“As maiores temperaturas ocorrem nos últimos 11 dias de outubro e até 10 de novembro”, alerta meteorologista sobre calor no Vale do São Francisco

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O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu nesta segunda-feira (20) um alerta amarelo de chuvas intensas para Juazeiro e outros municípios do Vale do São Francisco baiano. O aviso, que segue válido para esta terça-feira (21), prevê precipitações de até 30 mm por hora e ventos de até 60 km/h, com risco de alagamentos, quedas de galhos, descargas elétricas e interrupções no fornecimento de energia, como registrado em algumas áreas na noite de segunda-feira.

Para detalhar as causas dessas chuvas, os riscos para a população e para a agricultura, e o que esperar nos próximos dias, nossa reportagem conversou com o professor e doutor em meteorologia Mário Miranda, que explicou os fenômenos de forma detalhada.

La Niña, Zona de Convergência e frentes frias

Segundo Miranda, os recentes episódios de chuvas estão relacionados à La Niña, fenômeno que aumenta a umidade no Nordeste, à Zona de Convergência do Atlântico Sul, que se estende da Amazônia ao Oceano Atlântico, e às frentes frias que sobem do Sul.

“Primeiro, nós estamos já caracterizados com o evento La Niña, que é bom para a gente aqui no semiárido brasileiro e em outras partes do mundo. Ele traz umidade do Oceano Pacífico, que ajuda a formar nuvens carregadas. Em paralelo, temos a Zona de Convergência do Atlântico Sul, uma formação de nuvens que vem desde a floresta Amazônica e se estende até o Oceano Atlântico. Quando as frentes frias se agregam a esse sistema, elas produzem chuvas aqui, que podem se prolongar até janeiro.”

O meteorologista enfatiza que chuvas em outubro são pouco comuns na região.

“Embora os modelos de previsão não indicassem chuva nesta época do ano, o que é normal, porque é raro chover em outubro, já observamos precipitações acima da média histórica, que é de cerca de 10 mm para o mês. Só ontem, aqui perto do estúdio, choveu 12,6 mm. Em Juazeiro, no campus da universidade, foram 8,8 mm, e em alguns bairros, menos de 4 mm. Isso mostra que essas chuvas iniciais são muito variáveis tanto no espaço quanto no tempo.”

Calor extremo antes da chuva

No domingo (19), os termômetros chegaram a 37,7°C, com sensação térmica de mais de 50°C. Segundo Miranda, esse calor intenso foi uma “preparação” para a chuva.

“No domingo, chegamos a uma temperatura de 37,7°C, mas a sensação já era mais de 50°C. A umidade estava muito baixa, o solo absorveu muita radiação solar e o calor do chão, principalmente no asfalto ou em áreas arenosas, chegava a 60, 65°C. Esse calor intenso é uma preparação do ar para a chuva. À medida que a umidade aumenta, o ar fica abafado e absorve mais energia solar, criando a sensação térmica ainda maior.”

O professor explica que esse fenômeno ocorre porque a atmosfera precisa de calor e umidade para formar nuvens carregadas:

“Ontem foi quente porque o ar estava se preparando para a chuva. A chuva só acontece quando há aumento da umidade, que absorve energia e deixa a sensação ainda mais abafada.”

Miranda utilizou uma metáfora para explicar como a natureza concentra a umidade e forma nuvens:

“Imagine uma máquina de fazer algodão doce. O centro de baixa pressão é o local onde a umidade se concentra, como o açúcar que gira e se transforma em nuvem. O centro de alta pressão, distante, empurra ar úmido para o centro de baixa pressão. Quando temos baixa pressão no local, a chuva acontece; quando temos alta pressão, há estiagem. É assim que a natureza regula onde e quando chove.”

Ele reforça que chuvas fortes podem causar interrupção de energia:

“Um relâmpago pode atingir 3.000°C. Se cai sobre uma rede elétrica, danifica cabos e provoca falta de energia. Além disso, queda de galhos ou árvores aumenta os riscos.”

Impactos na cidade e na agricultura

As chuvas trazem benefícios para o semiárido, mas também desafios. Na zona urbana, o solo pavimentado e a baixa declividade aumentam o risco de alagamentos. Na agricultura irrigada, principalmente em parreirais de uva e pomares de manga, a chuva pode causar rachamento de frutos e derrubada de flores.

“Em Petrolina, temos duas situações: área de sequeiro e fruticultura irrigada. Dependendo do estado fenológico das plantas, a chuva pode causar problemas pontuais, mas não de forma homogênea. Já na área de sequeiro, qualquer chuva é positiva.”

Previsão para os próximos dias e regeneração da caatinga

O professor enfatizou que a caatinga possui grande capacidade de regeneração e que as primeiras chuvas contribuem para um microclima mais favorável:

“Na medida em que a gente já teve essas primeiras chuvas, a situação melhora, por quê? Com essas primeiras chuvas, nós vamos ter um aumento da umidade do ar natural. Certo? E tem outra coisa, nossa caatinga tem uma capacidade de regeneração muito grande. O que vai acontecer? A caatinga vai ter, daqui a alguns dias, 7, 8 dias, já começa a ter folhagem. Isso ameniza o calor, e agora o calor que a gente vai sentir é mais pela umidade. Então isso concentra, e passamos a ter um comportamento mais favorável da superfície ajudando a formar nuvens.”

Sobre a alta temperatura nos próximos dias, ele explica:

“Em relação à alta temperatura, pode ser que ainda sintamos calor intenso porque nosso período mais forte de radiação e temperaturas elevadas se estende até o início de novembro. As maiores temperaturas ocorrem nos últimos 10, 11 dias de outubro e até dia 10 de novembro. Essa faixa se deve à posição do Sol e ao movimento de translação da Terra, quando a incidência de radiação aquece mais a superfície do que em outras épocas do ano.”

Recomendações para a população

Diante do alerta, o Inmet orienta:

  • Evite abrigar-se debaixo de árvores durante tempestades;
  • Desligue aparelhos elétricos em caso de relâmpagos;
  • Não trafegue em áreas alagadas;
  • Acompanhe atualizações da previsão do tempo em canais oficiais.