Um dos principais desafios técnicos impostos pela pandemia de Covid-19 no País é a eficiência dos sistemas de informação em saúde. Dados como número de casos e óbitos em níveis estadual e municipal são fundamentais para a tomada de medidas de flexibilização social. No entanto, as plataformas usadas no Brasil têm cobertura e qualidade variável e podem levar até sete semanas para registrar os dados e divulgá-los em boletins epidemiológicos, conforme mostra estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na quinta-feira (20).
Os dados da doença são coletados pelo serviço de saúde e registrados em dois principais sistemas de informação do Ministério da Saúde: o Sivep-Gripe e o e-SUS VE, este último lançado especialmente para os registros da pandemia. A diferença entre as datas nesses dois sistemas é que pode ser de até 50 dias, de acordo com a Fiocruz. O Ministério da Saúde usa os dados do e-SUS VE para produzir os boletins epidemiológicos divulgados diariamente.
Em cinco estados, aponta a Fiocruz, os dados oficiais registraram o número máximo de casos de Covid-19 nesse prazo de mais de 50 dias depois de ter efetivamente acontecido. É o caso de Amapá, Maranhão, Paraíba, Rio de Janeiro e Rondônia.
O último boletim de Pernambuco, informado na quinta-feira pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), ainda notifica, por exemplo, óbitos ocorridos em 12 de julho, 38 dias antes da data do informe. Com o atraso, o pico de casos e óbitos da Covid nos estados encontra discrepância, como traz a nota técnica da Fiocruz.
No caso de Pernambuco, a diferença é de 13 dias entre o registro de pico de mortes no Sivep-Gripe e no boletim. No primeiro, foram 134 óbitos no dia 14 de maio e, no segundo, 140 mortes em 27 de maio. Em relação ao número de casos, a máxima ocorreu em 16 de maio, segundo o boletim do Ministério da Saúde, com 2.279 casos, mas no dia 1º de julho, de acordo com o e-SUS VE, com 1.532 casos – uma diferença de 46 dias.
A Fiocruz ressalta que a diferença entre os registros não é necessariamente resultados de falhas técnicas e operacionais, mas dos desafios impostos pela complexidade da pandemia em um país tão grande e diverso como o Brasil. “Não é possível apontar uma única causa para explicar essas discrepâncias. Trata-se da soma de vários fatores, alguns deles complexos, que demandariam uma investigação mais detalhada”, explica o epidemiologista do Fiocruz que participou do estudo, Diego Xavier, em entrevista ao site oficial da instituição. (Fonte: Folha PE)