Na sessão de hoje (05) da Câmara Municipal de Petrolina, os vereadores debateram sobre a falta de mão de obra na fruticultura do Vale do São Francisco e o papel do Bolsa Família nesse contexto. O debate evidenciou divergências de opinião entre os parlamentares sobre como o programa federal impacta o setor agrícola e a dignidade do trabalho rural.
O vereador Gilmar Santos (PT) criticou a narrativa que associa o Bolsa Família à falta de trabalhadores na fruticultura. Para ele, o problema não é o programa social, mas a remuneração insuficiente oferecida aos trabalhadores. Gilmar pontuou que “é indigno acordar às 4h da manhã para ser explorado com o mínimo do mínimo”, defendendo que o salário mínimo justo deveria ser de mais de R$ 5 mil para atender às necessidades reais dos trabalhadores. Ele também desmentiu informações, que considera “fake news”, sobre o Bolsa Família impedir a assinatura de carteira: “É mentira que quem recebe Bolsa Família não pode ter carteira assinada”, afirmou, explicando que a lei permite essa possibilidade, desde que o benefício não ultrapasse a renda per capita de R$ 218.
Por outro lado, Ronaldo Silva (PSDB) destacou o esforço dos produtores e o impacto da falta de mão de obra na produção. Ele elogiou a iniciativa do ex-deputado Guilherme Coelho, que trabalha em uma proposta para garantir que trabalhadores safristas possam manter o Bolsa Família ao assinar a carteira. Segundo Ronaldo, “não é justo fichar a carteira por seis meses e depois passar o resto do ano sem o benefício”, defendendo que a medida ajudaria os trabalhadores a obterem maior estabilidade financeira.
O produtor Gilberto Melo (União), também vereador, ressaltou as dificuldades que ele e outros empresários enfrentam para encontrar mão de obra. Para ele, uma parcela dos trabalhadores, ao contar com o benefício do Bolsa Família, “não quer ter o compromisso de estar todos os dias em uma fazenda, fazendo atividades pesadas como poda e colheita de uva.” Ele contou que alguns empresários estão buscando mão de obra em outros estados e até mesmo fora do país, e mencionou que alguns empregadores chegam a deixar dinheiro para passagem como incentivo para que os interessados compareçam para uma entrevista, tamanho o desafio de recrutar trabalhadores locais.
O debate se aprofundou quando Gilmar Santos voltou a defender que o Bolsa Família é um instrumento de enfrentamento à desigualdade e citou dados que, segundo ele, demonstram que o programa incentiva o trabalho formal, com mais de 800 mil beneficiários empregados no primeiro semestre deste ano. Ele questionou a lógica de que alguém que recebe R$ 600 pelo benefício recusaria um salário de R$ 1.412, argumentando que o problema está mais relacionado às condições de trabalho e não ao Bolsa Família em si.
O vereador Manoel da Acosap (União) defendeu que é necessária uma revisão no formato do programa. Para ele, a unificação dos benefícios criou complicações e ele sugeriu a volta de auxílios segmentados, como o Vale Gás e o Bolsa Escola, além do Bolsa Família. Ele parabenizou Guilherme Coelho pela proposta de alteração na lei e reforçou que “quem tem baixa renda precisa de complemento do governo”, para viver de forma digna, mesmo trabalhando de carteira assinada.
O debate terminou com mais um contraponto de Gilmar Santos, que reforçou a questão de que, do ponto de vista econômico, é mais vantajoso trabalhar formalmente do que depender exclusivamente do benefício social, desde que haja um salário digno. Ele voltou a questionar a lógica de priorizar R$ 600 em vez de um salário maior e defendeu que o foco do debate deve ser a distribuição dos lucros no setor agrícola, onde, segundo ele, uma minoria de empresários lucra enquanto a maioria dos trabalhadores não é devidamente valorizada.
Vale lembrar que as regras do Bolsa Família permitem que beneficiários tenham carteira assinada por até dois anos sem perder o auxílio, desde que a renda per capita da família não ultrapasse R$ 218 mensais.