A entrevista ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, ontem (07), ao Blog Magno Martins, caiu como uma bomba no meio político pernambucano. Ressentida com o ataque do deputado João Campos, seu neto, ao seu filho Antônio Campos, afirmando que ele (Antônio) seria mais desqualificado do que o ministro da Educação, na verdade, usou o termo pior do que você (mesmo em se tratando de um ministro de Estado), em debate na Comissão de Educação da Câmara, provocou um engasgo na garganta e uma ferida na alma.
Confira os principais trechos da entrevista:
Foi uma opção da senhora ficar em silêncio esse tempo todo, evitando entrevistas?
AA – Não, é uma questão de trabalho. Lá no Tribunal não podemos falar sobre algumas matérias, como, por exemplo, a política. E eu que tinha um cargo político, meu assunto maior era esse.
Recentemente, o seu neto João Campos participou de um debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e não foi muito feliz em declarações contra o seu filho Antônio. Como a senhora viu esse episódio?
AA – Com muita indignação. Eu acho que ele ultrapassou os limites da sua tarefa de deputado, do local de onde ele dizia e sobretudo do teor. Antônio Campos, meu filho, é uma pessoa de bem, trabalhadora, direita e eu já adverti, através de uma nota, que não admitiria esse tipo de desrespeito na minha família. Eu sou acostumada a respeitar os meus parentes, mesmo se a gente não concorda com alguma coisa. Foi muito desagradável, uma falta da educação e prepotência. Inclusive, falou errado a língua portuguesa. Dirigiu-se ao ministro como “você”. Um parlamentar tem obrigação de saber que tem que tratar com os pronomes próprios daquela categoria. O conteúdo que ele disse não é verdade e meu pai sempre exigiu que sempre nós tivéssemos respeito pelas pessoas. João me entristeceu muito, fiquei revoltada e não tive nenhuma palavra dele até agora. A mãe dele (Renata Campos) deveria dizer para ele me respeitar.
Há um distanciamento da família com ela (Renata)?
AA – Com isso, sim. Eu passo muito tempo em Brasília, mas sempre fui lá. Muito mais lá, do que ela cá. Agora, resolvi não ir. Quem quiser que venha aqui.
E João antes era o seu xodó, não?
AA – Não, meu xodó é Zé (risos). E Pedro, também. Pedro é muito inteligente.
O que João Campos herdou do pai, politicamente?
AA – Não quero falar sobre isso.
O legado que Arraes e Eduardo deixaram em Pernambuco está sendo posto à frente?
AA – Eu ando distante desse foco. Mas eu acredito que cada pessoa é uma pessoa. Os legados são deixados e algumas pessoas aproveitam e outras resolvem fazer seus próprios legados. O legado de Eduardo foi grande. A escola de Pernambuco era a pior, virou a melhor. Eduardo também era uma pessoa de um trato muito ameno com todos. Respeitava os opositores e seguidores. Era um democrata.
Eduardo se preocupou em deixar Geraldo Júlio e Paulo Câmara para seguir o seu legado. Qual a senhora acha que está indo melhor?
AA – Eu não tenho muita ideia, pois não vivo aqui. Não tenho condições para julgar. Nem ouço muito falar.
A senhora é filha de Arraes e mãe de Eduardo e nunca interferiu no Governo. A viúva (Renata Campos) interfere?
AA – Não sei, só perguntando a ela. Eu não interfiro, pois estou em outra área distante da atividade política. Eu tenho muita solicitação de pessoas pedindo ajuda, em hospital e resolvo tudinho (risos).
Arraes morreu frustrado por não ter sido presidente da República?
AA – Não, meu pai não era homem de frustração, era um sertanejo. Aguentava as coisas.
A senhora lembra do dia que ele foi afastado do Governo?
AA – Lembro. A gente morava no Palácio, e quando foi de madrugada, meu pai veio no meu quarto. Ele disse: “Minha filha, queria você que arrumasse as coisas dos seus irmãos, por que vocês vão para a casa da sua avó”. Aí eu fui correndo e pela primeira vez nós saímos num carro que tinha gente armada dentro. Ele nos levaram e ficamos aguardando. Nas esquinas da casa ficavam investigadores, várias vezes entraram na nossa casa, procurando algo ligado ao comunismo… meu pai era um cristão. Nunca usou a religião para a política, por que sabia que a religião era algo muito mais fino do que a política.
A senhora estaria mais feliz se tivesse seguido a obra política de Miguel Arraes e Eduardo Campos e não como ministra julgando contas?
AA – Não sei. Mas eu posso voltar, quando me aposentar, daqui a dois anos. Tenho 72 anos, quando tiver 74, posso ser candidata a tudo (risos). Mas o Senado não, é como meu pai dizia: “É coisa de velho” (risos). Vamos ver.
Como a senhora avalia o trabalho da sobrinha Marília Arraes na política?
AA – Eu tenho pouca informação sobre as atividades de Marília e de João (Campos), também.
Se houver um embate entre os dois, a senhora vai tomar partido?
AA – Não sei, vamos ver. Tem que saber como vão se desenrolar as coisas e esperar.
Como a senhora soube da morte do seu filho Eduardo Campos?
AA – Eu estava na sessão de posse de Ministro. O presidente à época era Augusto Nardes e ele me chamou no gabinete dele. Lá, soube da notícia e pela primeira vez na vida tive pressão alta, quase morro. Tomei injeção na veia nos dois braços. Aí viemos para Recife e começou a pesadelo do único pedido que fiz a Deus, que era morrer antes dos meus filhos. Ele era um filho muito bom, estudioso, amigo, ameno… as qualidades que ele tinha foram exaltadas pelos cargos que ele exerceu com honra e amor. Pensou nos que precisam mais e melhorar o Estado de Pernambuco. Depois daquela entrevista no Jornal Nacional, falei com ele, ele estava feliz e eu só disse pra ele honrar o nome dele e o de Pernambuco.
A senhora acha que ele seria o presidente se não fosse o acidente?
AA – Acho. Ele tinha tudo para ser presidente. Tinha preparo, inteligência, sabia cuidar das pessoas, com uma coisa de igualdade e fraternidade, que ele tinha desde menino.
Acredita em sabotagem no avião dele?
AA – Eu não sei, tem perícias sendo feitas. Eu duvido de tudo. O avião era novo, né? Se fosse um avião velho…
O que mudou na sua vida depois da morte de Eduardo?
AA – A ausência dele é muito grande. Às vezes em casa eu choro. Foi mais impactante do que a morte do meu pai. Meu pai estava velho, mesmo lúcido. Mas a pessoa na flor da idade, morrer, podendo ser tão útil para o Brasil? Foi muito precoce.
Antônio Campos tem vocação para política?
AA – Eu acho que ele tem. É inteligente, capaz. Mas eu deixo as coisas aflorarem, embora dou conselhos.