“Asma é para a vida inteira”, ressalta médica em entrevista sobre novo ambulatório público especializado em Petrolina

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A Prefeitura de Petrolina inaugurou o primeiro ambulatório de asma da rede pública municipal. Implantado na Policlínica Municipal, o novo serviço é dedicado exclusivamente ao acompanhamento de pacientes já diagnosticados, com consultas especializadas que prometem melhorar o controle da doença e a qualidade de vida dos usuários.

O ambulatório oferecerá ainda orientações e apresentações para os pacientes, com informações sobre prevenção e tratamento da asma. Para detalhar o funcionamento do serviço, conversamos com a pediatra da Policlínica, Dra. Luana Gabriela Pereira.

“Então, a gente falar da asma, é colocar em pauta um assunto sério. As crises asmáticas, elas podem levar, inclusive, a complicações, a óbito e por isso precisam ser manejadas”, destacou.

Sobre o que motivou a criação do ambulatório e o impacto esperado para os pacientes da rede pública, Dra. Luana explicou:

“Todo ano a gente tem, sim, boa parte da população infantil tendo gripe de repetição e uma parte dessas crianças, cerca de 30 a 40%, elas chiam, apresentam episódios de asma e são crianças que vão continuamente a serviços como na UBS, tão sempre, como é que eu posso dizer, desestabilizadas e precisando ir a serviços de urgência e emergência. Para esses pacientes, urge que seja feito um tratamento de controle, que é o tratamento das crises, o tratamento inter-crise.”

Ela esclareceu ainda:

“Não é o tratamento que se faz quando a criança tem uma crise e precisa de uma hospitalização, do atendimento de urgência, por exemplo. Esse atendimento pode acontecer. Mas quando a gente faz um tratamento inter-crise, que é um tratamento de compensação e que a gente desinfla a criança — asma é uma doença inflamatória crônica —, ela pode agravar, pode ter crises. A doença pode ficar silenciosa quando bem manejada por muito tempo, mas ter crises no meio do caminho, principalmente em momentos de sazonalidade, onde a gente tem gatilhos como aumento de circulação de vírus, bactérias como agora, que a gente tem o VSR, que é o vírus da bronquiolite, que fazem os bebês cansarem e outros mais, como Influenza, Covid, por exemplo.”

A médica detalhou que o objetivo é compensar essas crianças:

“Se a criança cansou, o bebê cansou, ele tem um atendimento de urgência, mas a posteriori ele deve ser manejado no ambulatório. Por isso foi criado esse ambulatório. Ele deve ser visto pelo pediatra, pelo pneumopediatra, pelo alergologista, para que seja feito esse manejo com uso de medicações que inclusive são disponibilizadas pela rede pública.”

Segundo Dra. Luana, a proposta inclui ensinar a família a manejar as crises:

“Para quê? Para que quando haja qualquer sinal de que a criança tá apresentando alguma crise de cansaço, a própria família trate em casa e não expõe essa criança a uma hospitalização.”

Ela alertou:

“O que os dados mostram é que a criança que foi hospitalizada, que precisou ir à UTI, ela sempre tem um histórico de alguns dias ou semanas atrás ter tido alguma crise leve, e essa crise não foi tratada adequadamente.”

Sobre o funcionamento do novo ambulatório, a pediatra explicou:

“Somos uma rede de atenção secundária. Então, a criança que teve algum episódio de cansaço, não necessariamente precisa ter o diagnóstico firmado em asma, mas se ela sibilou, chiou, cansou, precisou procurar a UBS, precisou de um atendimento de urgência e emergência, já pode solicitar dentro da UBS o encaminhamento para a consulta.”

Em relação aos fatores desencadeantes das crises de asma, Dra. Luana listou:

“As crises geralmente são por esses gatilhos: infecções, fumaça — principalmente no São João —, e, mais recentemente, Covid, que trouxe muitos novos diagnósticos.”

Sobre a evolução do quadro:

“A asma é uma doença inflamatória crônica, é para a vida inteira. Mas quando diagnosticada em crianças pequenas, à medida que crescem e o pulmão se desenvolve, muitos deixam de ter sintomas.”

Questionada sobre a cura, a médica foi clara:

“O objetivo do tratamento é exclusivamente o controle dos sintomas. Não tem cura. Uma vez diagnosticado, você é asmático para a vida inteira.”

Quanto às diferenças no tratamento entre crianças e adultos, Dra. Luana explicou:

“É muito focado na informação. Na criança, a principal diferença é que precisamos usar o espaçador, porque a criança não consegue usar a bombinha sozinha. Por isso, reforçamos muito a técnica e fazemos seguimento próximo.”

Sobre o desafio de lidar com crianças resistentes ao uso da bombinha:

“Principalmente nas menores que não têm consciência ainda, a gente tem que fazer, não tem jeito. Para os maiores, a consulta é muito lúdica, colocamos a criança para participar. Quando ela se sente protagonista, ela gosta.”

E concluiu:

“Esse ambulatório é muito focado nesse processo educativo para que a família tenha autonomia e a criança, à medida que for crescendo, também saiba lidar com a doença.”