O que era para ser apenas uma votação simbólica para homenagear um agente de saúde com forte atuação no interior de Petrolina se transformou num dos episódios mais tensos — e emocionais — da atual legislatura da Câmara de Vereadores. O Projeto de Lei nº 042/2025, de autoria da vereadora Rosarinha Coelho, que batiza a Unidade Básica de Saúde do KM-25, no Projeto Maria Tereza, com o nome de Edinaldo Ferreira da Silva, foi aprovado nesta terça-feira (13) por 14 votos. Mas o caminho até lá foi turbulento.
O clima entre os parlamentares estava azedo desde a sessão anterior, quando a autora da proposta subiu o tom contra a mesa diretora ao cobrar celeridade para apreciação da matéria. A cobrança pública incomodou parte dos vereadores — inclusive aliados — e quase provocou um boicote à votação, que exigia maioria absoluta (12 votos).
Na tribuna, Rosarinha admitiu que pode ter se excedido, atribuindo sua postura à emoção. Visivelmente comovida, ela reforçou o histórico do homenageado: líder comunitário, agente de saúde e figura ativa na luta por melhorias para a UBS. “Eu não tive intenção de machucar ninguém. Quando vi os textos antigos dele pedindo a construção da nova unidade, percebi que não poderia haver homenagem mais justa”, disse, ao lado da família de Edinaldo presente na sessão.
Mas o apelo emocionado não apagou os ruídos. O vereador Manoel da Acosap criticou duramente a condução política de Rosarinha, acusando-a de não dialogar nem mesmo com seus colegas de partido, o União Brasil. “Vossa excelência é líder do partido e nunca reuniu a bancada. Aqui, quando a gente quer voto, tem que pedir. Diálogo é o caminho”, disparou.
A crítica foi reforçada por Ronaldo Silva, que se disse “envergonhado” ao ver a base governista dividida publicamente por uma questão que, segundo ele, deveria ter sido resolvida nos bastidores. O vereador ainda revelou que foi procurado por aliados da própria autora para votar contra a matéria, o que classificou como “falta de respeito”.
Diante da tentativa de Ronaldo de “semear a discórdia” na base situacionista, o líder do governo tratou de afastar qualquer sombra de ruptura, assegurando a união do seu grupo.
E mesmo após críticas duras à vereadora Rosarinha, Gabriel Menezes votar favoravelmente ao projeto “não pela autora, mas pelo homenageado”. Menezes, que chegou a cogitar a abstenção, destacou a memória de Edinaldo. “Eu ia votar contra pela sua pela vossa, me perdoe, irredutibilidade. Mas eu fui convencido aqui pelos colegas e vou votar [favorável], não é porque o projeto é da senhora, mas pelo homenageado, por Ednaldo. Eu não o conheci, não tive a honra de conhecer Ednaldo, mas recebo dele dele as melhores informações, isso já foi relatado aqui”.
Além disso, Gabriel fez um apelo para que disputas políticas não contaminem os legados das lideranças comunitárias, alfinetando a fala de Ronaldo Silva. “Não se deixem levar por aqueles que ficam querendo lacrar em cima da bancada de situação. Nós estamos unidos, estamos coesos. Não se deixem levar. Às vezes, no afã de receber o aplauso, assim no calor da emoção algumas pessoas faltam até com o próprio respeito, com o próprio caráter. Mas recebam o abraço de toda essa casa”, disparou.
Entretanto, a outra parte da polêmica tem outro nome e sobrenome: Ronaldo Souza (Cancão). Ele havia apresentado antes um projeto para homenagear Dona Joana, também ligada à liderança comunitária no Maria Tereza. Após desentendimentos com Rosarinha, retirou sua proposta. Na sessão desta terça, ele afirmou ter superado a situação, mas deixou claro o desconforto causado. “Mexeram com meu ego, com meus sentimentos. Tenho quatro mandatos e uma história nessa cidade. Assédio de trabalho eu não admito”, desabafou, revelando que ficou mal em casa após a repercussão negativa do caso.
Apesar das farpas e da tensão, o projeto passou com 14 votos — dois a mais que o necessário — e a UBS do KM-25 agora leva oficialmente o nome de Edinaldo Ferreira da Silva. No fim, ficou a lição repetida por vários parlamentares: política se faz com diálogo e homenagem não deveria ser palco de guerra.