Às vésperas da entrada em vigor do novo pacote tarifário anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil intensifica as negociações para evitar a aplicação da alíquota de 50% sobre diversos produtos nacionais. Em meio ao impasse, ganhou força uma proposta apresentada pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Guilherme Coelho: a exclusão de alimentos do chamado “tarifaço”.
Durante reunião em Brasília com representantes do Governo Federal e de setores do agronegócio, no último de 15 de julho, o presidente da Abrafrutas alertou para os impactos devastadores que a sobretaxa pode causar à fruticultura exportadora brasileira, especialmente às vésperas da colheita da manga. Coelho argumentou ainda que taxar alimentos é prejudicial tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos.
A defesa feita por Guilherme Coelho parece ter encontrado eco entre os negociadores brasileiros e as autoridades norte-americanas. Em entrevista à CNBC, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou que Trump considera aplicar tarifa zero para alimentos que não são produzidos no país, citando explicitamente manga, abacaxi, café e cacau. “Se fizermos um acordo com um país que cultiva manga ou abacaxi, eles podem entrar sem tarifa”, disse o secretário, classificando esses itens como “recursos naturais”.
Apesar da sinalização positiva, Lutnick não mencionou diretamente o Brasil nas tratativas. O país é um dos principais fornecedores de frutas tropicais, como a manga, que teve 14% do volume exportado em 2024 destinado ao mercado norte-americano, segundo dados da Abrafrutas. O setor representa 12% do faturamento total das exportações brasileiras de frutas.
Com o prazo se encerrando nesta sexta-feira (1º de agosto), cresce a pressão para que o Brasil consiga ao menos excluir os alimentos da lista de produtos taxados. Até o momento, o governo norte-americano confirmou acordos apenas com países como Reino Unido, União Europeia, Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã — todos com tarifas inferiores aos 50% previstos para países com os quais não houver acordo.
No campo diplomático, o Brasil mantém comitiva de senadores em Washington tentando abrir canais com o Congresso americano. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad, lidera o grupo e já confirmou reuniões com parlamentares democratas e republicanos. Paralelamente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também está nos EUA, mas ainda sem contato com representantes da Casa Branca.
Enquanto isso, o presidente Lula e os ministros Fernando Haddad e Geraldo Alckmin preparam planos de mitigação para os setores mais atingidos, caso a sobretaxa seja aplicada integralmente. A esperança agora está em um gesto de Trump, que ainda pode excluir oficialmente os alimentos do tarifaço — exatamente como sugeriu Guilherme Coelho.