Um terço dos brasileiros se diz petista, enquanto um quarto se define como bolsonarista. No meio do caminho, grupos semelhantes se veem próximos de um polo ou de outro, enquanto 20% dos eleitores se posicionam num centro equidistante deles.
Este é o retrato da polarização que cindiu a sociedade brasileira desde o começo da campanha eleitoral deste ano, captado em uma nova pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 19 e 20 deste mês.
O pleito foi marcado pela inviabilidade de candidaturas afastadas das figuras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual, Jair Bolsonaro (PL), derrotado por 50,9% a 49,1% dos votos válidos no segundo turno de 30 de outubro.
A chamada terceira via, que ensaiou nomes como Luciano Huck, João Doria, Sergio Moro e por fim acabou encarnada em Simone Tebet (MDB), foi dizimada no processo —a futura ministra do Planejamento de Lula teve meros 4,1% dos votos. O sempre candidato Ciro Gomes (PDT), se colocando como polo alternativo, ficou com ainda menos espaço (3% dos válidos).
No levantamento, o instituto ouviu 2.026 pessoas em 126 cidades, com uma margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.
Os entrevistadores apresentaram uma escala de 1 a 5 para os ouvidos, sendo que 1 significa ser bolsonarista e 5, petista. Na primeira categoria ficaram 25% e na segunda, 32%. No nível 2, mais próximo do presidente derrotado, se declararam 7%, e no 4, rumo ao petismo, 9%.
Já 20% se veem ocupando o ponto 3, de distância igual de ambos os lados, que não se viu materializada em uma massa eleitoral na campanha. De forma que deve interessar novas lideranças buscando espaço nessa avenida de duas pistas, o eleitorado mais jovem (16 a 24 anos) é o que mais se vê nessa neutralidade (33% dos ouvidos).
De forma geral, a análise dos estratos populacionais da amostra do Datafolha mostra que as preferências seguem a identificação de grupos com o petista ou com Bolsonaro.
Assim, entre aqueles mais pobres, que ganham até dois salários mínimos, se dizem petistas 40%, ante 21% de bolsonaristas. Como na intenção de voto aferida ao longo do ano, a curva se inverte nas menos populosas camadas superiores de renda: 30% de bolsonaristas ante 24% de petistas entre quem ganha de 2 a 5 mínimos, 25% a 21% de 5 a 10 salários e 40% a 13%, respectivamente, entre os mais ricos (mais de 10 mínimos).
As clivagens regionais se repetem. Na fortaleza lulista do Nordeste, 44% se declaram petistas puros. Já no bolsonarista Sul, são 35% de aderentes do presidente. De forma também mais óbvia, 63% dos que votaram em Lula se dizem petistas, e 56% dos eleitores de Bolsonaro se dizem bolsonaristas.