federal, com a própria EBSERH e com autoridades locais uma possível ampliação estrutural da unidade.

Enquanto a expansão não se concretiza, outras estratégias estão sendo traçadas. Uma das propostas em andamento é a criação de uma equipe de atenção domiciliar para permitir alta precoce de pacientes que poderiam continuar o tratamento em casa, com suporte clínico.

“Temos muitos pacientes internados por longos períodos apenas para tomar antibióticos, por exemplo. Em casos como osteomielite, quando a infecção atinge o osso, o tratamento é longo, mas poderia ser feito em casa, com a equipe certa. Isso desafogaria os leitos do hospital”, sugere Cardona.

O gestor também destaca a importância de articulação com a prefeitura de Petrolina para criação de leitos de retaguarda – estruturas que recebem pacientes após a fase mais crítica da internação.

“O hospital universitário não pode simplesmente fechar as portas para ninguém. Somos a única referência de ortopedia para dezenas de municípios da região. Hoje, se uma criança fraturar o braço em Petrolina, ela será atendida aqui. Isso mostra o quanto precisamos de uma rede fortalecida”, conclui.

O HU atende a uma macrorregião que inclui 53 municípios. Por isso, qualquer gargalo no sistema – seja na atenção básica ou na emergência – acaba refletindo na unidade. A direção reforça que, além dos investimentos hospitalares, é urgente o fortalecimento de políticas públicas de trânsito, fiscalização e conscientização para reduzir os acidentes.