China libera carne bovina do Brasil certificada antes do embargo

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Após semanas de consultas técnicas, a China liberou a entrada de lotes de carne bovina do Brasil que haviam recebido certificação sanitária antes da suspensão das exportações brasileiras, anunciada no dia 4 de setembro. O anúncio foi publicado nesta terça-feira (23) pela Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês).

Entretanto, o embargo às exportações, que entrou em sua décima-segunda semana, continua em vigor. Uma vez que o processo de coleta de informações por parte dos chineses já passou por várias rodadas de consultas detalhadas, a expectativa no lado brasileiro é que as vendas possam ser retomadas em breve, mas ninguém arrisca cravar uma data.

Ainda que essa incerteza continue a provocar ansiedade entre os produtores em relação ao maior mercado importador de carne bovina do Brasil, a liberação anunciada pela GACC nesta terça representa um alívio para os exportadores. Isso porque, sem o aval das autoridades chinesas os frigoríficos não sabiam o que fazer com cargas que já tinham a China como destino antes da suspensão, se deveriam esperar o veredicto final sem saber quando ele viria, encaminhá-las de volta para o Brasil ou desviá-las para outro mercado. Uma das dúvidas das autoridades chinesas era em relação à data da certificação dos lotes, mas o governo brasileiro garantiu que ela havia sido feita antes da identificação dos casos.

Na estimativa da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) o volume total  de carne bovina brasileira que se enquadraria nessa situação é de pouco mais de 100 mil toneladas. Mas o número talvez tenha mudado, pois a incerteza pode ter levado exportadores a alterar o destino das cargas. O impacto da suspensão para o setor foi significativo, resultando em uma queda de 43% nas exportações de carne bovina brasileira em outubro, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A liberação anunciada pelo GACC nesta terça desperta otimismo em relação ao fim do embargo, pois indica “uma certa confiança” das autoridades chinesas no processo de fiscalização sanitária do Brasil, disse um exportador, pedindo para não ser identificado. A partir disso, é viável supor que a China poderá voltar a autorizar a entrada da carne bovina brasileira até o fim do ano, disse.

Em cumprimento ao protocolo sanitário assinado com o país asiático em 2015, as exportações para a China foram suspensas pelo Brasil no dia 4 de setembro, após a identificação de dois casos atípicos do mal da vaca louca, um em Belo Horizonte (MG) e outro em Nova Canaã. Desde então, o governo brasileiro vem mantendo intensas consultas técnicas com as autoridades chinesas para fornecer as informações necessárias à reabertura do mercado, mas o nível de detalhamento dos dados exigidos tem prolongado a suspensão.

A demora causou surpresa no lado brasileiro, que inicialmente apostava num embargo de no máximo duas semanas, a exemplo do que ocorrera em 2019, quando as exportações para o país asiático foram suspensas devido a um único caso atípico de EBB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, nome técnico do mal da vaca louca).
De acordo com fontes do setor, diversos fatores contribuíram para tornar o fim do embargo mais difícil neste momento, entre eles as medidas sanitárias mais rígidas adotadas na China por conta da pandemia de Covid-19, o momento político sensível no país e pressões no mercado doméstico. Somando-se a isso, alguns apontam que as declarações contra a China feitas pelo presidente Jair Bolsonaro tampouco ajudam. O esforço diplomático para reabrir o mercado chinês incluiu uma carta da ministra da Agricultura Tereza Cristina e uma conversa entre os chanceleres dos dois países, no mês passado. Essas gestões ajudaram a agilizar a troca de consultas entre os técnicos chineses, mas o nível de detalhamento exigido pelas autoridades chinesas tem surpreendido os brasileiros.

Somando-se ao esforço do governo, o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China no Congresso Nacional, enviou uma carta no início do mês ao presidente chinês, Xi Jinping, pedindo a retomada das exportações e o licenciamento de novos frigoríficos brasileiros. Na carta, Pinato afirma que os prejuízos para a economia brasileira poderão chegar a R $10,1 bilhões caso o embargo perdure até o fim do ano.

(O Globo)