Autocuidado e atenção a saúde mental deve ter prioridade na rotina de mães atípicas, diz neuropsicopedagoga

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Enfrentar a maternidade, em condições tidas como “normais”, já traz um grande desafio. Entretanto, isso torna-se ainda mais desafiador quando se trata de uma maternidade atípica. Mas o que seria isso? Trata-se das mães que lidam com a criação de filhos que necessitam de cuidados específicos. Para elas, enfrentar o desconhecido é uma experiência constante e requer habilidades emocionais e de adaptação.

“A jornada de uma mãe atípica é bem árdua, é algo para o qual temos que chamar a atenção porque ela abdica de todo um processo de vida. Inclusive, nós temos mães que abdicam de suas vidas profissionais por conta de uma dificuldade de uma rede de apoio. Essa jornada se dá desde o cuidado da criança, até abdicar das suas questões profissionais e pessoais”, explicou ao Nossa Voz, a neuropsicopedagoga, Hellen de Melo Pereira.

Para auxiliar no dia a dia dessas famílias, a profissional detalhou o trabalho do grupo terapêutico, com reuniões quinzenais realizadas em Petrolina. “Lá no Instituto Evoluir, a gente trabalha com o acolhimento desses pais, levando em consideração exatamente essas dores, que muitas vezes são ocultas, quando eles estão na sala de espera. Eles levam os filhos e não sabemos o que pode estar acontecendo com a vida dessa pessoa, com suas questões emocionais e psicológicas por trás disso. Então, esses encontros acontecem terças ou aos sábados, quinzenais. É um grupo terapêutico, mediado pelas psicólogas do Instituto, onde a gente vai fazendo intervenções em grupos para que essas pessoas vejam, em primeiro lugar, que elas não estão sozinhas e principalmente, que elas podem se colocar como rede de apoio entre si e ter estratégias em cuidar dessas crianças para que possam aliviar essa jornada árdua”.

Segundo Hellen, a atenção a saúde mental dessa família não pode ser ignorada. “É muito importante que a família, principalmente, tenha um acompanhamento psicológico. Quando se recebe um diagnóstico, a gente precisa, primeiramente olhar para a família. Quem será a pessoa que ficará na linha de frente? Mãe, pai, tio, avó? Então essa pessoa precisa receber um atendimento qualificado emocional, psicológico, para que ela possa entender quais são os passo a passo dessa jornada”.

A intensidade dessas acompanhamentos varia, segundo o nível de suporte necessário para o desenvolvimento dessa criança. “O autocuidado vai desde você ter tempo de tomar um café de manhã, para poder cuidar dessa criança. Então, no autismo, por exemplo, existem níveis de suporte. Existe aquela criança que é mais funcional, mas tem crianças que não são. Quando a gente fala de uma criança que tem um diagnóstico mais grave, a gente sabe que essa mãe, que esse familiar está integralmente ligado a essa criança na hora que acorda e quando dorme. Portanto, esse cuidado e essa orientação, esse suporte da saúde mental é muito importante. A gente tem que trazer isso como prioridade para a família, para que ela, através do profissional, receba as estratégias que são importante para que o dia a dia seja um pouco mais leve”.

Outro ponto importante de ser destacado é manutenção da unidade familiar em meio a esse contexto. “Através desse primeiro atendimento, a gente já orienta a orientação parental. Nela, a gente chama os responsáveis e cuida deles em relação a isso, sobre o quanto essa ligação é importante para que essa criança se desenvolva. Não só as terapias, mas que essa família se mantenha unida, quais são os problemas que eles irão passar no dia a dia e como eles podem recorrer a essas estratégias que são terapêuticas, para que a gente também possa fortalecer esse vínculo familiar entre eles. E, ao contrário do que se pensa, isso é muito relevante porque as mães, ao longo do tempo, elas são deixadas, sim. E isso é um assunto que a gente precisa tocar mais vezes: Não é de responsabilidade da mãe a criação de uma criança. É de responsabilidade da família e os pais precisam estar presentes, sim”.