Em entrevista ao programa Nossa Voz nesta quarta-feira (16), o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, detalhou ações e projetos estratégicos voltados ao desenvolvimento sustentável do Nordeste. Um dos principais focos da conversa foi a construção de uma agenda regional de economia circular, uma proposta alinhada às novas exigências globais de sustentabilidade e uso consciente dos recursos naturais.
“A sociedade hoje exige um novo modelo de desenvolvimento, que vá além da lógica linear de extrair, usar e descartar. Precisamos avançar para uma economia circular, que reaproveite recursos e gere menos impacto ambiental”, explicou Cabral. Segundo ele, a Sudene realizou nesta semana um seminário regional com representantes de diversos setores — governos, bancos de fomento e setor produtivo — para discutir oportunidades de desenvolvimento sustentável com geração de emprego e renda.
O superintendente destacou o potencial da região para geração de energia limpa e uso de resíduos da fruticultura irrigada, como no Vale do São Francisco, para produção de biogás. “O Nordeste é hoje um celeiro de energia renovável. Precisamos aproveitar isso também para impulsionar uma economia verde.”
Investimentos, incentivos fiscais e geração de empregos
Durante a entrevista, Danilo também falou sobre a aprovação de incentivos fiscais para 11 novas empresas que vão se instalar no Nordeste, com investimentos estimados em R$ 65 milhões. Os setores contemplados vão de alimentos ao têxtil e derivados de petróleo. “Esse é um mecanismo essencial para reduzir desigualdades regionais. Com a renúncia de até 82% do imposto de renda, as empresas investem aqui e geram empregos. Já são mais de 1 milhão de postos de trabalho criados com apoio dos incentivos da Sudene”, afirmou.
Outro ponto de destaque foi a negociação de um aporte de 100 milhões de euros com agências europeias para fortalecer o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE). Cabral revelou que a Sudene também já garantiu US$ 300 milhões junto ao banco dos BRICS (NDB), presidido por Dilma Rousseff, e negocia com o Banco Mundial e o BID. “O foco desses recursos é ampliar investimentos em infraestrutura, como a ferrovia Transnordestina, que é uma prioridade para a logística regional.”
Sobre a Transnordestina, o superintendente informou que o trecho entre Salgueiro e Suape, excluído da concessão no governo passado, será retomado com recursos públicos. “O projeto está sendo atualizado e a previsão é iniciar as obras no final deste ano ou início de 2026. O trecho pernambucano tem orçamento estimado em R$ 4 bilhões, e o Governo Federal já assegurou R$ 400 milhões para começar”, pontuou.
Interiorização e fortalecimento da gestão municipal
A Sudene também tem como prioridade a interiorização do desenvolvimento, com foco em cidades estratégicas do semiárido. “Queremos facilitar o acesso a recursos para municípios menores e menos industrializados. A política é levar desenvolvimento para o interior”, afirmou Cabral.
Ele citou ainda a parceria com o IBGE para capacitação de gestores municipais e uso de dados para planejamento local. “Instalamos uma base do IBGE na Sudene. Isso é inédito. E estamos oferecendo formação aos prefeitos para que conheçam e usem melhor as informações sobre seus territórios.”
Inovação no turismo e apoio ao enoturismo no São Francisco
Outro ponto destacado foi a parceria com a Embratur e o Porto Digital para estimular soluções inovadoras no setor de turismo. “Vamos investir quase R$ 3 milhões para conectar startups a demandas do setor turístico, como hotelaria, gastronomia e transporte. O objetivo é qualificar o atendimento, gerar mais valor e atrair visitantes”, disse.
O superintendente ainda mencionou ações voltadas ao enoturismo no Sertão do São Francisco, com incentivo a empreendedores da cadeia vitivinícola. “Temos quase 12 vinícolas na região. A Sudene está investindo para transformar esse potencial em uma marca regional e gerar oportunidades.”
Perspectivas políticas e avaliação do cenário estadual
Ao final da entrevista, Danilo Cabral comentou a movimentação do PSB em Pernambuco, em meio à realização dos congressos municipais, estaduais e o nacional, que deve eleger João Campos como presidente da sigla.
“O PSB tem um papel histórico na defesa da democracia e deve continuar a contribuir com a reconstrução do Brasil ao lado do presidente Lula. Em Pernambuco, sentimos que há um sentimento de frustração com o atual governo, e o partido está pronto para dialogar com esse desejo de mudança”, afirmou.