O leilão da concessão parcial da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), realizado nesta quinta-feira (18) na bolsa de valores B3, em São Paulo, marcou um dos movimentos mais relevantes da história recente do saneamento em Pernambuco. O processo, conduzido pelo Governo do Estado com apoio do BNDES, superou as expectativas financeiras e estabeleceu as bases para um novo modelo de prestação de serviços de água e esgoto, com foco na universalização até 2033.
Ao todo, os grupos vencedores — Consórcio Pernambuco Saneamento e Pátria Investimentos — assumiram o compromisso de investir cerca de R$ 19 bilhões ao longo de 35 anos na distribuição de água, além da coleta e tratamento de esgoto. A Compesa seguirá responsável pela produção e tratamento da água, mantendo-se como empresa pública estratégica. Somam-se a isso R$ 4,2 bilhões em outorgas, pagos ao Estado, elevando o volume total de recursos envolvidos para R$ 23,2 bilhões, que serão direcionados prioritariamente a ações de saneamento e infraestrutura.
Como foi estruturado o leilão
O projeto foi dividido em dois blocos regionais, o que permitiu atrair empresas com diferentes perfis e ampliar a competitividade. O primeiro bloco, Região Metropolitana do Recife (RMR) – Pajeú, abrange 150 municípios, além de Fernando de Noronha, e foi vencido pelo Consórcio Pernambuco Saneamento, formado pelas empresas Acciona e BRK, com outorga de R$ 3,5 bilhões e previsão de R$ 15,4 bilhões em investimentos. O segundo bloco, Sertão, composto por 24 municípios, foi arrematado pelo Grupo Pátria Investimentos, com outorga de R$ 720 milhões e investimentos estimados em R$ 2,9 bilhões.
No total, oito empresas apresentaram quatro propostas, um número considerado elevado para projetos de saneamento, o que contribuiu para o resultado acima do esperado. Segundo o governo estadual, trata-se da maior concessão realizada pelo BNDES em 2025.
Um processo construído com diálogo
Antes de chegar à B3, o projeto passou por um longo processo de discussão pública. Foram 58 dias de consulta, audiências em diferentes regiões do Estado, debates na Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O modelo recebeu 1.012 contribuições, o maior volume já registrado em projetos de saneamento estruturados com o BNDES. Muitas dessas sugestões foram incorporadas ao edital final, que também passou pela análise do Tribunal de Contas do Estado e pela aprovação das microrregiões de água e esgoto.
Esse percurso foi destacado pelo governo como um diferencial do projeto, que buscou garantir segurança jurídica, participação dos municípios e fiscalização permanente dos contratos.
O que muda a partir de agora
Com os contratos assinados, inicia-se uma nova etapa. As empresas concessionárias passam a responder pela expansão das redes de distribuição de água e esgotamento sanitário, enquanto o Estado mantém a produção da água sob responsabilidade da Compesa. Os contratos preveem ainda R$ 770 milhões adicionais destinados exclusivamente à ampliação da capacidade de produção de água, reforçando o sistema em regiões historicamente afetadas pela escassez.
O governo estadual afirma que os recursos das outorgas não serão usados para despesas correntes. Todo o valor será reinvestido em saneamento, com prioridade para ampliar o acesso à água tratada, especialmente em cidades onde o abastecimento é irregular ou inexistente.
A governadora Raquel Lyra destacou que o objetivo central é enfrentar um problema estrutural. Para ela, a concessão não é apenas um modelo econômico, mas uma decisão política. Segundo a gestora, garantir água na torneira é uma condição básica para a democracia e para a dignidade da população.
Metas e fiscalização
O projeto está alinhado ao Marco Legal do Saneamento, que estabelece como meta nacional atingir 99% de cobertura de abastecimento de água e 90% de coleta e tratamento de esgoto até 2033. Para acompanhar esse processo, o Estado informou que será montado um sistema de fiscalização rigoroso, com acompanhamento técnico contínuo do desempenho das concessionárias.
Autoridades estaduais reforçam que o sucesso da concessão dependerá não apenas dos investimentos anunciados, mas da execução efetiva das obras e da melhoria gradual dos serviços prestados à população.
Impactos esperados
Além da ampliação do acesso à água e ao esgotamento sanitário, o governo e o BNDES apontam impactos diretos na saúde pública, na geração de empregos e no desenvolvimento econômico dos municípios. A expectativa é que as obras comecem a gerar efeitos imediatos na economia local, ao mesmo tempo em que constroem soluções estruturantes de longo prazo.
Com o leilão concluído, Pernambuco entra agora na fase decisiva: transformar os números expressivos do papel em melhorias concretas no dia a dia da população, especialmente nas regiões que convivem há décadas com a falta de água e de saneamento básico.



