Compesa admite que só em 2026 haverá estabilidade no abastecimento de Petrolina

0

A falta de água em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, voltou a mobilizar moradores durante a semana. Com temperaturas acima dos 38ºC e registros de torneiras secas em diversos bairros, como Areia Branca, Jardim Maravilha, Novo Tempo, João de Deus e Pedra Linda, lideranças comunitárias organizaram protestos cobrando providências imediatas da Compesa.

O assunto também gerou debates na Câmara Municipal, onde vereadores criticaram a gestão estadual e pediram prazos concretos para a solução do problema.

Em entrevista, o gerente regional da Compesa, Alex Chaves, explicou que o agravamento da crise está ligado à queda da vazão do Rio São Francisco, ao aumento do consumo com o calor e também às limitações estruturais do sistema de abastecimento da cidade.

“No dia 22 de setembro, a defluência de Sobradinho caiu de 1.100 m³ por segundo para 830 m³ por segundo. Foi uma redução de 22%. E isso justamente no momento em que a cidade precisava de mais água por causa das altas temperaturas. Com menos volume no rio, nossas bombas captaram até 15% a menos de água”, detalhou.

O gerente lembrou que parte da estrutura utilizada em Petrolina tem mais de cinco décadas.

“Sessenta por cento da cidade depende da ETA 1, construída há 50 anos. O sistema foi pensado em outro contexto, com um único reservatório que serve tanto para a distribuição de água quanto para a lavagem dos filtros. Isso obriga paradas diárias, o que gera interrupções, principalmente à noite, como moradores já relataram em bairros como Vila Eduardo”, disse.

Segundo Chaves, além da baixa no rio, a companhia tem enfrentado problemas com vegetação na captação.

“Com a redução do nível, há mais arrasto de material e baronesas. Isso perturba a margem e acaba chegando às bombas. Muitas vezes precisamos parar o sistema, como ocorreu de 5h às 7h20, quando a vazão caiu para 517 litros por segundo, uma perda enorme”, afirmou.

Apesar das dificuldades, ele garantiu que investimentos já estão em andamento. A principal obra é a construção da nova Estação de Tratamento de Água São Francisco, que terá capacidade de 400 litros por segundo.

“Essa ETA está sendo fabricada em Minas Gerais, já tem módulos de filtro em trânsito para Petrolina, e aqui estamos construindo a base para receber o equipamento. Será um reforço essencial para o sistema”, ressaltou.

Outra ação emergencial é a compra de bombas flutuantes para reduzir a dependência do nível do rio.

“Esse será o último verão com esse tipo de problema. Com os flutuantes e com a modernização da nossa captação, não ficaremos mais reféns da variação do São Francisco. Estamos aproveitando os recursos liberados pelo programa Águas de Pernambuco para acelerar esse processo”, declarou.

No entanto, a população deve continuar enfrentando oscilações até que as obras mais robustas sejam concluídas.

“Em 2025 não conseguiremos estabilizar totalmente. Só em 2026 entraremos com os incrementos estruturais que vão dar segurança ao abastecimento. Até lá, suspensões pontuais ainda podem ocorrer”, admitiu.

De acordo com a Compesa, mais de R$ 100 milhões estão sendo investidos em Petrolina e municípios vizinhos, incluindo Izacolândia e Lagoa Grande. As ações envolvem a recuperação de reservatórios, modernização de estações elevatórias e substituição de bombas.

“Estamos fazendo também micro obras, com nossa própria equipe, para separar a lavagem dos filtros do sistema de distribuição. Isso vai reduzir as interrupções e dar mais autonomia. E no retrofit das três ETAs – 1, 2 e Vitória – teremos uma reforma profunda, com tecnologia moderna e maior eficiência”, completou Chaves.

A promessa é que bairros crônicos, como João de Deus e Novo Tempo, tenham melhorias graduais ao longo de 2025, mas a solução definitiva virá apenas quando a nova ETA estiver em funcionamento e os novos reservatórios concluídos.